A Garganta da Serpente
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não posso dizer que não me lambuzaria de você...

(Nina Rizzi)

... que o que disse são fantasias. éramos adolescentes e corríamos campos de chocolate. coco-caracóis. cria em nossas pernas, supercordas, a resolver distâncias. elas doíam, mas a dor era breve e boa, que nos acostumavámos fácil em vícios e poemas e pernas. as pernas se enroscavam e se perdiam e se encontravam. paletó e gravata, nós desatados, escharpes liláses.

tinha uns olhos revirados. feito bruma fora de órbita, em meus anéis, seus anelos. meus longos dedos. a mão água-forte. seus olhos suavam suores do cheiro de um deus que criamos. suores que tremiam à água-forte que nos arrebatava as pernas e dedos.

dançávamos ritos circulares, culturas seculares. giravam nossos sóis e já não tinha medo. dançava. meu corpo era seu palco giratório. sim, dançava e meus sóis te iluminavam o caminho, meus carrilhos. tatuava em mim tuas cores, claras e de misturas e de desenhos e cães.

entendíamos de sonhos e eu já não mais precisava tirar férias de mim. que também era você e já não era pranto. o oceano era meu riso, teus dentes, teus seios coloridos de minhas misturas tatuados em minhas mãos e boca.

minha boca cheia das borboletas que subiam em espirais, a correr pra tuas entranhas e revolver, miscigenar nossas borboletas que se encontram e bailam, giram. morriam uma morte instantânea e bela pra se re-revolver em novos seres que nos tornávamos a cada instante da vida nova e boa.

havia portas dalíanas. não batia que era sua a casa e eu também. e de chaves nada entendemos. era livre e saía e voltava. pétalas de meus lírios cobriam a ponte que nos unia. a ponte pegadiça que tem teus pés como senha. uníamo-nos humanas, animais, deusas e servas. e era o teu corpo o meu templo. meus braços o teu país.
e já não sou estrangeira, e já não te queda em pré-conceitos. agora nascemos. os medos e sonhos e prantos e gargalhadas estão inacabados. te esperando. esperando nossas construções.

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