A jovem morena, esguia, ergue-se da cama e ruma ao banheiro.
O rapaz permanece no leito, dormindo. Ela entra no banheiro e abre o chuveiro,
lavando-se. O Sílvio está cada vez mais afoito, exigindo-lhe poses
que ela o satisfaz, mas, no íntimo, não concorda. Julga-se violentada,
prostituindo-se. Sim, porque para a grande maioria das garotas, o que pratica
pode ser natural, não com ela... Então, o sensato será
acabar o namoro que já se prolonga a oito meses, que a faz se sentir
"pequena", que...
- Numa hora, resolvo essa parada.
Exclama, em voz baixinha, sendo prática, resumindo-se. Numa hora...
Ensaboa-se devagarzinho, como se quisesse apagar do corpo bem proporcionado,
bonito, as loucuras cometidas, e se deixa no banho, relaxando, enquanto a mão
nervosa corre o sabonete pelos braços, seios, coxas, o sexo... O Sílvio
é um conversador, um cara sem caráter. Com presença, sorridente,
e muita "lábia" é mesmo um conquistador. Mas, ele foi
longe demais, contudo, ela Silene, não lhe permitiu os "avanços",
não o aceitou sem relutar? Portanto... Fecha a torneira e enxagua-se
defronte do espelho sobre a pia.
Os cabelos negros, longos, os olhos também grandes, negros, os traços
bem definidos do rosto moreno claro... Bonita. Sorri, ante a própria
imagem e, de repente, sente o desejo, que a domina. Então, impulsionada
por a força que a subjuga nesses instantes, termina de se enxaguar, penteia-se
e com os olhos cintilantes, devido à força que a comanda a agir,
deixa o banheiro.
Move-se decidida, retornando ao quarto.
Através da janela aberta, as trevas da madrugada se mostram, agasalhando
as construções de luzes acesas. O vento circula mais frio. Da
avenida embaixo, sobe o som - amortecido pela distância - da moto cruzando-a.
Silene avizinha-se. Sorrindo, deita-se ao lado do parceiro de "curtição"
no jogo amoroso.
- Acordado Sílvio?
A voz é sexy, os olhos brilham, a mão de longos dedos, feminina,
acaricia os cabelos ondulados, aloirados do rapaz que se limita a sorrir, vaidoso
em ser querido pela garota desejada pela turma da faculdade e que o preferiu,
entregando-se às suas pecaminosas loucuras...
A mão desce, afaga o pescoço de veia saliente, o rosto se chega
e... os caninos mordendo-o, suga o adocicado sangue.
Sonolento, Sílvio se entrega, para depois friccionar a pele, protestar,
com a voz enfraquecida:
- Silene, que novidade é essa de me morder de novo?
Então lhe dando as costas, para que não lhe percebe os caninos
avermelhados, ela responde:
- Isso faz parte do amor, Sílvio. Não esquenta!
A seguir em silêncio se vestem e abandonam o quarto, em direção
ao elevador, que os conduzirá ao térreo do edifício, onde
partirão no automóvel. Para retornarem noutra noite? Não,
se promete mais uma vez a moça. O Sílvio passou do limite...
- É a lógica da coisa.
- Falou, Silene?
O sorriso de covinhas no rosto, a cintilação no olhar, a graciosidade
de mão em pentear a cabeleira rebelde e a voz meiga:
- Está sonhando bem?
- Pensei que tivesse falado...
O carro distancia-se. Sem tardar, o novo dia surgirá, e tudo continuará
na sequência natural de sempre.
Com a mão nervosa afagando a cabeça do rapaz, a jovem se despede
do que os aproxima. Sim, de já, despede-se, enquanto com vagar, a outra
mão de Sílvio fricciona novamente o pescoço, sentindo-o
dolorido.
Entendendo-o, Silene foge o rosto de lado e sorri, com malícia.
Com rapidez, o carro ganha a avenida ainda sem o habitual movimento diário.