A Garganta da Serpente
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Vestido de noiva

(Ricardo Porto)

Sábado, dezoito horas. Momento ideal para um casamento. O entardecer promete noite escura.

Ela sempre foi muito sonhadora. Seu maior desejo, desde menina, foi casar vestida de noiva. De branco, na Matriz, com flores de laranjeira e tudo. Tudo que teria direito; e faria por merecer.

Demorou um pouco, (segundo ela) mas um dia encontrou seu príncipe encantado.

Noivado, casamento, cerimônias; tudo marcado conforme manda o figurino.

Hoje, estamos aqui, amigos e parentes, vendo-a com seu vestido branco. O véu envolvendo seu corpo, fazendo-a parecer como se flutuasse entre alvas nuvens, e a grinalda coroando seu reinado de perseverança. Está como pretendia: maravilhosa.

Todos admitem: Está linda. Sempre foi bonita, mas nunca esteve tanto quanto parece hoje. Tinha que estar de branco, ela guardou sua inocência para o dia do casamento; queria fazer jus a esse vestido branco. E fez, até hoje conseguiu resistir aos anseios da juventude. Por isso merece usar o símbolo da pureza, que a deixa tão linda; mais do que sonhava ser.

O padre está resmungando aquelas palavras em latim, que ninguém presta atenção, enquanto todos os presentes, sem exceções, olham para ela.

O noivo, com o fraque preto do casamento, mal consegue segurar as lágrimas. A mãe dela não pode, nem tenta.

Muitos lembraram de sua paixão por flores. A capela está forrada com várias qualidades de buquês, a maioria, brancos, sua cor predileta.

Ela ficou realmente muito bonita, com seu vestido de noiva, todo branco. Será assim que lembrarão dela, depois que fecharem seu caixão.

O que ninguém saberá, é que hoje pela manhã, ela perdeu a cabeça - e algo mais - quando fomos naquele motel.

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