Confesso que não sei usar celular. Só sei telefonar.
Uso-o de vez em quando por total necessidade, mas temos incompatibilidade de
gênios.
Ganhei um novo agora no Dia dos Namorados, visto que minha filha tinha vergonha
do meu antigo. Um mico, um gorila, segundo ela.
O bicho era preto, grande, feio, mas eu já estava acostumada com ele.
Que nem meu carro, um Fiat já bem usadinho, mas que eu adoro. Já
sei direitinho que ele vai falhar se eu ligar o ar-condicionado, já sei
que o cano de descarga vai despencar de novo naquela ladeira. Somos amigos inseparáveis
há dez anos.
Que nem marido quando a gente já fez bodas de prata, que nem empregada
com mais de um ano de casa! Já sabemos que se ele comer feijão
no jantar vamos ter que suportar o barulho do motor a noite inteira. Do mesmo
modo, a gente também passa a ter a certeza absoluta de que a cozinha
não foi lavada na sexta, e sim que foi apenas passado um paninho com
Veja limpeza ativa, perfume limão.
Pois é, o meu celular antigo já tinha virado amigo. Não
tinha outra função que não fosse a de ser telefone.
Esse novo é fodão. Fala até por mim. Acho que se eu apertar
alguma tecla que ainda não testei ele vai dar aula no meu lugar.
Bem, ontem resolvi ficar íntima dele. Parti logo para um desafio. Passar
um torpedo (a Luma conseguiu passar um monte para o bombeirão, por que
eu não?). Lembrei-me de uma amiga da praia, muito legalzinha, que adora
usar celular direto. Estou sem falar com ela há uns quinze dias, pois
aqui no Rio de Janeiro está chovendo todo final de semana. Só
nos vemos assim, ratas de praia, ambas adoramos um bronze.
Enviei:
- Carioca branca, precisa de calor. Adoro arder no inferno de Ipanema.
Não recebi resposta alguma. Conclui que estou na classe de alfabetização
daqueles botões.
Hoje, chegando ao trabalho, tinha um bilhetinho na minha mesa com um bombom.
- Pode vir quente que eu estou fervendo há um tempão. Em Ipanema,
amanhã, final da tarde, Bar do Tom. Gostosa... hum.. humm! Eu.
Olhei para meus colegas e não sei até agora de quem eu levei a
cantada.
O pior é que ele deve estar me olhando direto, certo de que eu é
que galinhei!
Coloquei um aviso no mural, tentando salvar um pouco minha imagem.
"Vendo um celular seminovo Vivo, por cem reais.
Informações ao vivo, pois o motivo da venda é não
saber usar o Vivo."
(2004)