Clichês são sempre cafonas, ultrapassados, mas servem justamente
para aquelas ocasiões tão conturbadas. