A Garganta da Serpente
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Espíritos Passados

(Rosario Câmara)

Há longos e longos anos, Dona Hellen definhava à beira do seu leito de morte. Diziam as más línguas que ela não viveria muito tempo depois do acidente, mas a morte não vinha dar o beijo da salvação na pobre senhora.

Certo dia chegou na cidade um forasteiro, veio a pé e isso chamou a atenção dos moradores, que no mesmo momento pararam tudo que estavam fazendo e prestaram todas as suas forças em observar o jovem. A notícia se espalhou com tal rapidez, que até a velha senhora ouviu falar do tal rapaz.

-Mas até que é um moço bem apanhado!

-Será que é casado?...- Diziam as moças assanhadas.

-De onde ele veio?

-De onde veio? Não importa. É o que veio fazer aqui?


Enquanto o povo fazia suposições fantásticas sobre o forasteiro, ele continuava em seu caminho de cabeça erguida, sem ligar para os comentários e seguindo um caminho que só ele e os Deuses conheciam.

Dirigiu-se até a mansão, entrou com ousadia, empurrando os velhos portões, parou e admirou o jardim outrora belo, não olhou para trás. Subiu os degraus desgastados pelo tempo. Deparou-se com uma porta, fitou-a de cima a baixo, reparando bem em seus detalhes em ouro e no dragão em relevo. Com certeza era bastante antiga.

-Por favor, senhor. Queira entrar, sim? - Disse a criada que parecia esperar o forasteiro - siga-me, minha senhora o espera.

-Espere, um minuto. Antes de me levar até ela, explique-me, o que a fez me chamar aqui?

-Meu senhor, ela lhe contará tudo, tenha certeza disso. Por favor. - Indicou-lhe um caminho que dava para uma escadaria. - Siga-me, ela está a espera.

A casa tinha detalhes ora assustadores, ora belos. Um quadro que chamou bastante a atenção do forasteiro tinha uma bela lua cheia que deixava a esconder um casal enamorado.

-Meu senhor, não se demore a observar os quadros. - Ela chamou-lhe à atenção, e completou com informações sobre o quadro que ele olhava. - Bem, esse é muito belo e antigo merecendo um certo tempo de admiração, contudo isto será feito mais tarde. - Falou a criada para o jovem que ainda fitava o quadro curiosamente. Ela confidenciou-lhe. - O falecido dizia que se prestássemos muita atenção, poderíamos ouvir as juras de amor eterno dos amantes que a lua esconde. - Eles continuaram a subir as escadas.

As paredes lembravam olhos, que vigiavam-no e fitavam-no curiosamente. Ele sentiu um frio descendo-lhe a espinha.

-Chegamos, pode entrar quando quiser, mas não se demore muito, por favor. - Ela dobrou no corredor e sumiu de vista.

Respirando fundo, ele colocou a mão no trinco. - "Entre, não tenha medo".- Ele assustou-se, procurou, mas não viu ninguém. Entrou, o quarto estava na penumbra, Avistou um feixe de luz que se esgueirava por uma brecha na janela encoberta, iluminando uma jovem que apesar de tudo parecia bem velha. A voz novamente, só que agora mais forte. - "Entre, não tenha medo, entre".- Voz suave, encantadora, bastante nova, tem seus mistérios. Ele aproximou-se da jovem, ela apontou-lhe uma cadeira ao lado da cama ele se dirigiu até ela, deixou a mala encostada nela, sentou-se ainda tenso, deixou cair uma medalha que vinha segurando.

-Ora, ora, meu jovem rapaz! Parece que tem apego com esta medalha ou será talismã? Suas mãos ficaram brancas de tanta força que fez para segurá-la. - Ela deu uma risada, o jovem mais tenso ficou e rapidamente pegou o talismã.- Poderia deixar-me vê-la?

-Desculpe-me, mas não poderei atender este pedido, peça qualquer coisa e eu farei, menos isso. Essa medalha é muito importante para mim. - Ela fez que sim com a cabeça e riu novamente, enquanto isso ele colocava a medalha novamente no pescoço. Ela ofereceu-lhe chá.

-Creio que você se chama Martin Linoge?

-O próprio em carne, osso e espírito. - Ela riu-se novamente.

-Estou morrendo senhor Linoge e não posso partir sem antes ter uma conversa com o senhor. - Ela o fitou, mas seus olhos não pareciam estar nele, porém em um ponto distante, no passado. - São tão parecidos...

-Quem é parecido?

-Com o tempo você saberá, agora vá descansar, sua viagem foi longa. - Ela virou-se para o outro lado e deixou ele ir, ele se levantou assustado, olhou para a jovem que por um segundo pareceu tão velha, viu-lhe lágrimas caindo dos olhos e retirou-se do quarto.

