O que seria do arco-íris se a natureza fosse racista? - poste da Avenida
Luis Pereira Barreto esquina com a Rua Afonso Pena. Lá estávamos
nós. Sexta-feira. A Lua tatuada no céu e no meu braço esquerdo
fazia sua apresentação nessa noite regada à transpiração,
inspiração y conspiração. Zumbi na contenção
e na correria segura os cartazes. Eu na cola e no pincel. Juntos percorríamos
o centro da cidade
fazendo nossa parte no combate ao racismo e a homofobia. O cartaz feito por
nós mesmos no faça você mesmo. Duas imagens. Duas flores.
Uma rosa outra margarida. Segurando a rosa uma mão feminina negra, a
margarida uma mão masculino branca. No final do cartaz escrito "O
ke seria do arco-íris se a natureza fosse racista?" e mais embaixo
"Não importa a cor nem a opção sexual, somos todxs
terráquexs!" Os postes, muros... Nossos amigos se encarregavam de
expor nossa antiarteação para xs terráquexs do outro dia.
Colávamos e caminhávamos, colávamos... Nossos sentidos
armados, quando Zumbi me disse:
- Dandara olha quem vem lá?
- Hummmm.... fudeu! - Olhei e avistei a policia.
Caminhamos como se nada tivesse acontecendo. Zumbi mais que depressa fechou
a mochila com os cartazes, eu escondi o pincel ainda molhado em meu bolso esquerdo.
Fingi estar bebendo, pois a cola estava em uma garrafa de refrigerante, essas
de dois litros parecia batida de coco, pois a cola foi feita a base de água
e trigo, para despistar. A viatura foi se aproximando até chegar junto
a nós que estávamos na calçada.
- Ei vocês, o que estão fazendo? - disse o policial.
- Nada, apenas andando um pouco. Curtindo a noite. - respondeu Zumbi.
- Então vão curtir a noite na casa de vocês.
- Seu policial, só estamos apreciando a noite.
- O que!? Negão ta me desafiando? Vaza os dois, antes que eu me irrite
e dou um "sacode" em vocês.
Depois desse ultimato caminhamos de volta para casa. A viatura nos seguia. Quando
chegamos em nosso bairro não mais avistamos a viatura..
- Zumbi o que vamos fazer com o resto dos cartazes?
- Não sei... Ou melhor, sei! Vamos colar todos eles Lá na base
da policia militar lá perto do Centro Comunitário.
A noite foi-se. O Sol ressuscitou. Sete e quinze da manhã, eu com minha
bicicleta indo para o trabalho
mudei meu caminho só para passar perto da base. Ao passar vi um policial
arrancando ou tentando arrancar os cartazes.