Ela não queria sair da cama. O corpo pesava e a aparência desagradava.
Buscou no chão os chinelos; faltava um pé. Desistiu e enfurnou-se
novamente debaixo do travesseiro, trocou de posição, ficou de
bruços, tentou o abandono. Que chato perder o sono!
O telefone toca. Era engano. A contragosto levanta-se e olha-se no espelho.
Abre a janela e nela procura o tempo perdido. Na boca, o amargo sabor do fracasso.
Aceitou em cheio os alvos de seus conflitos. Ensaiou com o marido largos passos
no vazio. Reviveram juntos claros pontos de incertezas, estrearam gestos de
avanço e recuo, mergulharam no escuro. Foram persistentes, mas a intolerância
foi exaustiva. Foram perdulários e esbanjaram todas as chances de acerto.
Planejaram novos rumos, mas acabaram expressando extrema covardia.
O incrível é que continuam juntos, pelos caminhos do absurdo.