Minhas mil e umas noites?
Eu e o meu travesseiro gênio.
Dentro dele existia um túnel que unia o que eu vivia e o que
eu desejava em demasia viver. Quase todas as noites eu atravessava o mágico
corredor com todas as gamas, alfas e betas que um azul pode ter. Viajava
totalmente despida e me esbaldava no inalcançável. Invariavelmente engravidava
de ilusões. Na manhã seguinte retornava ao palpável pó de café e enquanto
esperava as torradas pularem para os braços da geleia, ficava imaginando
quantas luas precisaria para que nascesse meu novo sonho colorido. Eu o amamentaria
muitíssimo, até que ele ficasse madurado de tão sonhado e partisse incolor sem
vontade alguma de passar para o lado que eu vivia. Em algumas noites o danado
do túnel se fechou, geralmente quando percebia que o lado desejado
ultrapassaria o vivido. Não queria que eu me emprenhasse de ilusões, receava
que eu não visse mais luas, que dirá contá-las. Cauteloso temia que meu leite
secasse e que se tornasse impossível amamentar novos filhos de sonhos nos tons
da aquarela. Ele sempre se achou o sábio.
Sábio só até conhecer você, que derruba túneis num piscar de
olhos.
Nossas mil e duas noites? São pouquíssimas para nós.
Que tal tentarmos 2006?
Ainda assim serão poucas! Infinitas talvez.