A Garganta da Serpente
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Entardecer

(Rosario Câmara)

"Na vida temos momentos de alegrias e tristezas, algumas vezes esses momentos fundem-se e ficam como o entardecer onde as trevas misturam-se com a luz. É como me sinto nesse momento, tenho um motivo para estar alegre e muitos para estar triste... A Luciana está chegando, preciso contar para ela".

-Oi, Meu amor! Você adora esse lugar, não é? Eu queria saber o por quê.

-Nada, querida, nada. Vem para cá. Senta aqui perto de mim. - Luciana sentou-se e aninhou-se nos braços do Lucas. - Olha só, querida, que Pôr do Sol lindo, não acha? Nas noites a vida ganha um outro ritmo.

-Meu querido, você está muito quieto. Acho que está a me esconder algo. O que houve?

-Tenho que viajar esta noite. Mas não queria lhe deixar. Venha comigo, eu não posso te perder. Você foi o que de melhor me ocorreu nos últimos meses, perder-te seria minha morte.

-Quando você volta?

-Eu não volto. - Ela levantou-se de um sobressalto e dirigiu-se para o carro. - Espera... Não faz isso comigo.

-Você quer que eu largue minha vida? Meu trabalho é aqui. Minha vida é aqui. E você me pede para que eu o siga em uma viagem que não sei de onde saiu ou para onde é ou o por quê dela? Você está maluco? Desde quando sabe que vai partir? E por que você não pode voltar? Sabe que eu não posso ir.

-Luciana... Não me trate assim, não fique tão alterada. Desculpe-me, mas não posso responder essas perguntas. Apenas posso esperar sua resposta. Venha comigo. Por favor.

- Não posso... Eu vou embora... - Ela chorava e tinha medo do seu futuro. Tudo que havia planejado tinha ido embora, como um passe de mágica. Tudo estava acabado. - Sabe onde me encontrar. Tenho que ir. Não vamos nos torturar mais. Adeus.

Ela entrou no carro e partiu. Lucas olhou para o céu e condenou sua sorte. Lágrimas caiam de seus olhos e uma tristeza enorme caia sobre o seu ser.



"Os caminho dessa vida são os mais estranhos possíveis. Colocaram a Luciana na minha vida e agora eu pergunto para quê? Por quê? Já que a tirariam de mim, assim, tão inesperadamente fazendo com que ela sofresse. Meu Deus! Tudo o que eu queria era que ela não sofresse. Se eu pudesse voltar no tempo, evitaria esse encontro. Até parece que foi ontem que a conheci".



-Precisamos lavá-lo ao médico, do modo em que se encontra, não podemos deixa-lo só.

-Temos o quê fazer. Temos um trabalho e uma vida. Não podemos ficar sempre com ele.

-Por isso o médico. Alguém conhece algum médico que possa nos ajudar? - Falou a primeira voz.

- Eu conheço. A doutora Luciana. - Falou uma voz do canto da sala.- Ouvi boas recomendações sobre ela. Foi o doutor Paulo quem a recomendou. Disse que se precisássemos ela seria a pessoa indicada. No momento ela está de férias e aqui na cidade. Creio que com um bom salário ela pegaria o caso. Poderíamos tentar. Não poderíamos?

-Claro, Priscilla, você é irmã dele e tem todo o direito de escolher o médico.

-Fábio, meu querido, poderíamos ir ao hotel onde ela está hospedada amanhã. Eu tenho o endereço do hotel.




"As lembranças ainda são confusas na minha memória. Os únicos fatos que me lembro bem são os dias que passei com a Luciana, e a maldita lembrança dessa viagem. Por que colocaram-na na minha vida? Por que se teríamos que nos separar. Por que?"



-Boa tarde! Desculpe-me o incômodo. Mas eu creio ter um caso que lhe interesse. - Falou Fábio, que estava acompanhado de sua esposa, Priscilla.

-Incômodo nenhum, mas perda de tempo para vocês. Estou de Férias.

-Mas não custa nada você escutar-nos. Depois você decide o que fazer. - Fábio replicou.

- Tudo bem. Mas não prometo nada. Vamos para ao meu quarto, lá vocês contam, é mais tranquilo. - Fábio e Priscilla seguiram o caminho que Luciana mostrou.




"Estou em uma prisão, uma prisão para o mais cruel dos assassinos. Não sei por quê tenho que passar por isso. Ah! Luciana... Luciana, se pelo menos você estivesse aqui. Tudo estaria mais fácil".Seus pensamentos foram interrompidos por uma forte batida na porta. "Ah! Só pode ser a Darla. O que será que houve dessa vez? Se ela falasse comigo... Se minha doce e adorada Luciana estivesse aqui, tudo estaria mais fácil".

-Darla? É você? O que houve? O que você tem?

-Você é maluco ou o quê? Quantas vezes eu terei que repetir que não lhe devo explicações. Não adianta. Diga o que quiserem nunca irei lhe aceitar. Não o conheço, nem quero conhecer. - Ela foi para o quarto, deixando-o falando só.

-Mas Darla... Você não... - Foi interrompido pelo Leo, que entrou na sala.

