Quando a noite caía começava a sua agonia. Uma só noite
representava um século de ansiedade, tortura, angústia e muito
medo para o solitário Antônio.
No silêncio noturno soavam estalos fantasmagóricos e qualquer ruído
para o insone, reagem os seus instintos de auto preservação, adicionando
adrenalina e forçando a agitação cardíaca. É
voraz a expectativa de assaltos e outras violências, que assolam a todos
nós e para Antônio, isso não era nada diferente. Há
tempos já não sentia mais segurança alguma - nem fora nem
dentro da sua casa.
Antônio sofria com essas ilusões noturnas desde a infância,
mas aquela noite no litoral, levou-o ao derradeiro caos emocional.
Era Sexta-feira, 13 de Agosto e a data já pressupunha que acabaria muito
mal aquele dia. Ao cair a tarde, pouco antes do anoitecer, ele começou
a fechar todas as janelas e a travar as portas externas e internas, fechando-se
no interior do quarto do andar superior, que dava para o banheiro e, também
trancou-o por dentro.
Sentia muito sono, mas algo lhe incomodava interiormente e a cada cochilo, acordava
com o silvar do vento forte.
- " Uma grande tempestade está se formando no mar e tais barulhos
são provenientes da agitação das folhas das árvores."
- pensava, tentando convencer a si mesmo, que todo aquele medo era descabido.
Custava a conciliar o sono, despertando a cada momento. Levantava, espiava pela
janela e voltava a deitar-se. Depois de abrir a vidraça, pois sentia-se
abafado e, também para possibilitar-lhe escutar qualquer som diferente,
cedeu ao cansaço.
Agitava-se, faltava-lhe o ar, cobria-se e descobria-se simultaneamente, na tentativa
de acalmar-se, mas era tudo em vão.
De repente um barulho surdo ecoou por todo o sobrado da praia deserta. Imaginou
alguém entrando, arrombando a porta e sentou-se na cama, em silêncio,
tentando ouvir mais alguma coisa. Demorou e nada. Nenhum sinal de passos. Acreditou
que seu sistema nervoso estava lhe pregando mais uma peça e decidiu arrefecer
ao sono, desistindo daquela ansiedade descabida.
Acordou no meio da madrugada sobressaltado, em meio ao suor que lhe escorria
pela testa, transfigurado de horror. Devia ter tido um pesadelo...
Percebeu então uma escuridão total. Viu que todas as luzes estavam
apagadas e gelou. Pensou instintivamente:
- "Alguém desligou o contador. Agora sim, é arrombamento
mesmo..."
Tentou o telefone sem fio, mas estava desligado pela falta de energia. Por sorte,
tinha um celular à mão e ligou para a delegacia, pedindo ajuda
urgente. Ao policial, disse que as luzes haviam sido apagadas pelos ladrões,
que nessa altura, deviam estar dentro da casa. Manteve-se quieto, dentro do
quarto até que chegasse socorro.
Ao desligar, o telefone tocou, assustando-o. Ouviu uma voz semelhante à
do policial com quem falara e começou a descrever-lhe a situação,
cheio de fobia e medo, mas do outro lado, ouviu uma fala contraditória,
dizendo-lhe que devia se mudar o mais depressa possível. Ele respondeu
depressa:
- "Não pretendo mesmo continuar por aqui."
Nisso, o policial parou diante do portão, apertando a campainha. Ainda
ao telefone e falando, Antônio sentiu-se mais seguro e desceu a escadaria,
abriu a porta da frente e foi até o portão, abrindo-o.
O policial contou que a luz se apagara por todo o quarteirão, devido
a um acidente - o poste envergara e alguns fios arrebentaram - causando o apagão.
Não era ladrão algum. Então ele o olhou e disse:
- "Estava agora mesmo falando consigo ao telefone."
O guarda ri e responde:
- "Não, mesmo! Eu estava aqui diante do seu portão e nem
tenho celular. Como poderia estar falando com o senhor?"
Antônio incrédulo, tentava em vão compreender o que se passou.
Quem poderia ter ligado àquela hora da madrugada, praticamente sabendo
o que se passava com ele e ainda aconselhando-o a se mandar dali?
Aquela foi uma noite infernal. Não conseguiu mais conciliar o sono, ficando
o restante da madrugada rezando para que o dia surgisse, sentado na sacada do
último andar e tentando desvendar aquele mistério, sem acreditar
no que lhe acontecera.
Amanhecendo o dia, juntou os poucos pertences, foi para a beira da estrada e
acenava nervosamente, pedindo carona para os carros que passavam. O ônibus
passaria bem mais tarde e, ele queria era sair dali, o mais rápido possível...