Sábado, dezoito horas. Momento ideal para um casamento. O entardecer
promete noite escura.
Ela sempre foi muito sonhadora. Seu maior desejo, desde menina, foi casar vestida
de noiva. De branco, na Matriz, com flores de laranjeira e tudo. Tudo que teria
direito; e faria por merecer.
Demorou um pouco, (segundo ela) mas um dia encontrou seu príncipe encantado.
Noivado, casamento, cerimônias; tudo marcado conforme manda o figurino.
Hoje, estamos aqui, amigos e parentes, vendo-a com seu vestido branco. O véu
envolvendo seu corpo, fazendo-a parecer como se flutuasse entre alvas nuvens,
e a grinalda coroando seu reinado de perseverança. Está como pretendia:
maravilhosa.
Todos admitem: Está linda. Sempre foi bonita, mas nunca esteve tanto
quanto parece hoje. Tinha que estar de branco, ela guardou sua inocência
para o dia do casamento; queria fazer jus a esse vestido branco. E fez, até
hoje conseguiu resistir aos anseios da juventude. Por isso merece usar o símbolo
da pureza, que a deixa tão linda; mais do que sonhava ser.
O padre está resmungando aquelas palavras em latim, que ninguém
presta atenção, enquanto todos os presentes, sem exceções,
olham para ela.
O noivo, com o fraque preto do casamento, mal consegue segurar as lágrimas.
A mãe dela não pode, nem tenta.
Muitos lembraram de sua paixão por flores. A capela está forrada
com várias qualidades de buquês, a maioria, brancos, sua cor predileta.
Ela ficou realmente muito bonita, com seu vestido de noiva, todo branco. Será
assim que lembrarão dela, depois que fecharem seu caixão.
O que ninguém saberá, é que hoje pela manhã, ela
perdeu a cabeça - e algo mais - quando fomos naquele motel.