Noite mal dormida. Impiedosa, a saudade arranca lágrimas de uma dor que
teima em não passar. O desespero toma conta de Sebastião. Longe
dos pais, aquele nordestino de 26 anos lamenta não ter dinheiro nem para
pegar o ônibus de volta à sua terra. Falta um mês para o
Natal e ele queria apenas estar junto de quem ama. De fato, a vida nunca afagou
Sebastião. Nascido no sertão cearense, foi obrigado a trabalhar
desde pequeno. O sol escaldante não dava trégua, assim como as
fortes dores nas costas, sina dos que lidam com a enxada. Impossibilitado de
se manter na escola, fazia um exercício descomunal para ler frases simples.
Vida dura, vida sofrida. De qualquer forma, não há mais tempo
para pranto: O relógio aponta a hora de ir trabalhar.
Aquele estava longe de ser o emprego ideal, mas, depois de 9 meses ouvindo "não",
Sebastião levantou as mãos para o céu quando soube que
seria contratado como varredor de rua. Ser castigado pelo mesmo sol do sertão
não era a pior parte; difícil mesmo era se virar com um salário
mínimo e saber que seu contrato duraria apenas mais três meses.
Mas Sebastião não deixava o sofrimento acabar com suas forças
e, olhando para as ruas e casas enfeitadas para o Natal, permitia-se devanear
por alguns instantes.
Num dia de folga, Sebastião quis, sem rumo, passear pela cidade e buscar
analgésico para a saudade. Andou pelo parque, passou pelo Centro e depois
foi conhecer o Shopping, onde admirou a iluminada árvore de Natal. Ficou
encantado. Quando foi ao banheiro, algo estranho: uma carteira perdida. Ao perceber
que ninguém estava perto, tratou logo de pegá-la. Era a sorte
substituindo tantos revezes? Achado não é roubado. Será
que Sebastião pensaria dessa forma? Definitivamente, não! Em questão
de minutos, os altos falantes do Shopping começaram a anunciar o nome
que constava naquele RG. O descuidado homem estava vendo as vitrines e nem sentiu
falta do seu dinheiro, cartões de crédito e documentos.
A honestidade de Sebastião surpreendeu o bem-sucedido empresário
que procurava presentes para a família. O homem, de 52 anos, agradeceu
e ofereceu uma carona ao nosso amigo. No caminho, Sebastião contou parte
de sua história de vida, o que foi suficiente para molhar os olhos de
quem dirigia. Na despedida, um aperto de mãos e novos agradecimentos.
Depois de alguns dias, Sebastião foi surpreendido com uma visita inesperada:
Era o homem da carteira. Dizendo estar "apenas de passagem", deixou
um envelope e foi embora rapidamente.
A quatro dias do Natal, Sebastião está na rodoviária aguardando
o ônibus que o levará para perto de seus amados. Enquanto espera,
ele lembra o que dizia o bilhete: "Esse dinheiro é pouco para recompensá-lo,
mas espero que o ajude de alguma forma. Você devolveu o que eu tinha perdido;
e não me refiro à carteira, mas à fé nas pessoas,
na honestidade e na simplicidade. Nunca esquecerei do seu gesto. Feliz Natal!".
Ainda lembrando dessas palavras, Sebastião vê sua condução
chegar. É hora de voltar...