A Garganta da Serpente
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Entrelinhas

(Mariana Porto)

O garçom, atendendo ao pedido dela, os levou a uma mesa onde sentariam em um sofá. Ela deixou a bolsa do lado esquerdo. Ele pegou o cardápio e fingiu ler.

- Sabe, eu gosto da forma que você age quando está sem-graça. Pega a primeira coisa escrita que vê, corre os olhos de cima para baixo e de baixo para cima, fingindo. E, enquanto isso, eu sei que você está me observando, de canto de olho, vendo se percebo que, na verdade, você não é capaz de dizer nada naquele momento e isso é muito, muito bonito. Quando dizemos alguma coisa só por dizer, em momentos como esse, acabamos estragando tudo o que há de mágico. Ou, pelo menos, a maioria. Porque usamos palavras vazias e pequenas para tentar preencher o que já está cheio e completo, simplesmente.

- Eu fico sem graça quando você fica me observando ler uma coisa qualquer e perco a concentração. Leio, releio, faço o possível, mas não consigo me concentrar. É o jeito que me você olha, quando eu normalmente passaria despercebido em minhas atitudes, que me demonstra o quanto você se importa com cada movimento meu. E, neste momento, eu percebo que não preciso esforçar-me para não passar despercebido por você. Não é preciso pedir, a atenção tua comigo é algo naturalmente belo. E não há cardápio no mundo que me faça sentir vontade de ler enquanto eu posso me sentir amado por você.

Finalmente, ele para de observar o cardápio e ela pega a bolsa para ver que horas são no celular.

- Então, já escolheu? Você estava tão quieto que eu nem quis atrapalhar.

- Bom, garçom, para mim uma soda com limão e gelo. E você, meu bem, quer o mesmo que eu?

menu
Lista dos 2201 contos em ordem alfabética por:
Prenome do autor:
Título do conto:

Últimos contos inseridos:
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente
http://www.gargantadaserpente.com.br