Noite de Reveillon, noite de melancolia. Desde às quatro, relâmpagos
atiram por entre as nuvens escuras, tramando uma cena ainda mais depressiva
para minha solidão. Armas seriam apenas o meio. Um céu é
rasgado pelo novo raio. Desejo. A mim seria tão mais confortável...
Mas nesta noite não visto sorte! Não nesta noite decadente, escondida
sob a esperança, em contagem regressiva, de felicidade.
Noite de Reveillon, noite de arrependimentos. Um velho arranha a garganta antes
de cuspir-se na rua para sua festa de promessas repetidas - mas o que é
o sonho senão o (des)compromisso em cumpri-lo? Um novo trovão
de artifício se funde à noite: nesta hora eles têm fé
e se abraçam.
Noite de Reveillon, noite de sensibilidade. O telefone toca uma chamada por
engano: "ainda assim, feliz ano novo", e ,entorpecido, agradeço.
Eles contam. Eu escrevo. E nossas vidas serão devoradas pelo mesmo verme
otimista - Ele sim, me diz Cubas.
Noite de Reveillon, noite de superstições, de fraquezas, mas,
ainda assim, inspiração. Eles contam. Eu escrevo. E a champanha
é estourada, por fim. Nesta noite que se esconde como o meu dia. Meu
novo dia de mudança. Meu primeiro novo dia de melancolia.