A Garganta da Serpente
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Eu, Ed Gein

(Ronygley Carvalho Fonseca)

Eu estava arruinado, perdido, a inspiração havia sumido. Os meus livros estavam encalhados nas lojas, os cineastas não queriam mais produzir filmes com os meus roteiros, o meu nome estava sumindo da mídia, eu estava perdendo o meu prestígio com o público e a editora na qual eu trabalhava advertira-me de que se eu não revertesse esta situação - o meu contrato seria reincidido. Eu precisava agir rápido e colocar o meu nome no topo da literatura internacional, porém não sabia como.

Eu não sabia o que estava acontecendo. Não sabia se era o público que não apreciava mais o gênero das histórias de terror, ou se eram as minhas histórias que não agradavam mais o público. (E em pensar que um dia eu fui sucesso no mundo inteiro!).

O que ainda me consolava eram o apoio e o carinho que eu tinha em casa da minha mãe e da minha esposa que sempre me deram força na minha carreira. Mas, esta fase ruim que eu atravessava estava abalando o meu equilíbrio psicológico, eram constantes os ataques de cólera e depressão-, o fato de perder a fama e a publicidade causava-me a síndrome do pânico.

Mamãe e Letícia, minha esposa, sofriam em silêncio ao me verem naquela situação de angústia e desespero. Procuravam de todas as formas me ajudar, me acalmar - pediram até que eu procurasse a ajuda de um psicólogo para tentar me controlar, pois, estando mais calmo - quem sabe se a inspiração voltaria e eu conseguiria me concentrar para escrever um novo bestseller.

Porém todas as tentativas foram inúteis-, eu reagia da forma mais grotesca que se possa imaginar, usando de expressões e linguagens desabridas para com as duas, isso, quando não as ameaçava de lhes bater ou até mesmo mata-las se continuassem a me amolarem a paciência.

Nada mais em minha volta me importava - família, amigos, "eu mesmo", estava cego, dominado e obcecado pela conquista, sem saber que a maior conquista é estar bem e em paz consigo mesmo e com as pessoas que amamos e que nos amam à nossa volta. Era um mal interior, sem nome, que me afligia e me cegava-, estava voltado de corpo, alma e mente com o único e exclusivo objetivo de criar uma grande história de terror que me colocaria no topo do sucesso.

Uma noite, quando eu estava na biblioteca de nossa casa fazendo pesquisas para criar a minha nova história, e já estava muito cansado e com sono, resolvi me deitar, guardei os livros e iria desligar o computador, pois já estava tarde. De súbito, hesitei e não desliguei o computador, instantaneamente, a palavra "eureca" surgiu na minha mente!

Eu acabara de ter a ideia perfeita para criar a minha história de terror e sair daquela situação. Lembrei-me que grandes clássicos do terror norte - americano como: Psicose, O massacre da serra elétrica e O silêncio dos inocentes foram todos inspirados na história real do maníaco homicida Ed Gein, que na década de 1950 aterrorizou a cidade de Planfield, aqui mesmo, no estado de Wiscousin.

Mas é claro, como não pensei nisso antes?"Perguntei a mim mesmo". Se estes filmes foram e são capazes de provocarem terror nas pessoas até nos dias de hoje e fazerem sucesso - aí está a solução, resolvido o problema, eu iria criar uma história tão assustadora ou mais que estas, ou quem sabe até mais assustadora que "O exorcista" talvez, mostrar ao público que o maior medo - o maior terror do ser humano está dentro de nós mesmos, guardado no lado mais obscuro da nossa mente. Pronto, agora eu estava feliz, encontrara a solução - ninguém mais me seguraria, estava decidido - iria criar uma besta tão assustadora, cruel e insana quanto Norman Bates de Psicose ou O massacre da serra elétrica, - viva!!!

Nesta madrugada, pouco dormi, pesquisando na internet e juntando material sobre Ed Gein para escrever a minha história. Pela manhã acordei feliz como uma criança, tinha na mente o projeto para escrever a história mais assustadora dos últimos tempos. Mamãe e Letícia gostaram, porém estranharam a minha felicidade e não entenderam nada - aquele era um dos momentos mais felizes de minha vida desde que a penúria começou a nos rondar.

