Naquele dia levantara com vontade de voltar para a cama. Arrastava os pés
com dificuldade, abria os olhos, querendo fechá-los. Mas se arrastou
até a cozinha, colocou café na xícara com bastante açúcar.
Que se danassem as dietas! Não precisaria mais fazer dieta alguma, agora.
Sorveu um gole do café e sentiu-se reanimada. Até pareceu que
a paz voltava.
Respirou profundamente, soltando um suspiro. Vivia assim, suspirosa, com dor
de alma. Incurável, dolorida, sentida, incompreendida. Suspirou novamente,
levantou-se, pegou um copo grande de água e voltou ao quarto. Abriu o
armário ao lado da cama, retirou as caixas de e caixas de remédios
'faixa-preta' que vinha escondendo há alguns meses. Abriu um por um os
comprimidos e foi colocando em cima da cama. Estava calma, em paz, como há
muito tempo não conseguia estar. Achara finalmente a sua cura.
Pegou as embalagens vazias, embrulhou em papel e depois colocou no fundo do
lixeiro do banheiro. Voltou aos comprimidos, cápsulas e drágeas,
espalhados em cima da cama. Era uma grande quantidade. Suficiente para fazer
dormir para sempre. Ah, como queria isso! Só assim acabaria com aquela
dor. E já se sentia melhor.
Pegou os comprimidos, um a um, e foi tomando com a água em um último
e silencioso ritual. Precisou buscar mais água, tantos eram os comprimidos.
Já se sentia um tanto sonolenta e uma gostosa sensação
de languidez já se fazia sentir. Iria ser bom. Muito bom. Dormiria para
sempre. Deitou-se, arrumou os travesseiros numa posição confortável
e cobriu-se porque começara a sentir frio. Ajeitou as cobertas. Agora
era só esperar. Estava em paz.