-Lucas! Você não quer ir comigo a praia, não?

-Oi, Leo! Você quer ir à praia? Mas querido é tarde.

-Por favor, por favor... Vamos.

-Tudo bem. Vá pegar suas coisas.



-E é essa a história. O quê achou?

-Ela é interesse. Aparentemente não tem motivo para ele estar desse jeito, não é isso?- Perguntou Luciana.

-Isso.- Fábio respondeu.

-Por isso vocês estão preocupados? Bem não posso dizer que não é um bom caso. Mas não posso aceitar. Estou de férias - Respondeu Luciana abrindo à porta.

-Fábio, meu querido, poderia deixar-me conversando com a doutora Luciana? Espere-me no carro. Irei logo.- Fábio saiu e Priscilla fechou a porta. - Querida Luciana, você foi-me recomendada pelo doutor Marcos, ele falou muito bem de você e não gostaria de perde a boa imagem que lhe deram. O rapaz do qual falamos é meu irmão, eu gostaria de rever o velho Lucas que conheci. Você é a única que pode ajuda-lo, suas férias caíram como uma luva. Esse trabalho requer tempo integral. O trabalho será bem pago, eu prometo. É o meu irmão e eu gostaria de tê-lo de volta. Ajude-me, por favor.

-Mas eram as minhas férias.

-Eram? Quer dizer que você aceita? - Priscilla sorria como uma criança.

-Eu sei o que é ter um irmão nesse estado. Farei o possível para ajudar.

-Muito obrigada. Do fundo do coração, obrigada.- Priscilla abraçou Luciana, deixando-a sem jeito.




"Tudo parece piorar a cada dia, Darla odeia-me e piora completamente minha convivência nessa casa. Pelo menos o Leonardo eu já tenho como amigo. Como posso conquistar a simpatia dessa garota? Ela é tão difícil. Nunca conheci ninguém assim".Lucas não sabia que a oportunidade que tanto pedira durante meses para conhecer apresentar-se-ia essa noite. Lucas acordou com um cavalo de pau dado por algum maluco na rua lá fora, logo depois uma porta abriu e fechou. Levantou-se para ver o que era, aproximou-se da janela e viu um carro atravessado no meio da rua. Dois malucos gritavam pela Darla; "Estão bêbados com toda certeza. Com quem essa garota anda? São má companhia, ela deveria tomar mais cuidado".Resolveu descer, para ver onde estaria Darla. Leo estava dormindo no quarto como um anjo. No quarto de Darla não havia ninguém, sua cama estava como havia deixado de manhã. Encontrou-a chorando, encostada na porta.

-Darla? O que houve? O que fizeram com você? - Notou que suas roupas estavam rasgadas, entendeu o quê ocorreu, não esperou por mais nada. - Foram eles que fizeram isso com você? Ah! Eles vão ver. Levante-se saia da frente.

-Mas o que você vai fazer? Lucas? Você é louco? Por favor, não vá lá. Deixe-os ir.

Nada do que Darla falou adiantou, ele saiu e foi falar com os garotos. Chegando perto deles, perguntou:

-E aí rapazes, aproveitam muito daquela vadia hoje? Qual o nome de vocês?

Darla assistia tudo da janela de casa, ela gostaria de saber o que eles estavam conversando.

-E aí você também aproveita da belezinha é? O meu é Jack e esse é o Pablo namorado da Darla.

-Mas é claro que sim. Jack e Pablo, hein? Vocês não querem entrar para uma dose de uísque?

-Eu quero a Darla, eu preciso dela. - Falou o Pablo.

-Precisa dela, não é? Venha aqui, irei contar-lhe um segredinho para você ficar de bem com a Darla. - A aparência jovem do Lucas contribuiu para que os rapazes não o vissem como "o pai" que a Darla tanto falava. Pablo aproximou-se. "Esses garotos são tolos, como a Darla anda com pessoas assim? E esse rapaz, que se diz namorado dela? Por Deus! Quantos já tocaram nela?". Assim que ele chegou bem perto, Lucas deferiu um golpe em seu estômago, Pablo curvou-se todo com a dor e levou um gancho, Jack assim que notou o ataque correu para socorrer o amigo, chegou por trás de Lucas e acertou-lhe um golpe no rosto, Lucas cambaleou, Pablo estava no chão, sua boca sangrava e com o efeito da bebida não conseguiu levantar. Jack correu para cima de Lucas que se abaixou, fazendo com que seu oponente caísse por cima dele, ele levantou-se fazendo com que Jack fosse ao chão e desferiu um golpe em sua cabeça. Os dois estavam estirados no meio da rua junto com o carro. Darla havia corrido para perto.

-O que houve? Como conseguiu isso? - Darla estava extasiada com o sucesso de Lucas.

-Joguei hóquei na adolescência e eu era muito bom nisso, aprendi uma série de artes marciais também. Venha vamos ligar para a polícia, você precisa dar queixa.



"Será um presente dos céus? Tudo parece dar certo agora. Darla agora está me tratando bem melhor. E já vejo possibilidade de voltar a ver minha doce Luciana. Como ela estará não tenho notícias dela já faz três anos. Minha querida como estará você?"