Tomei o meu café da manhã, beijei as duas e fui para editora, porém não contei para elas o motivo da minha felicidade - queria fazer uma surpresa. Na editora apresentei o novo projeto ao editor, expliquei que desta vez eu tirara a sorte e grande e que esta história seria um grande sucesso - não teria como dar errado.

O editor fez votos de aprovação, achou a ideia criativa e não viu motivos para reprová-la, porém pediu detalhes de como a história seria produzida. Então eu expliquei que por ser uma história baseada em fatos reais - eu a escreveria justamente onde os fatos ocorreram para dar mais veracidade à história, ou seja, no sítio onde Ed Gein viveu e cometeu seus crimes, em Planfield.

A principio o editor não soube dizer se eu era louco ou muito corajoso, porém me deu carta branca para elaborar o livro e falou que assim que eu terminasse - trouxesse-o o mais rápido possível para editar e publicar os primeiros exemplares. Eu o agradeci e disse que não tinha medo e nem estava louco pelo fato de querer escrever o livro no sítio onde o maníaco viveu, pois o local dar-me-ia a inspiração que eu precisaria, eu sentiria a natureza - a essência dos fatos. Então me despedi e fui para casa dar a novidade para a minha mãe e esposa.

Para que o leitor entenda melhor qual era o meu propósito e não me julgue e compreenda os fenômenos sobrenaturais que me destruíram por completo, aqui vai um pequeno comentário sobre o maníaco homicida Ed Gein:

-Edward Theodore Gein (27.08.1906 - 26.07.1984) nasceu em Planfield, Wiscousin. Ele vivia num sítio com a mãe e o irmão Henry. Augusta Gein era uma mulher moralista e totalmente transtornada, exercia forte influência sobre os dois filhos, que eram obrigados a trabalhar somente no sítio e proibidos de ter contato com outras mulheres, além de tudo isso -, Augusta Gein era lésbica e vivia pedindo de joelhos para Deus matar o seu marido na frente das crianças. Um dia as preces de Augusta foram ouvidas e o marido morreu.

Pouco tempo depois a mãe e o irmão de Ed Gein também morreram e ele ficou pela primeira vez sozinho na vida, aos 39 anos, onde adquiriu gostos bem fúnebres. Para começar - ele empalhou o corpo da mãe e o ocultou no quarto onde às vezes ele se masturbava em cima do cadáver da velha.

Mais tarde, ele começou a procurar por corpos mais frescos. Para isso, Ed violava os túmulos do cemitério da cidade - apanhava os corpos, retirava a pele para fazer roupas e máscaras e à noite ia dançar ao luar com as vestimentas mórbidas. Porém, sua loucura não parou por aí-, ele continuou procurando por cadáveres mais frescos ainda.

Foi então que em Dezembro de 1954, Ed fez sua primeira vítima - Mary Hogan de 54 anos foi morta por ele a tiros. Três anos depois, em 1957, Ed fez sua segunda vítima - Bernice Horden, mas desta vez deixou pistas que o denunciaram (Ele deixou o caminhão estacionado à noite inteira no local do crime).

A polícia foi acionada - invadiu o sítio de Ed Gein e encontraram alguns desses artefatos feitos por Ed: quatro narizes no copo da cozinha, um crânio usado como prato de sopa, um coração humano no forno, nove vulvas dentro de uma caixa de sapatos, o corpo decapitado de Bernice pendurado e cortado igual a um cabrito, entre outros utensílios que não mencionarei para não me estender muito. Para resumir a história: um dia a cidade de Planfield acordou horrorizada e descobriu que tropeçou na fazenda da morte e que Ed Gein era bem mais que um simples fazendeiro. Ele foi declarado como insano em Dezembro de 1957 e enviado para o "Central State Hospital" de Wiscousin e morreu lá por causas naturais em 1984.

Ao chegar em casa dei a novidade para minha mãe e esposa. Expliquei que finalmente encontrara a inspiração que precisava para escrever meu livro. Falei que viajaria para a fazenda onde Gein viveu em Planfield para sentir de perto a essência dos fatos e gostaria que elas fossem comigo.

