Ela enrubescia e baixava os olhos, quando ele passava e cantava:"Love
me, please love me / Je suis fou de vous / Pourquoi vous moquez-vous chaque
jour / De mon pauvre amour / Love me, please love me / Je suis fou de vous /
Vraiment prenez-vous tant de plaisir / À me voir souffrir / Si j'en crois
votre silence / Vos yeux plein d'ennui / Nul espoir ne m'est permis / Pourtant
je veux jouer ma chance / Même si même si / Je devais y bruler ma
vie / Love me, please love me... ".
Isso acontecia desde aquele domingo, no parque de diversões da pracinha,
na pequena cidade do interior, quando seus olhos se cruzaram. Naquele momento,
era essa a música de fundo.Ele perguntou à sua irmã, o
nome da bela menina de verde. Ao saber que era Aline, retrucou que com um nome
desses, ainda era mais bonita.
Semanas depois, Aline percebeu que ele passava, ao cair da tarde, em frente
à sua casa. Passou a esperá-lo, ora mexendo nas plantas, ora varrendo
a calçada. Mal o rapaz pisava no primeiro degrau da ladeira, ela ficava
inquieta, tamborilava com os dedos no portão, despetalava, nervosamente,
uma rosa, enfim, fingia não notá-lo. Ele, sorria
e cantava um trecho da canção de Michel Polnareff. Ela, ficava
séria, depois baixava os olhos e sorria, timidamente.
Ele devia ser novo por ali. Certamente, fazia daquele caminho, um atalho para
chegar ao destino, vindo do trabalho. Quando demorava,Aline notava-se impaciente,
uma certa agonia ansiosa. Certa tarde, ele não veio. No outro dia, também
não. Estaria doente? Mudou-se? Perdeu o emprego? Mudou de itinerário?
Nem seu nome sabia! Uma semana...um mês. A ansiedade foi dando lugar ao
vazio de antes.
Três meses se passaram. Ela já havia perdido as esperanças
de reencontrá-lo. Num domingo, no mesmo parque, ouviu a voz do locutor,
através do alto-falante. Alguém oferecia uma canção
para Aline, com todo o amor. Logo a seguir,
na voz do cantor francês : " Love-me please love-me..."
Êxtase, alegria, contentamento, coração acelerado, quase
saindo do peito. A cratera preenchida de vazios, de repente, vira céu
estrelado. As pernas tremem, mas, mesmo assim, corre em direção
ao palanque de som. As esperanças cerram as cortinas, a escuridão
e o desapontamento a esmagam. Lá estava ele, abraçadinho com uma
bela moça.
Beijava sua boca e com a outra mão, acariciava a sua barriga de gestação
avançada.No cordão de ouro, no pescoço
da mulher, uma plaquinha com as letras que formavam o seu nome: Aline.