A Garganta da Serpente
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Um conto de Natal

(Maristel Dias Santos)

Era uma vez um garotinho cujo nome era Jonas e morava em uma cidade grande com seu pai, sua mãe e dois irmãos mais velhos que ele. Estavam na escola e sua mãe ia todos os dias levá-los e buscá-los de carro, pois a cidade grande era cheia de perigos e ameaças. As ruas, repletas de carros, que iam e vinham, eram um desafio mortal a quem se atrevesse atravessá-las. Homens maus se aproximavam das crianças com ofertas de balas e doces para roubá-las e venderem aos estrangeiros. Havia também aqueles que davam doces recheados com perigosas drogas. Aceitar algo de algum estranho, nem pensar! Jonas estava proibido de conversar com pessoas na rua, assim como seus irmãos, mas ficava muito triste, pois gostava das pessoas e adorava falar; era um tagarela. Ele também gostava muito de cantar e agora que o ano estava no fim, adorava quando a mamãe passava em frente das grandes lojas cheias de gente bonita de onde vinham sons altos de músicas natalinas: _______ Bate o sino pequenino, sino de Belém...________Hoje a noite é bela, juntos eu e ela..._____ Logo à noite, ó criançada, vem o bom Papai Noel...______ Papai Noel, vê se você tem a felicidade, pra você me dar..._____ Noite feliz, noite feliz...

Tantas luzes, tantas músicas, Jonas se encantava!

Mas, seus pais decidiram que aquele Natal iriam passá-lo no interior, na casa do Vovô José e da Vovó Maria. Pela primeira vez Jonas ia fazer essa viagem. E foi uma longa, mas linda viagem que fizeram. Quantas coisas que Jonas nunca havia visto! Bois, vacas, carneiros e até um tatu que atravessou bem devagar a estrada, obrigando o papai quase parar o carro.

Afinal chegaram na cidade do vovô. Era bem pequenina. Tinha poucas casas e uma linda igrejinha. A casa da vovó ficava em uma chácara cheia de árvores carregadas de frutas. Jonas nunca tinha visto mangas penduradas em árvores, nem cachos de uvas entre rica folhagem bem sobre sua cabeça. Fitava, olhos arregalados de espanto e risos de encantamento.

Enquanto todos iam para dentro da casa, Jonas ficou lá fora descobrindo coisas e mais coisas. De repente, no meio do capim alto, viu dois olhinhos brilhantes e vermelhos sob longas e peludas orelhas. Parecia um daqueles brinquedos de pelúcia que tinha em seu quarto, mas... Mexia-se!... Torcia o narizinho e piscava os olhinhos. Jonas correu para pegá-lo e ele fugiu, espavorido. Jonas perseguiu-o. O coelhinho fugiu, entrando em um bosque e Jonas atrás dele. Quanto mais Jonas corria, mais corria o coelhinho. De cá para lá, de lá para cá, iam se afastando da casa. Finalmente, muito cansado, desistiu de alcançar o lindo animalzinho. Foi então que percebeu: estava no meio de um mato fechado por altíssimas árvores. Quis voltar, mas por mais que andasse, não conseguia sair daquela floresta. Pior é que estava ficando escuro e Jonas, embora fosse um menino muito corajoso, começou a ficar com medo. Subiu em uma grande pedra e começou a chamar: Papai!... Mamãe!...

Estava tão cansado! Sentou-se ali mesmo e começou a chorar. Era véspera de Natal e ele não estaria em casa para receber os presentes que o Papai Noel iria trazer logo a noite. Tanto chorou que acabou adormecendo. Quando acordou já era noite fechada, mas em torno dele, milhões de luzinhas acendiam e apagavam. Eram vaga-lumes que, aos milhares, iluminavam os arbustos. Jonas pensou que fossem árvores de Natal piscando suas luzinhas e foi ver de perto. Porém, quando se aproximava, elas se afastavam para outro arbusto e Jonas foi seguindo aquele movimento. Parecia que os pirilampos, naquela noite de Natal, queriam fazer um milagre e levar Jonas de volta à casa, onde seus pais, irmãos e avós, se desesperavam a sua procura.

Já era tão tarde e sua mãe chorava, abraçada a sua avó, à porta da pequena igreja onde foram rezar pelo menino, imaginando que alguma fera houvesse atacado o pobre Jonas.