Com certeza, elas se recusaram em primeira instância, mas depois de muito conversarmos - eu consegui convence-las a irem comigo. Pobres criaturas, foram só para me agradarem, porém fizeram suas exigências, que foram aceitas por mim. Elas me acompanhariam, mas não iriam se hospedar na casa onde o maníaco viveu.

Nós viajamos para Planfield e elas se hospedaram numa pousada de um bairro vizinho. Eu peguei os meus materiais de trabalho e fui para o sítio de Gein, onde trabalhava, praticamente, o dia inteiro e só voltava para ficar com elas à noite, isso quando voltava. O lugar estava abandonado, fato que aludi a ninguém querer comprar um imóvel onde um psicopata como este fez uma verdadeira carnificina. Pessoas vizinhas da região acharam-me louco por permanecer escrevendo um livro baseado no assassino dentro de sua própria casa.

Porém, com o passar do tempo de minha chegada ao local-, fatos estranhos, nefastos e assustadores começaram a acontecer. Eu trabalhava incansavelmente no livro, mas às vezes tinha a impressão de que estava sendo observado na casa, ou tinha a impressão de ver vultos ao meu redor, porém o meu objetivo, como já falei, estava acima de tudo, de qualquer coisa, de qualquer medo, estava concentrado e não iria desistir àquela altura do campeonato.

Uma noite, eu estava num dos cômodos sombrios da casa, mas precisamente na sala, digitando um dos momentos mais cruciais do livro-, sentia-me angustiado, a atmosfera estava pesada - repressiva, de súbito tive a atenção despertada por um barulho que vinha do andar de cima - de um dos quartos para ser mais preciso. Com um certo receio fui ver o que era, talvez fosse algum animal, já que pessoa alguma, até onde eu sabia, não morava ali.

Cheguei até à entrada do quarto - o quarto de Gein eu acho, abri a porta e um assombro, apoderou-se, instantaneamente, de mim. Lá dentro, um homem de aparência hedionda, porém indefinida depositava um corpo dentro do guarda-roupa, mas o meu terror foi ver que o corpo ali presente era da minha querida mãezinha! O assassino tinha matado-a a golpes de facão no pescoço e na barriga, e ao que parecia, ele havia empalhado-a também - o cadáver estava nu! Dei um berro - gritando por socorro!

De súbito acordara debruçado por cima do note book, banhado de suor e com calafrios percorrendo todo o corpo. Meu Deus! "Exclamei" que pesadelo horrível, mas ainda bem que foi um sonho. Olhei para o relógio - eram quase duas da madrugada, desliguei o computador e dormi ali mesmo. Mas que transtorno, apesar de ser um pesadelo, pareceu ser tão real! Pensei em ligar para elas naquele momento para saber se estava tudo bem com ambas, mas hesitei, já estava tarde - faria isso no outro dia.

Com a chegada da manhã fui à lanchonete tomar café. Enquanto saboreava a minha refeição acompanhava pela TV, uma notícia pouca digestiva àquela hora da manhã -, o noticiário dizia que na noite passada uma das sepulturas do cemitério local havia sido violada e o criminoso roubou o cadáver-, o cadáver era de uma mulher que foi enterrada há pouco tempo. A polícia estava investigando o caso e contava com a colaboração de todos, não tinham visto nada parecido desde o caso de Ed Gein na década de 50.

Terminei o café e, em seguida peguei meu celular e liguei para a pousada onde mamãe e Letícia estavam hospedadas. O gerente me disse que elas saíram à noite passada e até o momento não voltaram e também não disseram para onde tinham ido. Agradeci e encerrei a ligação.

Achei o fato estranho e resolvi ligar para Letícia, porém o número chamou até cair na caixa postal. Eu desisti, pois pensei que se elas tivessem algum problema iriam me ligar, além disso, eu precisava continuar escrevendo o meu livro e não poderia parar para procurá-las, e o que poderia acontecer a elas naquela pacata cidade agrícola. Então voltei para dar sequência ao trabalho.

Ao chegar continuei escrevendo, tinha certeza que o livro iria vender milhares de exemplares, eu já estava vendo meu nome, novamente, nas manchetes dos principais jornais, e o meu livro daria até roteiro de cinema. De repente tive a concentração interrompida novamente por um barulho estranho que agora vinha do quintal, mas desta vez, eu não estava sonhando - estava bem acordado.

