Sueli trabalha no hotel Remanso, na metade da BR365. Sua mãe também
já tinha trabalhado lá e ensinara à filha, desde pequena,
que devia impor respeito àquele bando de homem sem paradeiro que passava
pelo local. Explicara que eles procuravam apenas por descanso, chuveiro e, se
possível fosse, uma companhia relaxante. E que não fosse ela!
A garota, desde então, se veste recatadamente e não sabe olhar
nos olhos. Disfarça, abaixa o olhar, não encara. Quando a mãe
se deu conta da bem sucedida boa educação que dera à filha,
descansou. Filha minha é exemplo, dizia ela, orgulhosa.
No restaurante, alguns caminhoneiros perguntam curiosos e excitados pela tal
garota que deixa polêmicas fitas de vídeo nos quartos, todos os
dias. Cada vez um show diferente.
Sueli sabe fingir, mas gosta mesmo é de arrancar a roupa todas as vezes
que faz a arrumação daquelas camas e sente o cheiro suado daqueles
desconhecidos. Leva a câmera dentro do cesto com lençóis
e faz daqueles quartos sujos seu pequeno estúdio de fantasias. A que
mais gosta é pintar as unhas dos pés de vermelho e se imaginar
de pernas ao alto, dentro de uma boleia.
Se existisse mesmo vida após a morte, a mãe já teria voltado
para buscar a garota e acabar, de uma vez, com tamanho desgosto.