Certa vila tinha como proteção uma família muito antiga que
tinha conhecimento nas artes das trevas. Como todos eram amigos, esta família
ajudava a manter a prosperidade da vila com seus conhecimentos. Mas, certo ano,
ocorreu que Dona Ana teve uma visão, ela previu que um bruxo maligno tomaria
o poder de sua família e com ele viria a destruição da vila.
Para que isso não acontecesse, ela fez uma magia retirando o seu poder
e o poder de suas filhas, guardando esse poder em dois colares. Um dos colares
com uma menor quantidade de poder ficou como proteção da vila, e
foi entregue a uma pequena família. O outro colar, foi posto em uma caixa
e jogado em um rio que passava por ali.
E o tempo passou...
O pessoal da vila envelheceu, as crianças cresceram, mas a vila continuava
próspera. Dona Ana tinha uma pequena pensão, que vivia às
moscas.
Porém numa tarde muito quente, ao passar um vento mais forte, trouxe com
ele dois forasteiros, uma dupla de irmãos, uma moça e um rapaz,
tipos completamente diferentes, o rapaz de cabelos escuros, alto e forte, usava
roupas pretas e uns óculos escuros; a moça, cabelo longos, escuros,
olhos negros como a noite, também roupas pretas. Todos dois de pele branca,
bastante clara.
Chegaram com grandes bagagens, disseram que estavam subindo rio acima, à
procura de uma boa moradia, tinham achado a vila bonita e resolveram passar uns
tempos por lá, para saberem se era a vila que eles procuravam.
O tempo passou e os moradores foram se acostumando com a presença dos forasteiros.
Certa tarde, quando Laurinha terminava de arrumar o quarto do forasteiro, lhe
perguntou:
-Senhor Jonathan, posso lhe fazer uma pergunta?
-Sim, Laurinha, o que queres saber? - Ele lhe respondeu sem se virar.
-Todo dia quando venho acender as velas o senhor está sentado sempre na
mesma cadeira a ver o Sol se pôr. Mas por que o senhor nunca tira os óculos
escuros? Sabe? Eu gostaria de ver os seus olhos. - Disse ela, enquanto se aproximava
da janela.
-Você quer de verdade ver meus olhos? - Perguntou-lhe ele, aproximando-se
dela, disse - Tire-os então, mas cuidado, os olhos são a "Janela
da alma".
No outro dia de manhã, Dona Ana quase teve um ataque quando soube que sua
filha tinha fugido com um rapaz. Mas o tempo é um remédio, Dona
Ana acabou por esquecer.
Certa noite, depois que todos foram dormir, Jonathan foi tocar piano, uma melodia
triste. Clara, que também não estava com sono, foi até a
sala pra ver quem tocava tão divinamente. E falou:
-Você toca tão bem Jonathan - Ele se assustou, pois não notou
a presença, ele estava à vontade sem óculos e ao ver que
não estava sozinho, se virou rapidamente, seus olhares se cruzaram por
um minuto.
Na outra manhã, o grupo de ciganos que estava na cidade tinha ido embora,
e se espalhou uma notícia que Clara tinha ido embora com eles. Outra queda
para Dona Ana, logo sua filha favorita! E foi aí que Dona Ana começou
a desconfiar, afinal ela tinha escutado o piano até tarde, quem tocava
devia saber de algo. Laurinha a última pessoa a vê-la foi o forasteiro.
E foi para ele que Dona Ana dirigiu toda a sua fúria. Ela desfez o feitiço
e recuperou um pouco do seu poder. Parou na frente de Jonathan e disse:
-Agora, seu bruxo, você vai pagar pelo que fez as minhas filhas. - Começou
a dizer um feitiço, mas, Carol, sua filha mais velha, que sabia de um segredo
do forasteiro gritou:
-Não, minha mãe, foi sem querer, ele é amaldiçoado.
As pessoas que olharem para seus olhos procurando ver sua beleza terão
sua alma sugada, mas eu quis ver sua alma. Mãe, eu o amo!
Mas Dona Ana não escutou, seu ódio era maior, e lançou o
feitiço. Carol se meteu na frente do feitiço e sumiu. Dona Ana de
desgosto se autodestruiu. Os forasteiros se foram. E a profecia foi concretizada,
a família por fim ficou sem poder e a vila sem proteção.