-Siga-me, lhe levarei até o seu quarto. - A criada veio do nada assim como partiu.

-Chegamos, durma um pouco, mais tarde lhe trarei o que comer. - Ele entrou no quarto, ela fechou a porta e sumiu novamente.

O quarto era grande e com janelas que davam para o jardim já morto. Com belos quadros e toques arquitetônicos refinados, lembrava um túnel do tempo, havia uma lareira e um armário. Ele deixou a mala no chão e deitou-se, pegou no sono, dormiu um sono sem sonhos, mas reparador.





-Boa noite, meu senhor. Trouxe-lhe a janta, uma sopa de verduras bem quentinha, nada melhor para recuperar as forças depois de um dia bem cansativo. - A criada acabara de colocar a bandeja em sua cabeceira, Martin ainda estava ajeitando-se na cama. A noite caíra havia tempo. - Está noite haverá uma festa lá na vila, daqui a pouco começa. Se o meu senhor quiser ir, minha sobrinha poderá levá-lo. Eu não posso ir, porque tenho de estar às ordens de minha senhora, e também já estou velha para isso. O senhor é jovem e divertir-se lhe fará bem essa noite.

-Irei tomar essa sopa, mas faça-me o favor de dizer a sua senhora que eu gostaria de falar-lhe ainda essa noite, fará esse favor?

-Perguntarei, mas acho difícil que minha senhora aceite, a noite é sagrada para ela, principalmente noite de lua cheia. - Martin olhou pela janela e pela primeira vez em toda sua vida ele parou para observar o céu, a lua e as estrelas. Um outro calar frio percorreu-lhe o corpo.

Enquanto a criada foi fazer o que Martin havia lhe pedido, ele ficou a inspecionar o quarto. O armário era de uma madeira muito antiga, talhada em detalhes de flores e dragões, sol e lua. Pra falar a verdade em todos os móveis do quarto existiam esses detalhes. Acima da cama havia um enorme coração vermelho, um vermelho que mais parecia sangue vivo. De tão real que parecia, Martin chegou a chorar, pois por incrível que pareça, o coração parecia estar chorando. A porta se abriu.

-Meu senhor, como eu já havia lhe prevenido ela não irá vê-lo, lua cheia... Segredos... - A criada voou para longe, não mais parecia estar no quarto. - Volto a lhe oferecer a festa da vila, esta noite. Aceita ir agora?

-Mas é claro, já que não tenho o que fazer. Qual o nome de sua sobrinha? E o seu, também?- Perguntava-lhe Martin enquanto tirava uma roupa para noite.

-Bem, o meu é Emma. O da minha sobrinha é Jennifer, uma pequena encantadora, ela é filha de meu falecido irmão. Morreu quando ela ainda era pequena. Sua mãe morreu no parto. Pobre infeliz, neste mundo só tem essa velha tia que daqui a alguns dias parte. Se ao menos ela arrumasse um partido respeitável, mas aqui? Nesse fim de mundo? Que os Deuses tenham pena dessa infeliz.

-Não diga asneira. Se sua sobrinha for sábia, ela sobreviverá aconteça o que acontecer. Agora me conte algo, quem esculpiu essas escult...

-Ah! Deve ser minha sobrinha, venha meu querido jovem, não deixemos a Jennifer esperando. Ela não gosta de esperar à noite, tem medo. - Num piscar de olhos Emma arrumou uma capa preta e jogou por cima de seus ombros, só agora a campainha havia soado. Martin não entendeu mais nada. Eles desceram por um caminho diferente, assim observou Martin, mas ele já não tinha certeza do que via.

Emma parou em uma sala e pegou um frasco azulado, que continha um líquido que Martin não pôde identificar. Desceram, dobraram e desceram e dobraram novamente.

-Já estou ficando tonto! Falta muito? - Ela parou e abriu a porta, ele deu de cara com uma jovem muito bela. Ficou sem palavras.

-Martin Linoge, essa é minha sobrinha Jennifer. Jennifer este é o senhor Linoge, cuide bem dele e faça com que ele tenha uma bela noite de diversões.

-Sim, minha tia, sim. Mas eu quero dar o fora daqui, esse lugar me dá arrepios. Onde está o frasco? - Emma lhe entregou o frasco azulado e entrou.

Jennifer pegou o jovem pelo braço e saiu puxando, Martin subiu aos céus: "Que pela macia e que voz! Por Afrodite, que mulher!". Entraram pela noite a fora. Jennifer foi a primeira a falar:

-Bem, agora que estamos longe daquela casa, conte-me, de onde você vem? Posso te chamar de você, não posso?

