A Garganta da Serpente
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Contraponto

(Maria José Zanini Tauil)

Ela não queria sair da cama. O corpo pesava e a aparência desagradava.
Buscou no chão os chinelos; faltava um pé. Desistiu e enfurnou-se novamente debaixo do travesseiro, trocou de posição, ficou de bruços, tentou o abandono. Que chato perder o sono!
O telefone toca. Era engano. A contragosto levanta-se e olha-se no espelho. Abre a janela e nela procura o tempo perdido. Na boca, o amargo sabor do fracasso. Aceitou em cheio os alvos de seus conflitos. Ensaiou com o marido largos passos no vazio. Reviveram juntos claros pontos de incertezas, estrearam gestos de avanço e recuo, mergulharam no escuro. Foram persistentes, mas a intolerância foi exaustiva. Foram perdulários e esbanjaram todas as chances de acerto.
Planejaram novos rumos, mas acabaram expressando extrema covardia.
O incrível é que continuam juntos, pelos caminhos do absurdo.

  • Publicado em: 10/11/2010
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