A Garganta da Serpente
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A cura

(Odete Ronchi Baltazar)

Naquele dia levantara com vontade de voltar para a cama. Arrastava os pés com dificuldade, abria os olhos, querendo fechá-los. Mas se arrastou até a cozinha, colocou café na xícara com bastante açúcar. Que se danassem as dietas! Não precisaria mais fazer dieta alguma, agora. Sorveu um gole do café e sentiu-se reanimada. Até pareceu que a paz voltava.

Respirou profundamente, soltando um suspiro. Vivia assim, suspirosa, com dor de alma. Incurável, dolorida, sentida, incompreendida. Suspirou novamente, levantou-se, pegou um copo grande de água e voltou ao quarto. Abriu o armário ao lado da cama, retirou as caixas de e caixas de remédios 'faixa-preta' que vinha escondendo há alguns meses. Abriu um por um os comprimidos e foi colocando em cima da cama. Estava calma, em paz, como há muito tempo não conseguia estar. Achara finalmente a sua cura.

Pegou as embalagens vazias, embrulhou em papel e depois colocou no fundo do lixeiro do banheiro. Voltou aos comprimidos, cápsulas e drágeas, espalhados em cima da cama. Era uma grande quantidade. Suficiente para fazer dormir para sempre. Ah, como queria isso! Só assim acabaria com aquela dor. E já se sentia melhor.

Pegou os comprimidos, um a um, e foi tomando com a água em um último e silencioso ritual. Precisou buscar mais água, tantos eram os comprimidos. Já se sentia um tanto sonolenta e uma gostosa sensação de languidez já se fazia sentir. Iria ser bom. Muito bom. Dormiria para sempre. Deitou-se, arrumou os travesseiros numa posição confortável e cobriu-se porque começara a sentir frio. Ajeitou as cobertas. Agora era só esperar. Estava em paz.

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