Tucão jurava: " Jandira, muié! Tu é excrusiva, tu
é o amô, a brasa viva. Tu é a que me recebe sem a luz apagá,
qui abre os peito pra mim se afogá". E Jandira sentia-se feliz assim,
sendo a fêmea, a coberta, o começo e o fim das orgias daquele cinquentão
rude, ignorante, mas romântico, verdadeiro poeta de alcova. Todos os dias,
ele descia o morro para trabalhar como pedreiro e, na volta, provava da pinga
puríssima no bar do Brito.
Ela, mulher classe média, aposentada da Petrobrás, um pequeno
apartamento num aprazível condomínio no Leblon. O jeitão
daquele mulato a atraiu desde o primeiro esbarrão, quando ele trabalhou
em pequenos reparos no seu prédio. Ele tinha cheiro de sexo e respirava
virilidade. Do primeiro olhar, para a cama, um pulo. Fazia de sua sala um bordel,
no mínimo duas vezes por semana. Ele tocava a campainha com sua mão
mundana, unhas sujas de cimento, sorriso meio deserto de dentes. Entrava sem
cerimônia, ligava o som, acendia um cigarro e rolava com ela, pela noite
afora.
Nos intervalos, contava da contravenção, das batidas da polícia,
das putas, dos mictórios fedidos do hotel da periferia, do jogo de ronda
e da porrinha, lá na favela. Falava do colesterol alto e das batatas
fritas da Antonieta, do seu corpo seco, dos seios flácidos, que tinham
sabor de comida congelada. Os olhos só brilhavam ao falar dos meninos,
dois netos, filhos da filha, que morreu. Exultava em contentamento por aquelas
crianças, para as quais, de vez em quando, Jandira enviava roupas e brinquedos,
na intenção de agradar mais o avô do que os pequenos.
Ela gostava demais daquele olhar clandestino, meio ladino, meio esfomeado, de
desejos lascivos. Aquele homem entrava no cio do seu corpo sem pudor. AÍ,
a metamorfose: Surgia a mulher libertina, mão trêmulas e vorazes,
pernas fraquejantes e caranguejeiras, olhar felino, desejo animal. Nessas horas,
nem correio, nem porteiro, nem bombeiro, nem o presidente da república
seriam atendidos à porta do 302. Se o prédio pegasse fogo, arderiam
juntos, pois eram de fácil combustão...