Carbamazepina, Fluoxetina, Cloridrato de amitriptilina.
Nada disso é demais, porém, nada disso é suficiente para
preencher o vazio da minha sombra refletida no vidro da janela do vizinho da
frente: o perfil de uma pessoa só, com seu cigarro pendurado nos lábios.
Sem mãos, sem olhos. Uma sombra.
A pretensão de uma mente vazia com mãos e braços prazerosamente
doloridos por segurar sua própria vida.
Não! Não! Não!
A cabeça cheia! Cheia! Mãos e braços vazios...
Acho que Deus colocou dedos em nossas mãos para que as coisas escorregassem
por entre eles, cedo ou tarde.
Meus lábios estão secos e meu corpo vazio.
Tenho neurônios a menos sim, afinal, o álcool e as crises existenciais
assassinaram meu cérebro.
É como quando nos sonhos a gente se vê correndo em "slowmotion",
olhando para trás, num puta esforço e percebe que quem te persegue
NÃO está em "slowmotion".
É ser caça.
É como quando nos sonhos a gente se vê no escuro tentando acender
a luz e não consegue. Tentando gritar e a voz não sai.
Dor.
Monossílabo atônico.
Substantivo abstrato feminino singular.
Dor. Ela não escorrega pelas minhas "mãos humanas".
Ar.
Ausência.
O ar que inalo é a nicotina e o alcatrão do meu cigarro.
Segredos.
Não há segredo que não possa ser desvendado, a não
ser o seu próprio.
Céu vazio. Nem lua nem estrelas. Eu vazio.
Eu no espaço vazio que minha mente preenche mediante tamanho, absurdo
e inexplicável silêncio.
Dorme, meu bem. Dorme teu sono tranquilo.
Dorme, que a pupila do meu olho se dilata e no escuro eu enxergo mais.
O medo? O medo é para as presas.