"Se tu queres uma lembrança de mim, pede-me agora, pois vou partir
e por aqui, talvez não volte nunca mais...Se tu queres uma lembrança
de mim pede depressa, pra que eu te deixe o coração, que no meu
peito não se cansa de esperar...Eu, sim, quero uma lembrança de
ti, um doce beijo"...
Assim estava escrito no papel que minha mãe sacudia freneticamente,
quase esfregando na minha cara. As perguntas vinham como uma avalanche, sem
espera de respostas: "Quem é Carlos José? Que lembrança
você quer dar? Para onde você pensa que vai viajar? Quer fugir de
casa com esse cara? Me diga! O que você quer fazer de sua vida? E não
me diga que é de alguma amiga! Essa letra é sua!"
Eu não entendia nada! Ela não me deixava falar! Por fim, tive
o tal papel nas mãos. Era a letra de uma música chamada LEMBRANÇAS,
quem interpretava era o cantor CARLOS JOSÉ.
Expliquei pacientemente à minha mãe, do que se tratava. Ela não
se convenceu. Tive que "estacionar" diante do rádio por horas,
até que numa parada de sucessos da Tupi, tocou a bendita música.
Ela acompanhou-a todinha pelo papel. Continuou não acreditando em mim,
pois o locutor não citou o nome do intérprete.
Carlos José continuou por muito tempo sendo um namorado invisível
que minha santa mãezinha arrumou para mim..Se ia numa festinha na escola,
ela perguntava às minhas amigas: "O Carlos José também
vai?"
Um dia, meu pai trouxe um amigo para o jantar. Ele trabalhava na rádio
Nacional e trouxe um agrado para minha mãe. Era um disco setenta e oito
rotações com o belo sorriso de Carlos José na capa. Era
a música Lembranças...
Minha mãe olhou-me com cara de "tacho".