-Como vai, senhor Lucas? Não gostaria de dar um passeio?-Luciana convidava ao Lucas, seu novo paciente.

-Quem é você? Uma enfermeira? Eu já disse que não estou doente.Quando a Priscilla vai entender?

-Enfermeira? Meu caro, eu só gostaria de conversar um pouco, não sou enfermeira.

-Você é bonita. Tem um brilho diferente no olhar. Já vi que sabe o meu nome, qual é o seu?

-Luciana, muito prazer!

-O prazer é todo meu. - Disse Lucas, levantando-se e curvando.

-Como um rapaz bonito e cavalheiro como o senhor está com um humor tão ruim a tal ponto que deixa a família preocupada?

-Priscilla é que é muito agoniada. Eu estou bem. Ah! Se você veio me analisar, será perda de tempo. Não lhe contarei nada interessante.

-Tudo bem. Mas podemos ser amigos, não podemos?

-Claro que podemos.



"Como aquelas tardes eram valiosas para mim. Por quanto tempo eu amei-a. Como era doce a minha bela Luciana. Eu preciso dela tanto quanto o ar que eu respiro. Sinto falta de ter com quem conversar, sinto falta do pôr do sol, das tardes que passávamos juntos. De suas palavras, querida Luciana, você ainda lembra de mim? Ainda pensa em mim?"



-O que você tem hoje, Luciana? Está tão quieta e calada, não parece com a Luciana que conheci? Fiz algo de errado?

-Ah! Meu querido Lucas, você fazer algo de errado? Impossível. Volto ao trabalho amanhã, não poderei mais desfrutar de sua companhia, sinto muito por isso. Mas temo dizer que você está curado. Não vejo mais aquela carinha triste. Aquela que você estava no dia em que o conheci.

-Mas Luciana. Se assim estou, feliz e contente é porque te encontrei. Sua boba! Não percebe? Luciana, minha doce e adorada Luciana, eu te amo. - Os dois choravam com uma descoberta que seus inconscientes já sabiam: Eles se amavam tinham todo um futuro pela frente.

Lucas prometeu céus e terras à sua amada, porém o problema que o deixava triste foi apenas encoberto pela suave brisa que o olhar de sua Luciana trazia-lhe. O ar que o fazia respirar já não era mais o mesmo, ele agora trazia uma nova esperança em sua fragrância.




"-Senhor Lucas, seu trabalho foi terminado, está livre para fazer o que quiser. Aproveite bem sua nova chance."



Darla havia mudado seu comportamento radicalmente, cuidou do Leo e andou com pessoas que não iriam lhe fazer mal. Descobriu o amor e casou-se, teve dois filhos e tornou-se uma mãe exemplar. Leonardo havia conseguido subir na vida em uma empresa, namorava mil e uma mulheres, mas a todas tratava com respeito. Ele aprendeu com um velho cavalheiro. Lucas voltou ao entardecer para seu local preferido. Sentia saudades do pôr-do-sol.



"Será que encontrarei minha amada? No ritmo da noite, espero pelos céus encontrá-la. Mas veja só acho que outras pessoas também gostam desse local.". Lucas havia encontrado duas crianças, onde antigamente sentava-se com sua amada.

-Olha, mamãe, tem um moço ali. Nunca o vi por aqui. Quem será?

Uma moça levantou-se, estava deitada na relva, olhou para o moço e imediatamente reconheceu-o, correu até ele e abraçou-o.

-Lucas... Meu querido Lucas... O que houve com você? Pensei que jamais o veria novamente.

-Ah! Luciana... Minha querida Luciana... - As lágrimas não deixaram as palavras sair. Os garotos não entendiam nada. Ela mandou que eles fossem para casa. Pois ela tinha que conversa com um amigo.

-Lucas... Por que foi embora? Esperei tanto que você voltasse, mas você me abandonou... Lucas... Por quê?

-Minha querida Luciana... Minha doce, adorada Luciana... Eu nunca, nunca te esqueci... Você sempre esteve presente. Não posso te explicar o quê houve. Mas prometo que jamais te abandonarei de novo. Mas... Quem são eles?

-Meu querido, esperei por você durante 15 longos anos. Mas um rapaz entrou em minha vida... Você no dia em que partiu disse que jamais voltaria. Eu tinha que deixar o passado e seguir em frente. Não podia te esperar mais. Casei-me e tive essas duas crianças. Faz oito anos que me casei.

-Então eu perdi-te? - Lágrimas caiam de seus olhos, tantos anos de espera e não poder alcançar o tão sagrado tesouro.

-Não deu certo. Ele não aceitou dividir o meu coração com um jovem maluco que conheci no passado e que havia me abandonado. Achava loucura. Nos divorciamos há dois anos.

-Ah! Minha querida... Casa comigo? É tudo que te peço. Nunca mais te deixarei.
-É tudo o que eu sonho há 23 anos.

Com um beijo eles selaram o compromisso, tinham como testemunha o pôr do sol, que mais uma vez via a vida dos dois jovens entrarem novamente em um novo ritmo, só que dessa vez unindo duas vidas em uma só.

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