Recordações! Bela palavra com que me deparo agora, no dicionário
da vida, sim muito bela, por significar recolocar em ação os sentimentos
do coração. Essa palavra reaviva em minha memória a sua
companheira chamada lembranças e em minha vida fui obrigado a ter de
associá-las à saudade e perda.
Eu jovem monarca no tabuleiro da vida, bem nascido e protegido por todos ao
meu redor, nem se quisesse conseguiria me movimentar devido a todos estarem
ali para me servir e proteger.
Mas o tempo foi passando e comecei a ganhar importância no jogo de minha
própria vida com isso os espaços foram se abrindo por minha vontade,
mesmo que isso custasse a convivência de pedras muito importantes para
o desenvolvimento de minha vida, mas pena que eu só vim a descobrir a
importância dessas pedras depois que elas se foram.
Os primeiros a se afastarem de mim foram os peões, peças pequenas
e sem muita visão que enxergavam apenas um palmo a sua frente, peças
que naquele momento não me fizeram falta porque eu só queria espaço,
espaço a qualquer custo. Em seguida fiz questão de eliminar de
minha vida os cavalos, sem perceber que me separando deles eu estaria jogando
fora minha infância, fato de que eu me arrependeria profundamente algum
tempo depois. Já sem meus cavalos e sem minha infância, para obter
mais espaço e menos regras eu precisava desfazer-me de minha religiosidade,
por isso, sem pensar nas consequência, as próximas peças
que eliminei do tabuleiro de minha vida foram os bispos. Naquele tempo eu ainda
não sabia o que era paz de espírito, se é que hoje eu saiba
o que isso significa, porém atualmente arrependo-me de Ter desperdiçado
estas importantes peças.
A próxima pedra de quem tive que me separar, essa contra a minha vontade,
foi a matriarca de meu jogo, aquela que desde o início se preocupou comigo
e sempre esteve ao meu lado nos momentos em que eu precisava. Essa brutal separação
contribuiu para deixar-me ainda mais revoltado e também para mostrar
a existência de um exército inimigo de negras pedras invisíveis.
Em meu tabuleiro, no apogeu de minha revolta desfiz-me de minhas torres, na
casa das quais eu me protegia. As minhas torres eram perfeccionistas ao extremo
nunca desviavam se percurso por nada sempre andava em linha reta sem sair do
caminho, e eu não queria isso para minha vida. Só mais tarde é
que eu fui perceber que todas eram assim.
Essa foi a minha vida. Desde o início até hoje nada de que eu
possa orgulhar-me, só restaram-me as lembranças daqueles que já
se foram e eu nem ao menos pude dizer abrigado pela ajuda. Mas vejam a incrível
jogada que só o jogador supremo podia reservar para minha vida, uma pedra
que sempre esteve ali e agora é transformada pela metamorfose do amor
para tornar-se minha companheira, a rainha de minha vida, para me acompanhar
até o fim na busca pela evolução de nossos espíritos
para que com honra e coragem terminemos nosso jogo da vida e possamos desta
forma alcançar a vida além do tabuleiro.