Meia hora fingindo estudo, caneta à mão pinçando os sonhos
que a Academia não me exigiu, e eu me pergunto porque é que tenho
de refletir sobre a miscigenação, quando não é Varnhagen,
mas você o tema das minhas teses emocionais.
"Sentimento novo será sempre primavera, mesmo se o tempo fecha,
se chove, se o mar ressaca", é a única conclusão a
que posso chegar. E o instinto será também, ora essa. Onde há
brotação, há flor, há perfume, há o que se
pode ver surgir dúzias de vezes como se surgisse uma primeira vez. É
a lei da vida.
Sobre instintos é que, por ora, sou capaz de dissertar. E neles não
cabem as normas da ABNT, nenhuma configuração possível
ou linha metodológica recomendável. Os prazos que cumpro são
com a fome, com a sede, com o devir, com o frio e com o calor.
O que nasce dentro de mim, o que cresce, o que me remexe, atinge-me, assombra-me:
um instinto, uma perturbação a mais no corpo ou na alma. E se
me chega assim, arranha-me, arrancando, raiz por raiz, a paz, os furacões,
soprando terra, pêlo, nuca e capim.
Se brincas de formiga comigo, e afundas meus caminhos nas terras mornas do teu
pensamento, se inventas trilhas, carregando as folhas do meu desejo, eu rio,
porque sei que o tempo é sábio com as criaturas e com os seus
sonhos.
Nós é que muitas vezes nos rebelamos contra regras, decretos,
acreditando que pulsões e governos necessariamente se opõem. Queixosos
que ficamos, assumimos tão só instintos, e sumimos no mundo, das
ideias ou das vivências, como eu, hoje, aqui, nesse minuto escrito
e sentido. Mas nós é que muitas vezes pulamos etapas, queimamos
a alma, e nos esquecemos de que também a natureza - e por que não
nossos instintos? - regem-nos com a mesma autoridade com que nos regem as leis
das mais severas instituições.