A Garganta da Serpente
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Uma canção para aline

(Maria José Zanini Tauil)

Ela enrubescia e baixava os olhos, quando ele passava e cantava:"Love me, please love me / Je suis fou de vous / Pourquoi vous moquez-vous chaque jour / De mon pauvre amour / Love me, please love me / Je suis fou de vous / Vraiment prenez-vous tant de plaisir / À me voir souffrir / Si j'en crois votre silence / Vos yeux plein d'ennui / Nul espoir ne m'est permis / Pourtant je veux jouer ma chance / Même si même si / Je devais y bruler ma vie / Love me, please love me... ".

Isso acontecia desde aquele domingo, no parque de diversões da pracinha, na pequena cidade do interior, quando seus olhos se cruzaram. Naquele momento, era essa a música de fundo.Ele perguntou à sua irmã, o nome da bela menina de verde. Ao saber que era Aline, retrucou que com um nome desses, ainda era mais bonita.

Semanas depois, Aline percebeu que ele passava, ao cair da tarde, em frente à sua casa. Passou a esperá-lo, ora mexendo nas plantas, ora varrendo a calçada. Mal o rapaz pisava no primeiro degrau da ladeira, ela ficava inquieta, tamborilava com os dedos no portão, despetalava, nervosamente, uma rosa, enfim, fingia não notá-lo. Ele, sorria
e cantava um trecho da canção de Michel Polnareff. Ela, ficava séria, depois baixava os olhos e sorria, timidamente.

Ele devia ser novo por ali. Certamente, fazia daquele caminho, um atalho para chegar ao destino, vindo do trabalho. Quando demorava,Aline notava-se impaciente, uma certa agonia ansiosa. Certa tarde, ele não veio. No outro dia, também não. Estaria doente? Mudou-se? Perdeu o emprego? Mudou de itinerário? Nem seu nome sabia! Uma semana...um mês. A ansiedade foi dando lugar ao vazio de antes.

Três meses se passaram. Ela já havia perdido as esperanças de reencontrá-lo. Num domingo, no mesmo parque, ouviu a voz do locutor, através do alto-falante. Alguém oferecia uma canção para Aline, com todo o amor. Logo a seguir,
na voz do cantor francês : " Love-me please love-me..."

Êxtase, alegria, contentamento, coração acelerado, quase saindo do peito. A cratera preenchida de vazios, de repente, vira céu estrelado. As pernas tremem, mas, mesmo assim, corre em direção ao palanque de som. As esperanças cerram as cortinas, a escuridão e o desapontamento a esmagam. Lá estava ele, abraçadinho com uma bela moça.
Beijava sua boca e com a outra mão, acariciava a sua barriga de gestação avançada.No cordão de ouro, no pescoço
da mulher, uma plaquinha com as letras que formavam o seu nome: Aline.

  • Publicado em: 21/08/2008
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