Há um tempo no colégio, terminei a prova e fui para o pátio
com as minhas amigas.Lá, como sempre lotado.E eu sempre atenta ao movimento.Pra
falar a verdade a um garoto que me chamava muito a atenção: alto,
branco, pirceng no nariz, cabelão, calça jeans rasgada e boné.A
mochila rabiscada cheia de nomes me chamava a atenção.Não
era tão popular, mas era feliz.Não tinha muitas amigas, mas me
divertia quando podia.
Talvez se fosse garoto, não faria a metade das coisas que faço
hoje e fiz depois de muitos acontecimentos que me deixaram frustrada.Minha infância
foi péssima...Abusada sexualmente pelo padrasto, alcoólatra aos
15 anos, tocava guitarra e faltava aula pra beber com meus amigos.Sempre morrendo
de tédio, morava em uma pequena cidade do interior de São Paulo.Tinha
uma banda.Era legal.
Um dia esse garoto que me chamava a atenção estava atravessando
a rua do colégio e foi atropelado pelo meu padrasto.Não voltou
mais...
Com 17 anos, tocando rock em barzinho.Uma cara da gravadora que tava no bar
adorou nosso som.Chamou a gente pra conversar.E fechamos o contrato.
Fizemos muito sucesso.Tudo por causa dela.Pensava eu.
Mas depois de um tempo eu já não estava mais aguentando o
sucesso.Foi ruim...Comecei a pegar pesado nas drogas e me aconselharam a um
tratamento com psicólogo.Tratei-me por mais de cinco anos.Continuo morrendo
de tédio, a solidão toma conta de meu presente...
Hoje internada.Não vivo mais sem ela.Preciso dela.Ela me faz bem e mal.Sei
que perdi tudo, meus amigos, minha casa, tudo.Ela já me fez muito feliz,
mas por pouco tempo.Hoje tenho alucinações por causa dela.Mas
não posso viver sem ela...Ela está no meu sangue.Eu a amo.
Antes de conhece-la terminava a prova e ia para o pátio olhar o garoto
que me atraia.
O papel já úmido...O lápis já não escreve
coisas com sentido.
Por motivos de saúde saí do vocal da banda.Bronquite, asma, rinite
e vários outros problemas no pulmão.
Sabe.Não saio daqui para a cadeia.Meu padrasto não merece.Fui
eu quem o matou.Á facadas.Lembro ainda do menino do cabelo comprido.Mas
ele o matou e eu o matei.
Mas não deu muito certo, pois daqui a pouco vamos nos encontrar e pagar
nossas contas.
E ela...Ela matando jovens de overdose, como eu.Só os idiotas amam ela.
Uma luz legal se aproxima de mim...Sabe, uma garrafa de wiski me faria bem.Nas
minhas feridas abertas no braço. Derramando no pulso aberto.
(27/09/04)