A praia estava deserta. Mas, o pessoal começou a chegar. Daqui, dali,
de todo lugar que se tem pra partir, diria Edu Lobo. O sol de fim de tarde de
agosto ainda não conseguia aquecer totalmente o vento que soprava calmo,
mas decidido a seguir seu caminho, trazendo também, sem o saber mais
pessoas para aquele areal imenso, areal privilegiado por um lindo mar de águas
fruta-cor, tanto que, quem não estivesse pressentindo a força,
que por vezes o destino demonstra ao ser pressionado pelos homens de carne/osso,
nem poderia imaginar que a noite chegante seria inesquecível.
Em quinze, vinte, minutos, sei lá, difícil olhar para o relógio
numa hora dessas, o tempo voou literalmente ao sabor do vento de agosto e, para
não me alongar, a praia estava já completamente tomada de homens,
mulheres e crianças, fincando estacas e erguendo barracas daquele plástico
preto tão denegrido (sem trocadilho) pelos plásticos multicoloridos,
que a tecnologia do petróleo espalhou cerelemente pelo mundo afora, via
"globalization"...
"Olha, meu! Tão montando uma favela na praia de Copacabana, cara,
pode ?!", exclamou alguém dentre os muitos curiosos que, também
começavam a chegar no calçadão da "Princesinha do
Mar", trazidos pelo bafafá criado no trânsito, nos bares e
nas barracas da Avenida Atlântica.
A confusão foi geral. Um fim de tarde calmo de agosto presenciou uma
noite feericamente iluminada por lanternas manuais, por faróis de carros
de curiosos e de veículos das autoridades, enfim, Copacabana era agora
a ágora que o povo escolhera para clamar por seus direitos de cidadão,
que as plenárias constituintes escreveram na Constituição
da República Federativa do Brasil. "É, cara, a coisa é
séria, mesmo!" exclamou outro alguém, ainda que até
o momento ninguém assumisse a responsabilidade de explanar o que era
aquele agito social, pois , explicar aquele acontecimento era desnecessário,
todo mundo sabia do que se tratava..Talvez algumas autoridades de Brasília
ignorassem esse fato social, mas a grande maioria da população,
certamente, sabia do que se tratava, ainda que Caymmi, o Dorival, já
o houvesse conceituado há muito: "!...Não tenho onde morar,
por isso eu moro na areia...".
Aquece vozerio todo em plena praia de Copacabana, numa reles sexta-feira do
mês de agosto, lá pelas 19:30 horas neste ano de 2007 pode ter
confundido alguns humanos reflexivos, mas para a grande maioria o Carnaval de
2008 estava começando e, olha, bem mais cedo que de costume.