A Garganta da Serpente
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Abandono

(Pam Orbacam)

Carbamazepina, Fluoxetina, Cloridrato de amitriptilina.

Nada disso é demais, porém, nada disso é suficiente para preencher o vazio da minha sombra refletida no vidro da janela do vizinho da frente: o perfil de uma pessoa só, com seu cigarro pendurado nos lábios.

Sem mãos, sem olhos. Uma sombra.

A pretensão de uma mente vazia com mãos e braços prazerosamente doloridos por segurar sua própria vida.

Não! Não! Não!

A cabeça cheia! Cheia! Mãos e braços vazios...

Acho que Deus colocou dedos em nossas mãos para que as coisas escorregassem por entre eles, cedo ou tarde.

Meus lábios estão secos e meu corpo vazio.

Tenho neurônios a menos sim, afinal, o álcool e as crises existenciais assassinaram meu cérebro.

É como quando nos sonhos a gente se vê correndo em "slowmotion", olhando para trás, num puta esforço e percebe que quem te persegue NÃO está em "slowmotion".

É ser caça.

É como quando nos sonhos a gente se vê no escuro tentando acender a luz e não consegue. Tentando gritar e a voz não sai.

Dor.

Monossílabo atônico.

Substantivo abstrato feminino singular.

Dor. Ela não escorrega pelas minhas "mãos humanas".

Ar.

Ausência.

O ar que inalo é a nicotina e o alcatrão do meu cigarro.

Segredos.

Não há segredo que não possa ser desvendado, a não ser o seu próprio.

Céu vazio. Nem lua nem estrelas. Eu vazio.

Eu no espaço vazio que minha mente preenche mediante tamanho, absurdo e inexplicável silêncio.

Dorme, meu bem. Dorme teu sono tranquilo.

Dorme, que a pupila do meu olho se dilata e no escuro eu enxergo mais.

O medo? O medo é para as presas.

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