Acostumada a águas serenas, ela contemplava com curiosidade o movimento
concentrado que surgia no meio daquele rio. No início eram pequenas ondulações
que foram aumentando, gradativamente, até formar uma cortina de águas
que estremeceu todo o local. Atônita, viu raízes que deixavam a
terra para enrolarem-se em seus tornozelos. Do rio emergiram cabelos negros,
olhos misteriosos, um deus molhado de perfeição, numa versão
masculina de Afrodite.
E não foram as raízes que a impediram de fugir mas a imobilidade
dos que precisam ver.
Com um olhar severo, perscrutante, dizendo mais que qualquer boca que intentasse
proferir palavra, ele se dirigiu a ela e beijou-lhe as mãos. Ela fechou
os olhos, capturada, presa dos desejos dele, sabia que o encontro com o intangível
deveria ser reverenciado, sacralizado no mais profundo do ser. E ajoelhou-se,
porque não podia resistir-lhe.
Sentiu-se erguida por fortes braços, depositada em terreno suave e depois
despida completamente, de alma e roupas. Seus lábios se tocaram e agora
ela respirava o ar que saía da boca dele. Não havia mais o mundo
externo, apenas o abismo de dentro de cada um. Como um demônio, ele afastou-lhe
as pernas e penetrou-a com violência, dentes nas carnes, unhas na pele...
frêmito. Dedos, boca, seios... candura. Ela existindo apenas nos movimentos
ritmados dele e o ventre em brasa, convulsionando de prazer. Ele penetrou mais
fundo, o membro latejante trespassando-a de uma só vez, amor e fúria,
o grito abafado por um beijo.
O gozo se anunciou e um mar incandescente desembocou dentro dela, transportando-a
ao limiar do prazer e da morte. Ele a conduziu esmaecida para o meio do rio...
sussurrou em seu ouvido que voltaria para tomar o que era seu para sempre. Retornou
às profundezas como um anjo, enquanto ela, flutuando nas águas,
renascia do sêmen em suas entranhas e descobria o amor.
(Novembro de 2002, quinta-feira 21)