O garçom, atendendo ao pedido dela, os levou a uma mesa onde sentariam
em um sofá. Ela deixou a bolsa do lado esquerdo. Ele pegou o cardápio
e fingiu ler.
- Sabe, eu gosto da forma que você age quando está sem-graça.
Pega a primeira coisa escrita que vê, corre os olhos de cima para baixo
e de baixo para cima, fingindo. E, enquanto isso, eu sei que você está
me observando, de canto de olho, vendo se percebo que, na verdade, você
não é capaz de dizer nada naquele momento e isso é muito,
muito bonito. Quando dizemos alguma coisa só por dizer, em momentos como
esse, acabamos estragando tudo o que há de mágico. Ou, pelo menos,
a maioria. Porque usamos palavras vazias e pequenas para tentar preencher o
que já está cheio e completo, simplesmente.
- Eu fico sem graça quando você fica me observando ler uma
coisa qualquer e perco a concentração. Leio, releio, faço
o possível, mas não consigo me concentrar. É o jeito que
me você olha, quando eu normalmente passaria despercebido em minhas atitudes,
que me demonstra o quanto você se importa com cada movimento meu. E, neste
momento, eu percebo que não preciso esforçar-me para não
passar despercebido por você. Não é preciso pedir, a atenção
tua comigo é algo naturalmente belo. E não há cardápio
no mundo que me faça sentir vontade de ler enquanto eu posso me sentir
amado por você.
Finalmente, ele para de observar o cardápio e ela pega a bolsa para
ver que horas são no celular.
- Então, já escolheu? Você estava tão quieto que
eu nem quis atrapalhar.
- Bom, garçom, para mim uma soda com limão e gelo. E você,
meu bem, quer o mesmo que eu?