-Mas é claro que pode. Eu venho de Nancy, é uma bela cidade. Mas tenho poucos amigos por lá. Acham meus pais estranhos por venerarem outros Deuses, por isso se afastam de mim.

-Isso é uma injustiça. Você é muito legal, bem, sua aparência me diz isso. - Ela ficou vermelha e olhou para o céu. - Então, o que veio fazer aqui?

-Se eu soubesse lhe responderia, já que não sei, deixo-te sem resposta. Apenas sei que meus pais receberam uma carta e me mandaram para cá, cheguei aqui e uma força parecia me guiar para o casarão. Sua tia me parece bem estranha, ela sempre me parece saber o que vai acontecer, antes de acontecer.

-É verdade, eu já me acostumei, mas logo no começo eu morria de medo. Fui morar com ela aos seis anos, tive que me acostumar. Sabe? No fundo ela é uma boa alma. Você me parece ter uns 22 anos, estou certa?

-Certíssima. Como sabia?

-Acho que herdei algumas características de minha tia. - Eles riram e começaram a escutar uma música distante.

-E você? Tem uns 20 anos?

-Acho que você também tem segredos!- Novamente eles riram. Haviam chegado a festa. Ela apresentou-lhe o pessoal da vila, e foram dançar.

De uma da manhã a festa acabou para eles e resolveram voltar. Haviam se divertido muito e já estavam cansados de tanto dançar. Voltaram pelo mesmo caminho, porém, Jennifer só foi até a metade do caminho.

-Eu vou ficar por aqui, se não se importa, te vejo amanhã de manhã. - Ela girou nos calcanhares, gritou "Boa Noite!", e sumiu na escuridão.

Ele continuou seu caminho, só parou uma vez no jardim, que refletindo a lua parecia florido e com dois amantes. Ouviu vozes e um riso de crianças, que sensação maravilhosa de voltar no tempo ele sentiu, mas não entendeu.



-Bom dia, Martin! Acho que você já descansou bastante, se continuar dormindo, à noite terá insônia. - Jennifer havia entrado no quarto com o café da manhã. Martin olhou pela janela, a manhã já corria alta. - Vem uma chuva por aí, não poderemos sair. Contudo dormirei aqui essa noite e poderemos inventar várias brincadeiras.

-Bom dia, Jennin! Você está muito animada. Talvez poderemos jogar à noite. Agora, eu gostaria de falar com a Senhora da casa. Qual o nome dela? Sua tia não me disse.

-Hellen Blanca Linoge.

-Linoge??!! - Ele assustou-se um pouco, ficou surpreso.- Você disse Linoge?

-Sim, Linoge. Ela não gosta que chamemos Linoge. - Ela bateu a mão na cabeça, lembrando-se de algo. - Minha tia pediu-me para avisá-lo que a senhora está à sua espera.

-Que horas são?

-Já são mais de duas. Agora almoce em paz, depois vá ver a senhora.

Ele ficou sozinho no quarto, tentando compreender o que tinha visto na noite passada. Chegou a conclusão que tinha sido efeito do vinho tomado em excesso na noite anterior. Terminou de comer, vestiu um casaco de lã que sua mãe tinha lhe dado dois dias antes de partir, abriu a porta do quarto e novamente ouviu as vozes de criança e de um rapaz... Alguma coisa passou correndo pela sua frente no corredor escuro. Martin resolveu seguir o vulto que descia as escadas com uma rapidez enorme, Martin esforçava-se para segui-lo, o vulto entrou em uma sala e como mágica subiu no ar, Martin aproximou-se e ficou a observar. Era um garotinho, deveria ter dois anos de idade, brincava com um jovem que deveria ter uns 28 anos, naturalmente, seu pai. Eles estavam em uma harmonia tão intensa,que Martin viu-se tentado a pedir para participar, mas sua consciência dizia para ele não atrapalhar.

-Martin? O que faz aí? Parado no canto da parede. - Perguntou-lhe Jennifer, ele fez um sinal para ela ficar em silêncio e aproximar-se, ele apontou para a sala. - Mas não tem nada aqui. Além de alguns quadros e a mobília. - Ele olhou novamente para a sala.

-Jennin, eu juro pela minha mãe, havia um rapaz e uma criança aqui. Como eles no quadro. - Ele apontou para um quadro, que estava no meio da sala, que tinha um jovem jogando uma criança para cima em uma sala que parecia como aquela, eles pareciam divertir-se.

