Era apenas um menino de dezenove anos. Um coração ansioso por amar
e ser amado. Trabalhava desde os quatorze para ajudar a mãe viúva,
mas a cara limpa não lhe conferia um jeito de homem feito. Era o ano de
mil novecentos e vinte e quatro e o mal do século o escolheu, como a muitos
outros jovens da sua idade. A tuberculose invadiu logo os dois pulmões.Foi
para Juiz de Fora por causa do clima mais ameno, propício ao tratamento
. Nas cartas à mãe, dizia que se sentia muito enfraquecido e que
queria voltar para casa, pois sabia que estava no fim. Era tímido, o olhar
baixo, que dizia muito, as mãos em desajeito, mãos sem pertences,
sem futuro feliz.
Um ruído seco de mala de couro, a mãe na janela, a corrida para
um abraço no filho doente, trazido pelo tio. Estava mais franzino, mais
pálido, aspecto de menino solitário e sofrido, pela tosse persistente,
pelo escarro sanguinolento. Abraçou-o, apertou-o junto ao peito, mesmo
diante do alerta dos outros filhos sobre o perigo de contágio. Aquela mulher
não acreditava que a doença pegasse desse modo, pois cuidou do marido,
também tísico, até o fim, sem separar nada. Naquele tempo,
só se divulgava que o vírus era pego no ar. Louças e roupas
eram lavadas juntas.
A enfermidade e a iminência da morte pareciam revestir aquele menino
assustado de coragem. Um olhar sem pressa, profundo, como se quisesse perceber
um território antigo e de preciosas esperanças. Um olhar demorado
sobre cada um dos irmãos, como se quisesse recolher do tempo passado
as manhãs amanhecidas na distância, os filhos que jamais fecundaria,
a mulher que jamais amaria. Sua alegria já estava sepultada naquele sorriso
tímido e na lágrima que corria silenciosa.
Na necessidade de repouso e a proibição de sair de casa; ficava
numa cama encostada à janela. O zelo e o carinho da mãe eram medidos
pelos caldos, suco de saião triturado, o mel puríssimo comprado
a preço módico. Certa feita, quando a mãe lhe estendia
um copo de leite, olhou-a com ternura e disse que, pelo simples fato de estar
em casa, morreria feliz. E assim foi.
Quando a primavera cedeu lugar aos calores do verão, despediu-se de
forma definitiva. Pediu que ela segurasse a sua mão. Perguntou-lhe, então:
"Quer que eu dê algum recado para Deus?" Ela olhou-a com desespero
e respondeu: - "Diga que Ele é injusto Ele não me ama!"
Sorrindo, ele completou: - "Não, mãezinha, ele não
é injusto e a morte não é um ato de desamor do Pai!. Ele
permitiu-me tê-la como mãe e ter tempo de aqui chegar para passar
os últimos momentos ao seu lado."
Foi perdendo o sorriso, apertou a mão da mãe e morreu.