Amanheceu sentindo o cheiro dos quinze anos. Um aroma virtual da seiva dos canaviais,
dos aguapés, dos cajueiros, dos sapotizeiros, dos jenipapeiros. A ele
vinha se ajuntar um outro mais exótico. Este podia não ser tão
poético, porém não era menos excitante: o de um misto de
queijo camembert e água sanitária. Que, depois de um gozo jamais
experimentado, refluíra e escorrera sobre sua pele, pela primeira vez,
numa manhã igual àquela, há precisamente seis lustros.
Essa insólita mistura de tantos e tão diferentes odores originava
múltiplas reações. Rubores, estremecimentos e intumescimentos.
Afluxos de volúpia perpassavam-lhe o corpo inteiro. O dia estava de bom-humor.
O sono de anteontem havia sido aplacado depois de uma noite calada. Apesar das
marcas discretas da passagem dos anos, não se manifestava nenhum vestígio
de nostalgia.
Acendeu um cigarro e atirou fora após duas tragadas. Presumia que estivesse
só, não tinha certeza. Levantou-se, tomou uma demorada ducha morna,
vestiu um roupão e foi à cozinha. Estava a empregada. Era uma
menina-moça entre a puberdade e a juventude. Pele trigueira, boca carnuda,
cabelos ruivos, olhos verdes e faceiros. Apesar da intensa excitação,
tratou de disfarçar: não se sentia à vontade para seduzir
meninas.
Pensou em se masturbar. Decidiu evitar por causa da sensação de
vazio que vinha depois. Pôs-se, mais uma vez sob o chuveiro. Agora com
a água numa temperatura próxima do zero. Pouco lhe valeu. Deixou
o quarto. Um quarto de hora mais tarde, as ondas de volúpia retornaram
com maior intensidade. O desejo era irreprimível. Voltou à cozinha.
A quase criança havia saído. Encontrou outra pessoa de quem se
acercou, abraçou e colou sofregamente, os lábios trêmulos
nos outros lábios, também trêmulos e mornos. Mal se beijaram.
Daí em diante não se separariam mais, até o último
espasmo. Sempre atracados, se encaminharam para o quarto, como se fossem travar
um violento combate corpo a corpo... Mais tarde nenhum dos dois entendeu como
conseguiram chegar até a cama.
Deitou-se de costas. O pênis vermelho e longo como um poste de carne rígida,
emitia mucosidades lúbricas e lubrificantes que os faziam delirar. Afastou
as pernas e o jardineiro penetrou-a até o âmago da sua alma feminina.
(20/06/2005)