-Esse quadro é antigo tem uns 20 anos. Mas posso garantir-lhe que aqui não tem nada.

-Você não ouviu?

-Não.

-Jennin, você não acha que eu estou ficando louco, não é?

-Claro que não. Você deve ter ouvido um gato ou um dos animais e deixou a imaginação ir longe, nada de mais. Venha a senhora está à sua espera.

Ele fez o caminho de volta com Jennifer, tentando convencer-se de que ela tinha razão. "Não pode ser, eu vi, tenho certeza. Será que estou louco?". Ele pensava e perdia-se. Chegaram, Jennifer disse-lhe algo que ele não entendeu e seguiu para a cozinha. Ele concentrou-se e entrou no quarto. Hellen estava sentada na beira da janela, parecia mais jovem, porém cansada. Ela olhava pra o jardim.

-Venha aqui, eu já lhe esperava. Sente-se comigo.

-Sra. Hellen, não poderei ficar muito tempo na cidade, diga-me logo o porquê de trazer-me em vossa presença.

-Cada coisa a seu tempo, jovem. Olhe pela janela. Que belo jardim não acha? - Martin olhou e surpreendeu-se, foi o jardim mais belo que já viu (e verá) em toda sua vida.

-Sim, é muito bonito.

-Neste jardim, coisas incríveis aconteceram. Vê aquela estrada? - Martin fez sinal que "sim" com a cabeça.- Se seguirmos vamos dar em um paredão que dá para o mar. Estamos no alto, perto dos Deuses, perto da lua... Costumava ir lá, quando mais jovem. Há um certo tempo, dois jovens encontraram-se naqueles rochedos, um amor imenso nasceu, fazendo mar e lua morrerem de inveja. Eles completavam-se, entendia-se numa troca de olhares, eram diferentes...

-Por que está contando-me essa história?

-Escute e entenderá. Eles amaram-se por longos anos... Por Afrodite como éramos jovens. - Ela perdeu-se em seus pensamentos e Martin compreendeu que a jovem amante era ela e que isso lhe trazia lembranças, perguntou-se por quê ela contava-lhe a história. A noite já cairá e antes de Martin sair do quarto, ela falou. - A luz da lua constrói vidas, assim como as destrói, tome cuidado com o que ouve. A lua esconde segredos, aceite o conselho de uma velha amiga.

Ele não entendeu, estava assustado, tudo lhe parecia sem sentido. Foi procurar Jennifer. Encontrou-a sentada no jardim. Ele parou um momento na porta e ficou observando-a, o jeito com que o vento brincava com seus cabelos, o sorriso leve do seu rosto, notou que talvez estivesse apaixonado por uma camponesa. O que Lara (sua namorada) iria pensar? Aproximou-se.

-O que você está fazendo aí? - Perguntou ele.

-Estive observando a senhora, toda noite ela senta ali, observando não sei o quê.

-O jardim. - Ele olhou para o jardim e viu que ele estava morto. - Mas... O jardim... Ele...

-Ele das janelas da casa e nas noites de lua cheia parece florido. É por isso que não gosto de vir aqui, minha tia diz que me deixo levar pelas lembranças da velha. Essas duas já estão malucas. Depois que o senhor Linoge morreu, as flores do jardim morreram, a vida da casa, tudo se foi com ele. É o que dizem por aí. Cresci ouvindo que a senhora Hellen não viveria tanto. Quando vim para cá, ela me contava histórias de amantes apaixonados separados, era tão lindo, mas tinha horas que podia me ver, acho que...

"Vocês foram escolhidos em tempos antigos para unirem-se e formarem um novo ser, um novo mundo, recriar a vida que um dia foi perdida nessas terras. Serei sua madrinha e os protegerei do mal das paixões mundanas mal formadas. Que os Deuses, junto comigo A lua, abençoem esse casal de amantes eternos."

Ele ouviu e como num impulso maior que sua vontade beijou Jennifer, ela parecia também ter ouvido a voz, deixou-se ser guiada por ele. E como que por magia, as flores começaram a crescer, o jardim tornou-se fértil, a lua brilhava extasiada com tal magia que Eros fazia, palavras nunca explicariam o que ocorrera aquela noite, o mundo parecia abrir-se para receber uma nova era na mais completa alegria.

A senhora assistia ao espetáculo, mas não estava só. "-Agora, chegou minha hora, depois de anos de espera, de sofrimento, ficaremos juntos novamente. Desfrutarei do amor de meu filho, e você aprenderá novas lições. Nos amaremos eternamente, desta vez sem tragédias, sem acidentes. Te amarei eternamente".

