Esta manhã João se levantou, lavou o rosto, tomou seu copo de
café matinal, espiou os filhos que ainda dormiam, beijou a esposa e foi
trabalhar. O dia parecia normal, não fosse por um detalhe: antes de sair,
o pedreiro arrancou a última folhinha do calendário grudado à
geladeira e sorriu, era 31 de dezembro.
Este ano foi duro na vida de João. A construção de um grande
prédio na cidade parecia não acabar mais. Tijolo em cima de tijolo
e uma quantidade interminável de pedras davam a sensação
de que a obra nunca chegaria ao fim. Porém, ao acordar e confirmar que
era o último dia do mês de dezembro, o construtor respirou fundo
e encheu seu peito de esperanças.
Ao chegar à construção, João estava feliz. Subiu
as escadas do prédio assobiando, pegou sua pá cantando e sujou
seu rosto de cimento contando anedotas. Almoçou a fria comida sentindo
um sabor inigualável. Às cinco da tarde, olhou no relógio
empoeirado e viu que ainda faltavam três horas para terminar o expediente.
O céu foi escurecendo e as oito horas chegaram. João desceu as
escadas cansado, mas ainda assim animado; abriu os braços e disse aos
colegas que os esperava logo mais à noite em sua casa. Há dois
meses, o homem já vinha convidando a todos a passarem a virada do ano
com ele. Guardou um bom dinheiro para que fizessem uma bela ceia e pediu à
mulher que preparasse um belo jantar. Chegando em casa, o pedreiro deu um grande
beijo na esposa e abraçou os filhos. Tomou banho, colocou sua melhor
roupa, penteou os cabelos e engraxou os sapatos. Os amigos foram chegando um
a um e a casa foi se enchendo aos poucos.
Naquela noite o pedreiro bebeu, fumou, dançou, comeu e gargalhou. A meia
noite estava próxima, e a euforia da chegada de um novo ano alegrava,
cada vez mais, o coração do homem.
Dez
Nove
Oito
Sete
Seis
Cinco
Quatro
Três
Dois
Um
O ano novo chegou. João se despediu de todos e foi dormir, estava cansado
e teria muito serviço no dia seguinte. Aquele seria um ano de muito trabalho.