Muitas vezes viajamos pelo tempo e vamos recordando pessoas e fatos.
Lembro que minha sobrinha quando criança criou um amigo imaginário
de nome Ninho. Não existia net, criou no seu cotidiano solitário
de filha única, e os dois brincavam, conversavam, brigavam, aquela amizade
de todos os dias. Por várias vezes ela me apresentou ao amiguinho, e
nas primeiras vezes sorri com ar de descrença, mas com o tempo fiz de
conta que o seu amiguinho fazia parte do meu dia a dia também, até
por perceber a importância dele na vida dela. Ela o via e o sentia de
acordo com suas carências. O tempo passou, e notei que o amigo fantasioso
já não comparecia mais todos os dias, mais algum tempo e ele caiu
no esquecimento total.
Um novo momento, talvez a escola deu o ultimato para a realidade, este é
um dos tributos que pagam os adultos.
Nos meus tempos de criança, um pneu velho se transformava em um carro
novo dos mais possantes, uma folha de eucalipto tornava-se dinheiro e sem inflação,
o guardanapo da mamãe virava a colcha da minha boneca, a peteca virava
índio e um soldadinho de chumbo tinha vida na minha vida.
Crescemos e descobrimos a net, aqui podemos transformar o feio em bonito, voltar
um pouquinho a ser criança. Encontramos amigos virtuais, bem-parecidos
com o Ninho dela, brincamos, brigamos, e aos poucos os dias ficam mais belos,
tempos menores, e puff, num passo de mágica a solidão acaba.
A diferença é que nossos Ninhos possuem coração
com ventrículos de verdade, não descartáveis a cada novidade
e a Internet não é fruto da nossa imaginação.
Ela é apenas a condução que nos leva ao amigo, que tem
vida própria dentro e fora de nossas vidas. Já era quem faz disso
apenas uma quimera.
(2005)