-Eles formam um belo casal, não é, meu querido? Assim como nos formávamos. Amanhã é o grande dia, amanhã.



A porta abriu-se e a criada entrou.

-Acorde, acorde, minha senhora quer vê-lo, rápido! Engula este sanduíche e venha comigo.

Ele fez o que ela mandava rapidamente, ainda sentia em sua pele a loucura da noite anterior. Entrou em um outro quarto ainda maior, com uma pintura a óleo da senhora e de seu marido, ainda jovens, e com um bebê.

-Lembra-se dos jovens?- Ele fez que sim com a cabeça e sentou-se.- Eles casaram-se e o amor não diminui, mas algo começou a se por entre eles: Ele queria um filho e ela não. Os Deuses fizeram prevalecer à vontade dele, e foi naquele mesmo jardim, que ocorreu a profecia, foi naquela noite que engravidei de você, assim como a Jennifer, o seu...

-Pare com isso! - Ele gritou, foi nocauteado, começou a entender que aquela mulher na verdade era sua mãe. - Por que está fazendo isso comigo? - Lagrimas caíam pelo seu rosto. - Eu não entendo. Não pode ser verdade.

-Se acalme, deixe-me prosseguir. - Ela esforçou-se para tocar lhe o rosto, mas ele afastou-a para longe. - Eu tinha 24 anos quando você nasceu, ainda era uma garota. O Jonathan passava mais tempo com você do que comigo. Não deixava que eu chegasse perto de você. Acho que tinha medo que eu cometesse alguma loucura. Certa noite, estávamos no jardim, fazia tempo que eu não o tinha só para mim. Eu estava tão feliz. Você já tinha uns dois anos, chegou chamando por ele e ele me deixou lá sozinha, olhando vocês brincarem, estavam tão belos, em uma harmonia perfeita. Um ciúme invadiu-me o espírito, empalideci e senti frio, me retirei, vim para o quarto, me deitei e chorei... Chorei. Depois de horas ele voltou para o quarto te trazendo no braço, te colocou nesta cama bem ao meu lado e ficou nos olhando. Mas seu olho só a ti enxergava. Levantei-me e saí do quarto, ele seguiu-me e perguntou o que tinha havido... O céu parecia que ia desabar, parecia estar triste assim como nós, chovia muito lá fora, tínhamos brigado seriamente. - Ela chorava, suas mãos procuravam a de alguém que deveria estar ali. -Pelos Deuses, como fui tola! Ele resolveu sair para que não brigássemos mais, pegou o carro e saiu pela estradinha, aquela que lhe mostrei, mas não se via nada lá fora, além da espessa bruma... O carro caiu no mar, o seu enterro foi lá. Desde esse dia não suportei mais o peso da vida. Não podia cuidar de ti, pois você lembrava-me ele... Fui a desgraça da vida dele e por consequência estraguei a sua também. Quem você pensa ser seus pais, são na verdade a irmã de seu pai e seu marido, pedi para que eles não lhe contassem nada... A sua mãe de criação odeia-me até hoje, o seu pai de criação entendeu-me. Espero receber teu perdão, por mais que não mereça, mas sei que pelo menos você sabe a verdade. Esta casa é sua e espero que more nela com a Jennin. Meu querido, apenas...

-Você tem toda razão, não irei te perdoar, você foi egoísta. Pelos Deuses! Isso não se faz! Você destruiu vidas! - Ele chorava, toda sua vida mudada em segundos.

-Seu medalhão, deixei com você antes de você partir, para que você também tivesse minha proteção, pois seu pai, tenho certeza, ele viveu com você todos esses anos... Desde o acidente, vivo aqui apenas com as lembranças.

-Eu te odeio! Odeio-te! Você... Você... - Ele olhou para ela e notou que seus olhos iam mais longe do que já vira. Ela morria. Ele aproximou-se e arrependeu-se. Teve pena de uma jovem que sofreu por amor e nada mais, ela perdeu completamente sua vida, quando seus amores se foram.

-Eu te amo, meu filho. - Seu sorriso abriu-se e seus olhos fecharam-se, depois de 20 anos, 20 longos anos, Hellen e Jonathan uniram-se novamente, caminharam pelo mar, separaram-se novamente para renascerem, Jonathan como filho de Martin e Jennifer, Hellen como filha de uma aldeã que lhe ensinaria ser mais compreensiva e perder seu egoísmo. Depois eles amariam-se novamente, dessa vez, sem tragédias, para sempre. Pois o quadro, sempre disse: "Felizes aqueles amantes que tem a lua como protetora, eles serão felizes por toda eternidade. Pois terão a magia, o mistério e o amor como amuletos de felicidade".

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