A Garganta da Serpente
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A Janela da Alma

(Rosario Câmara)

Certa vila tinha como proteção uma família muito antiga que tinha conhecimento nas artes das trevas. Como todos eram amigos, esta família ajudava a manter a prosperidade da vila com seus conhecimentos. Mas, certo ano, ocorreu que Dona Ana teve uma visão, ela previu que um bruxo maligno tomaria o poder de sua família e com ele viria a destruição da vila. Para que isso não acontecesse, ela fez uma magia retirando o seu poder e o poder de suas filhas, guardando esse poder em dois colares. Um dos colares com uma menor quantidade de poder ficou como proteção da vila, e foi entregue a uma pequena família. O outro colar, foi posto em uma caixa e jogado em um rio que passava por ali.

E o tempo passou...

O pessoal da vila envelheceu, as crianças cresceram, mas a vila continuava próspera. Dona Ana tinha uma pequena pensão, que vivia às moscas.

Porém numa tarde muito quente, ao passar um vento mais forte, trouxe com ele dois forasteiros, uma dupla de irmãos, uma moça e um rapaz, tipos completamente diferentes, o rapaz de cabelos escuros, alto e forte, usava roupas pretas e uns óculos escuros; a moça, cabelo longos, escuros, olhos negros como a noite, também roupas pretas. Todos dois de pele branca, bastante clara.

Chegaram com grandes bagagens, disseram que estavam subindo rio acima, à procura de uma boa moradia, tinham achado a vila bonita e resolveram passar uns tempos por lá, para saberem se era a vila que eles procuravam.

O tempo passou e os moradores foram se acostumando com a presença dos forasteiros.

Certa tarde, quando Laurinha terminava de arrumar o quarto do forasteiro, lhe perguntou:

-Senhor Jonathan, posso lhe fazer uma pergunta?

-Sim, Laurinha, o que queres saber? - Ele lhe respondeu sem se virar.

-Todo dia quando venho acender as velas o senhor está sentado sempre na mesma cadeira a ver o Sol se pôr. Mas por que o senhor nunca tira os óculos escuros? Sabe? Eu gostaria de ver os seus olhos. - Disse ela, enquanto se aproximava da janela.

-Você quer de verdade ver meus olhos? - Perguntou-lhe ele, aproximando-se dela, disse - Tire-os então, mas cuidado, os olhos são a "Janela da alma".

No outro dia de manhã, Dona Ana quase teve um ataque quando soube que sua filha tinha fugido com um rapaz. Mas o tempo é um remédio, Dona Ana acabou por esquecer.



Certa noite, depois que todos foram dormir, Jonathan foi tocar piano, uma melodia triste. Clara, que também não estava com sono, foi até a sala pra ver quem tocava tão divinamente. E falou:

-Você toca tão bem Jonathan - Ele se assustou, pois não notou a presença, ele estava à vontade sem óculos e ao ver que não estava sozinho, se virou rapidamente, seus olhares se cruzaram por um minuto.



Na outra manhã, o grupo de ciganos que estava na cidade tinha ido embora, e se espalhou uma notícia que Clara tinha ido embora com eles. Outra queda para Dona Ana, logo sua filha favorita! E foi aí que Dona Ana começou a desconfiar, afinal ela tinha escutado o piano até tarde, quem tocava devia saber de algo. Laurinha a última pessoa a vê-la foi o forasteiro. E foi para ele que Dona Ana dirigiu toda a sua fúria. Ela desfez o feitiço e recuperou um pouco do seu poder. Parou na frente de Jonathan e disse:

-Agora, seu bruxo, você vai pagar pelo que fez as minhas filhas. - Começou a dizer um feitiço, mas, Carol, sua filha mais velha, que sabia de um segredo do forasteiro gritou:

-Não, minha mãe, foi sem querer, ele é amaldiçoado. As pessoas que olharem para seus olhos procurando ver sua beleza terão sua alma sugada, mas eu quis ver sua alma. Mãe, eu o amo!

Mas Dona Ana não escutou, seu ódio era maior, e lançou o feitiço. Carol se meteu na frente do feitiço e sumiu. Dona Ana de desgosto se autodestruiu. Os forasteiros se foram. E a profecia foi concretizada, a família por fim ficou sem poder e a vila sem proteção.

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