Enquanto isso, ia ele perseguindo os vaga-lumes que pareciam dirigir-se para algum lugar determinado. Foi aí que Jonas viu, em uma pequena clareira, uma luz emoldurada por uma janela. Era nessa direção que os vaga-lumes queriam levá-lo. Aproximou-se temeroso, lembrando dos conselhos maternos, que não conversasse com estranhos. Podia ver agora uma casinha muito pobrezinha e seu coraçãozinho estava cheio de medo. Lembrou das bruxas e homens maus que ele conhecia através dos livros de história que a mamãe e a professora liam para ele. Ai, que medo!... Mas os vaga-lumes iam e voltavam como se estivessem convidando o menino para ir até aquela casinha. Confiou naqueles bichinhos luminosos. Estava agora diante de uma porta e timidamente, bateu. Alguém lá dentro parecia estar com mais medo que ele e demorou em responder. Afinal, uma vozinha de criança:

__ "Quem bate em minha porta"?

__ "Sou eu. O Jonas. Por favor, me ajude. Eu estou perdido".

A porta foi se abrindo cuidadosamente e um garotinho, pouco maior que Jonas, espiou, pondo a cabecinha para fora. Ao ver aquele menininho assustado, logo abriu toda a porta para que Jonas entrasse. Havia também uma menina pequena na casa. Daquela maneira natural e informal, que só as crianças conhecem, se apresentaram. Jonas descobriu que aquelas duas crianças eram irmãos e que estavam sozinhos em casa, pois o papai e a mamãe foram à cidade comprar alguns alimentos para a ceia de Natal. O menino chamava-se Pedro e a menina, Lucinda. Estavam ansiosos esperando a volta do papai e da mamãe. Pedro ofereceu a Jonas um pedaço de bolo que a mamãe deixara preparado para as crianças e água, pois outra coisa não havia naquela casa tão pobrezinha. Para Jonas, que estava faminto, aquilo era um banquete. Pedro tranquilizou Jonas, falando que assim que seus pais chegassem, levariam o menino de volta à cidade que não ficava muito distante dali. Como Jonas estava feliz! Afinal, existia gente boa também, neste mundo de Deus! Ainda bem...

Logo, logo ouviram as vozes do pai e da mãe das crianças que se aproximavam. Ficaram muito surpresos e se prontificaram a levar Jonas para casa. Mas não antes de abrir os pacotes que haviam trazido, onde havia biscoitos, refrigerantes e até um frango assado! Foi uma festa!

Então Jonas pediu que fossem todos juntos até a cidade e depois na casa da vovó para conhecer a sua família. Concordaram e logo estavam caminhando em direção à cidade. O pai ia à frente e levava uma lanterna para iluminar o caminho. Porém, os pirilampos, que por ali também estavam, acompanhava-os e toda a floresta ficava iluminada.

De repente, Jonas começou a ouvir, ao longe, uma música de Natal. Foram ao encontro do som: ele, os vaga-lumes e seus novos amigos. Em breve saíram da mata. Isto é, Jonas, Pedro, Lucinda e seus pais... Porque os vaga-lumes pararam na última moita. Distante, as luzes da cidade resplandeciam. Jonas correu para lá. Viu a igreja toda iluminada. Era a missa do Galo e a cidade inteira cantava: Noite feliz, noite feliz...

Por um instante parou e virou-se, como se quisesse despedir-se dos seus amiguinhos luminosos e viu que eles ficaram lá longe, na última árvore da floresta e se reuniram no formato de uma estrela faiscante. Jonas acenou-lhes um adeus e, de mãos dadas com Lucinda e Pedro, correram para a praça iluminada.

Bem defronte à igreja sua família estava reunida rezando por Jonas e o menino voou para eles, gritando: __Papai, estou aqui! Mamãe, vovó!

Quanta alegria!

Na igreja, as vozes cantavam Aleluia... Aleluia...

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Voltaram todos juntos, para a casa da vovó e insistiram muito com os pais de Pedro para que ficassem com eles naquela noite de Natal e participassem da farta ceia que por eles esperava.

Sob a árvore de Natal muitos e muitos embrulhos coloridos com presentes para toda a família. Não havia presentes para os inesperados convidados, porém ninguém hesitou e todos quiseram repartir com eles os lindos presentes que ganhariam.

Esse foi o mais bonito Natal que aquelas famílias jamais conheceram!

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