O barulho parecia ser produzido por alguém que estava abatendo com um machado ou facão algum animal. Aquilo me irritou de uma maneira que me fez levantar para ir lá fora tomar satisfação com a pessoa que estava atrapalhando o meu trabalho.

Chegando ao quintal conclui minhas dúvidas: vi que um homem de meia idade e figura indefinida acabara de abater um bode ou um cabrito com um facão e agora pendurava o animal cortado no galho de uma árvore. Havia muito sangue no local, o elemento decapitou sua vítima e as vísceras do animal jaziam no chão à minha frente. Àquela sujeira toda, juntamente, com a maneira primitiva que o sujeito abateu o animal, e o barulho que dispersou minha concentração me exasperam, ao ponto de indagar gritos ao sujeito:

- Senhor não acha que este é o local menos apropriado para abater seus animais, eu estou escrevendo um livro e preciso de todo o silêncio possível, quer se retirar daqui, por favor, - disse ao sujeito.

Ele, porém, olhou-me com sarcasmo, ignorando minha repreensão. O sujeito tinha uma aparência horrível, estava todo sujo com o sangue do animal e emitiu uma voz que me arrepiou: - saia do meu sítio se não quiser ter o mesmo fim dessas vadias!

- Do que é que está falando amigo? É melhor você se retirar daqui antes que eu chame a polícia ou eu mesmo o expulse daqui a socos e pontapés -, eu falei - aproximando-me do sujeito.

De repente, antes que eu pudesse me desviar - o elemento me acertou um soco no estômago e um golpe na cabeça com o cabo do facão. Eu caí inconsciente. Ao recobrar os sentidos não sabia por quanto tempo ficara desacordado, passei a mão na cabeça e percebi que tinha sangue.

Olhei em minha volta e não vi nem sinal do sujeito - ele sumira, porém deixara o seu facão sujo de sangue no local da agressão. Quem seria aquele biruta?"Perguntei comigo".

Será que este sujeito que me atacou seria o mesmo que eu vi no noticiário - o elemento que violou o túmulo no cemitério? Sim, isso era possível, talvez ele fosse algum maluco que estava à solta por aí e resolveu se esconder aqui! E, se isso fosse verdade - eu estaria correndo perigo. O sujeito me agrediu e ainda poderia estar escondido nos arredores do sítio!

Apanhei o celular e acionei a polícia - disse que tinha pistas do elemento suspeito de violar a sepultura do cemitério à noite passada. Dei o endereço do local onde eu estava e falei que esperaria os policiais. Resolvi entrar para continuar escrevendo o livro até que os policiais chegassem, mas hesitei, e se o sujeito estivesse dentro da casa?

Peguei o facão que ele deixou no local e resolvi entrar na casa. De qualquer forma, eu estava com raiva - o sujeito me agrediu, se eu o encontrasse, com certeza, o mataria, e quando os policiais chegassem eu alegaria legítima defesa. E assim eu fiz.

Entrei na casa, fiz uma busca e não vi nem sinal do sujeito. Voltei ao computador para continuar escrevendo o livro, mas não me desfiz do facão, se o sujeito aparecesse outra vez - eu o mataria. Continuei escrevendo mesmo com a dor na cabeça, pois quando os policiais chegassem - pediria que me levassem ao um hospital mais próximo.

Pouco tempo depois ouvi o barulho da sirene se aproximando, ótimo a polícia chegou. Bateram na porta e eu fui atender. Ao abrir a porta um policial, que estava acompanhado de mais dois oficiais me encarou de maneira suspeita e assustada, como se olhasse para um monstro!

- Boa tarde, senhores? - Eu falei para romper o silêncio dos homens.

Boa tarde - disse o policial apresentando-se como o chefe da patrulha. Foi daqui que se formulou uma denúncia? Perguntou o homem com um receio da minha pessoa que não compreendi.

Foi sim, respondi. Fui eu que fiz a denúncia. Eu estava aqui escrevendo o meu livro quando ouvi um barulho e fui ver o que era. Quando lá cheguei, - um elemento suspeito acabava de abater um animal, eu pedi para que ele se retirasse e o mesmo me agrediu com um soco e um golpe com o cabo do facão. - Expliquei aos policiais.

