A Garganta da Serpente
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As irmãs

(Nyx)

(...escuta: não há barulhos na casa). Tudo quieto, tudo estranhamente inerte. Os quadros nas paredes, cores desbotadas... ninguém na casa. (Esconda-se! Parece que vem alguém lá... não, nada...) Móveis antiquados, mas nenhum pó. Sei que na casa moram duas mulheres. Uma vive durante o dia, outra durante a noite. De modo que não se encontram, nunca se viram... (acredita nisso?) Nunca se falaram. São duas irmãs, gêmeas, separadas na infância... Ás vezes há choros e gritos durante a noite, noutras há músicas de piano durante o dia... E a casa, ah, a casa não é dividida! Há um só banheiro, uma só cozinha, um só quintal... Certo, há dois quartos sim, um nos fundos e o outro na frente da casa (nunca ouviu sobre elas? Olha... corre! Vem alguém mesmo...! Ah, é o gato...). O gato pertence às duas, porque gato dorme e acorda o tempo todo, de dia e de noite. Dizem que elas se odeiam: se uma põe vasos com flores durante o dia, a outra queima as flores no vaso, durante a noite. Se uma cozinha biscoitos durante a noite, a outra os pisoteia até tornarem pó, durante o dia. Mas há quem diga que as irmãs se amam: uma deixa uma xícara de chá para quando a outra acorda pela manhã. Sempre. E, durante o dia, a irmã faz a sopa para o jantar da outra... (não é estranho? Essa casa sempre limpa, sempre a mesma... só não sei onde está a dona da casa, se é que há uma dona!).

***

...não lhe falaram?! Lembra-se das irmãs? A casa incendiou-se, uma tristeza! As irmãs morreram queimadas, cada uma à sua maneira, mas estavam de mãos dadas! Pode ser, também, que seja especulação, eu não vi nada. Nem li nos jornais. Certo, nem sei se a casa ainda está lá... Por mim, prefiro a outra versão: que certo dia, cada uma das irmãs fez a mala, sempre de acordo com seus hábitos, e saíram da casa. Dizem, não sei, que foram vistas de mãos dadas na estação do trem. Foram embora juntas, imagine! Mas e a casa? De quem é a casa abandonada?

(Dezembro de 2000, sábado 16)

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