A verdade é que Lia não se arrumou para o tombo. Nada planejado;
foi se ajeitando, se encostando. Acostumou-se a dar muito e a receber pouco.
Foi perdendo partes no decorrer de sua história. Não lutou...nem
sabia que havia batalhas a conquistar. Deixou de lado o jogo, as peças,
as apostas, não desfrutou da sorte. Houve um xeque-mate...ela perdeu.
Hoje carrega o coração rasgado e remendado. Foi orgulhosa em não
recolher seus pedaços que impregnaram as fibras dos tapetes de Téo.
Muito tempo se passou, mas as lembranças ainda a arrepiam. Ninguém
ocupou aquele assento vazio ao seu lado. A mente voa longe e do vento ainda
extrai palavras que ele nunca lhe disse.
Todavia, ele não a excluiu de suas angústias, percebeu que naquele
barco minava água e purgou muitas noites sem sono por ter traído
a mulher que mais amou nessa vida. Embecilizou-se na busca vã de referências
e não encontrou forças no grito que chamava por ela...sua Lia.
Esvaiu-se em mediocridades. Numa gaveta úmida do criado-mudo, só
aquela foto dos dois amarrotada. Tentou abortar a dor e as lembranças,
mas não conseguiu. Continuou a escrever poemas para sua musa, como se
ela ainda estivesse ali. O amor continuou a existir, recíproco, mas nunca
mais se viram nem se encontraram.