Tarde da noite bateram a porta. Resmungando fui abrir e surpresa vi que era
o visinho do apartamento ao lado. Um sujeito calado que não se aproximava
de ninguém.
- Uma xícara de café, por favor. - disse ele tão logo abri
a porta.
Praguejando fui buscar o açúcar e trouxe logo um quilo para que
não me amolasse mais. Entreguei com pressa, fechando a porta antes de
esperar pelo agradecimento. Demoraram alguns segundos antes que ouvisse a porta
ao lado fechar.
Dia seguinte acordei com certa movimentação no andar e fui olhar.
No mesmo instante em que o corpo do visinho passava, pálido.
- Há anos sofria de diabetes, coitado. - informou-me uma vizinha da frente.
- foi encontrado um pacote de açúcar ao lado do corpo. Vazio.
Aturdida fechei a porta. De repente uma onda de tristeza se abateu sobre mim.
Porque fui tão ríspida na noite anterior? Porque não o
convidei para entrar? Talvez quisesse conversar
Queria compensar de alguma forma e foi então que decidi que pagaria todos
os preparativos fúnebres do falecido. Fui ao enterro e chorei como uma
viúva depois caminhei solitária para casa debaixo de uma fina
garoa.
Em casa tomei um demorado banho quente, me aqueci numa taça de cabernet
e dormi com a alma lavada.
- E hoje, como se sente?.
- Bom, depois que nos separamos, meu marido e eu, acho que o mínimo que
poderia ter feito era ir ao enterro...