- O senhor sabe quem viveu nesta casa, senhor? Perguntou o policial me olhando de maneira suspeita.

Sei, sim, - foi o maníaco homicida Ed Gein. Respondi ao policial.

- E por que resolveu vir escrever o seu livro aqui?Continuou o policial.

Justamente por ser uma história de terror baseada na vida de Ed Gein, - respondi ao policial.

- Este é o facão que pertence ao suspeito, senhor? Perguntou o policial.

- É sim, senhor, respondi.

- Pode me entrega-lo e nos mostrar onde a agressão ocorreu? Perguntou o policial.

- Posso sim, respondi. E um outro policial recolheu o facão e o colocou num saco plástico.

Acompanhem-me senhores, - eu falei. E fomos ao local, mas a maneira como os homens me olhavam começava a me incomodar, a constranger - parecia até que o criminoso era eu.

Ao chegar ao local, mostrei o cabrito abatido pelo homem, pendurado no galho da árvore. Os policiais aproximaram-se da figura e a examinaram com minuciosidade e, na sequência olharam para mim de maneira desdenhosa! Então o oficial chefe ordenou ao companheiro que me algemasse.

Eu não entendi nada e não ofereci a mínima resistência e perguntei ao policial o que estava acontecendo? E o homem respondeu:

- Este corpo não é de um cabrito, é de uma mulher!

Incrédulo, aproximei-me com náusea e horror do corpo, e confirmei a afirmação do policial - o corpo decapitado era mesmo de uma mulher! Estava abatido, decapitado, cortado e pendurado na árvore como um cabrito, exatamente como Ed Gein fez com Bernice Horden!

Senhores - deve estar havendo algum engano, eu não tenho nada haver com esse crime. Foi o homem que me agrediu que fez isso - ele deve estar escondido por aí, quem sabe dentro da casa. - Eu falei completamente transtornado e horrorizado.

Nós vamos revistar cada canto da casa para encontrar este homem, e eu espero que ele apareça ou o senhor estará encrencado, - disse o policial. Entramos na casa e o policial falou:

- Façam o pente fino na casa, não deixem de esquadrinhar nenhum canto da casa. E começaram as buscas, eu sem entender nada do que estava acontecendo, acompanhava, apreensivo, os policiais. Descemos até o porão e não encontramos o homem, porém, o local estava impregnado por um odor insuportável de carniça!

Um policial aproximou-se de um baú velho abandonado no canto do porão, e lá dentro, para a nossa surpresa e horror estava o suposto cadáver que foi roubado do cemitério à noite passada, e o que mais causou horror foi ver que sua pele fora retirada!

Aí está a prova de que eu não estou mentindo, - eu gritei aos policiais. Foi o homem! O homem! Eu continuei.

- Acho bom este homem aparecer logo meu senhor, até agora o único suspeito aqui é o senhor, - disse o policial. - Eu continuei incrédulo e horrorizado - com enjoo.

Subimos até os quartos, e um dos policiais foi revistar a cozinha. Quando chegamos ao quarto de Ed Gein não encontramos nada. Então me ocorreu de ligar novamente para Letícia para colocá-la a parte dos acontecimentos.

Pedi ao policial que pegasse o meu aparelho celular do bolso e fizesse a ligação. Quando o policial discou o número e o telefone começou a chamar, os sons começaram a ressonarem de dentro do guarda-roupa-, o mesmo guarda-roupa que no pesadelo o assassino ocultava o cadáver nu da minha mãe. O policial se aproximou, abriu a porta do guarda-roupa e não encontrou nada, porém os sons continuavam.

Então perceberam que os sons vinham de trás do guarda-roupa. Os policiais empurraram o móvel e o cadáver nu da minha mãe, que estava depositado num fundo falso da parede escondido atrás do guarda-roupa caiu ereto e empalhado perante nossos olhos com o pescoço cortado - o abdome perfurado e o aparelho celular de Letícia na sua mão direita! Provavelmente, - Letícia precisou sair e deixou o aparelho com ela - caso precisasse fazer alguma ligação, - pensei eu.

