Linda, essa foi a única palavra que consegui pronunciar no momento em
que, pela primeira vez, vi Eleonora. Ainda me lembro, meu sangue primeiro congelou
em minhas veias, depois começou a ferver, borbulhando por todo o meu
corpo, me fazendo suar frio.
Eu estava enfeitiçado pelas belas curvas que ela exibia, fascinado pela
beleza interna que ela demonstrava e totalmente dominado pela personalidade
que dela emanava, enfim percebi: Estava apaixonado.
Só não entrei para conhecer melhor minha nova paixão,
que se chamava Eleonora, porque estava atrasado para pegar Christine no consultório
de psicologia onde ela trabalhava, pois justamente naquele dia era o nosso primeiro
aniversário de casamento e eu pretendia começar uma noite, com
minha amada esposa, fazendo uma surpresa e levando-a para um jantar à
luz de velas justamente no restaurante onde nos conhecemos. Mesmo assim, fui
embora com apenas uma certeza: Eleonora ainda seria minha.
No dia seguinte, fiz questão de passar pelo mesmo caminho do dia anterior
só para, novamente, poder ver Eleonora através daquela vitrine.
Durante toda a semana foi desta forma : Eu passava pela calçada e namorava
Eleonora pela vitrine, porém sem coragem de entrar, porque minha esposa
ainda não sabia de nada.
Eu precisava elaborar uma forma de contar para Christine sobre minha nova paixão
e a partir daí tentar fazer com que ela aceitasse o fato de eu possuir
Eleonora só para mim. Se conseguisse convencer minha esposa sobre a peça
que o cupido me pregara, ninguém, mas ninguém mesmo, seria capaz
de impedir que eu possuísse Eleonora.
No sétimo dia da neurose, causada pela minha obsessão, Christine
já estava mais do que desconfiada, afinal de contas era tanta diferença
em tão pouco tempo que qualquer uma suspeitaria, era lixo na rua, meias
e roupas sujas no cesto, pratos e copos lavados antes que ela chegasse do serviço,
a televisão sempre no canal que ela escolhesse, fosse novela ou programa
feminino, mas o estopim foi o fato de eu não ter ido jogar futebol com
os amigos no sábado à tarde só para ir com ela ao cinema
assistir a um filme que ela sabia que eu não gostava e só por
isso me convidou para ver qual seria minha reação a essa armadilha.Tudo
isso fez com que ela me fizesse a seguinte pergunta:
- Ricardo! Você quer me contar alguma coisa e não sabe como?
Conheço bem esse seu jeito ! fala logo o que você quer que eu não
aguento mais esse seu jeito de cachorro abandonado.
"Bem feito ! Quem mandou se casar com uma psicóloga, agora aguenta."
Essas seriam as palavras de minha mãe se ela estivesse aqui. Mamãe
que sempre foi contra o meu casamento. Porém, eu fiquei feliz, porque
finalmente poderia desabafar e contar para minha esposa sobre Eleonora e com
muita sorte e persuasão eu conseguiria convencê-la a aceitar o
fato de ter que me dividir com Eleonora.
A batalha argumentativa travada naquela noite foi muito dura, tão dura
que só teve fim no dia seguinte. Final feliz! Pelo menos para mim, pois
meus últimos argumentos não puderam ser combatidos por Christine,
afinal de contas todo sábado à tarde eu passava sozinho em casa
enquanto ela ia para a casa da mãe dela, tempo este em que eu poderia
me distrair com Eleonora, sem problema algum, por fim, o fato de que ela poderia
ir fazer compras ou até mesmo ir ao salão de beleza com Eleonora
deixaram-na sem argumentos.
Minha esposa, muito ardilosa e sábia, psicóloga como eu já
disse, tratou logo de tirar vantagem da derrota sofrida e com muita chantagem
emocional conseguiu me convencer, quer dizer, obrigar, a passarmos o final de
semana com os pais dela na casa de campo; porém eu não estava nem aí para isto, porque seria só
no final de semana; mas, naquele mesmo dia, sem mais demora, eu possuiria Eleonora.
Logo depois do almoço, nem me lembro do que foi servido naquele dia,
porque meu organismo não tinha forças para querer nada que não
fosse Eleonora, fui ao encontro da minha nova e avassaladora paixão.
Tenho de admitir que a princípio minha esposa ficou meio assustada com
Eleonora, mas depois de passado o susto minha companheira conjugal também
se encantou por minha nova paixão, o que selou, de uma vez por todas,
minha vitória naquela batalha travada entre marido e mulher para, por
que não? se instituir um triângulo amoroso e harmonioso entre todas
as partes.
O encantamento de Christine por Eleonora foi tamanho que ela disse:
- Senhor Armando, parabéns pela venda. Agora com a chegada de Eleonora
meu marido poderá se divertir melhor com ela e eu terei mais tempo a
sós com o senhor Boby, o outro carro da família, e afinal de contas
estávamos mesmo precisando de um carro novo, mesmo ele, desculpe, ela não seja tão nova assim. Mas um Landau
mil novecentos e oitenta, é pelo menos, um carro clássico e com
muita personalidade.