Eu engoli a golfada de vômito que subira à minha garganta ao reconhecer o corpo. Impossível, não pode ser, foi exatamente como aconteceu no pesadelo, mas então eu não sonhei e, tampouco, delirei, o homicídio aconteceu mesmo, por isso que o sonho pareceu ser tão real!

Os policiais continuaram me olhando com mais horror e desdém. De repente o policial que fazia a busca na cozinha entrou no quarto, em sua mão direita carregava a cabeça de Letícia dentro de um saco plástico transparente-, ele a encontrara dentro de um forno abandonado na cozinha. Desta vez não pude conter o nojo e vomitei em cima do cadáver da minha mãe, em seguida cambaleei até a parede oposta, pois compreendi tudo. O corpo decapitado que estava lá fora, supostamente um cabrito, - era o corpo de Letícia, a minha amada esposa!

Em seguida comecei a gritar desesperadamente para os policiais prenderem o responsável por aquela chacina, já nem sabia mais direito o que falava. Então o policial se aproximou de mim e disse:

- Não é preciso, nós já o pegamos - o senhor está preso.

O que, do que o senhor está falando? Perguntei horrorizado ao policial.

- Todos vocês dizem sempre a mesma coisa, que são inocentes, mas não precisa mais fingir este foi o crime mais imperfeito que eu já vi em toda a minha vida, o senhor nem fez questão de esconder as provas do seu crime! Disse o policial.

Que provas, do que é que o senhor está falando, está querendo insinuar que eu matei a minha própria mãe e esposa? Eu perguntei.

- Estou afirmando meu senhor. O senhor está preso - continuou o policial.

Estou preso só porque fiquei com a arma do assassino e ele não apareceu, - perguntei ao policial. O elemento está à solta- ele me agrediu - matou a minha família vamos atrás dele. Insisti desesperado!

- Não, senhor. Não é apenas por isso, disse o policial me conduzindo até à frente do espelho que pendia na parede do quarto. Quando me olhei à frente do espelho não pude acreditar no que vi e pensei até que estava tendo outro pesadelo: eu usava um capuz feito de pele humana e vestia um colete também feito de pele humana, provavelmente a pele do cadáver roubado do cemitério na noite passada, e que agora estava no porão da casa completamente depilado. Havia manchas de sangue em minhas mãos e lama nos meus pés.

Compreendi então porque os policiais me encaravam com nojo e terror desde o primeiro momento em que chegaram à casa e tiveram o sangue frio de conduzirem a situação até encontrarem todos corpos e o responsável pelos crimes. Eu permaneci em silêncio, perplexo e horrorizado com os fatos que me envolviam. Não sabia e nem me recordava de como trajara aquelas vestes humanas, tampouco, assassinar a minha família-, continuei gritando desesperado: "Foi o homem! Foi o homem! Foi o homem!".

Mas os policiais se encararam com um ar no semblante de: "Ele é louco!". Provavelmente sofre do mesmo distúrbio mental de Ed Gein ou é algum devoto dele, e me prenderam.

Não terminei de escrever o livro - apareci nas manchetes dos principais jornais e fiquei famoso, mas não por ser um grande escritor de histórias de terror, e sim por ser considerado um monstro que causa terror, um assassino tão cruel, sanguinário e insano como: Norman Bates, o assassino da serra elétrica e o próprio Ed Gein.

Eu fui levado a julgamento e condenado. O juiz e todo o tribunal não deram crédito à minha história. Assim como Ed Gein - fui declarado como insano e enviado para o "Central State Hospital" de Wiscousin, onde até este exato momento tenho absoluta certeza de que não sonho, às vezes, olho para o canto da cela e vejo que não estou só: vejo que sou observado pelo monstro que usa roupas e capuz de pele humana-, ele ri da minha desgraça, eu começo a gritar pelos enfermeiros e eles me dopam com as drogas injetáveis com seringas, mas não veem o indivíduo. Eu sei que estou destruído e que a única coisa que me resta a fazer é aguardar a morte pacientemente.

Antes ter ficado no anonimato, sem fama, sem dinheiro, mas livre, feliz, em paz e acompanhando pelas duas pessoas que eu mais amava: Mamãe e Letícia. Agora é tarde.

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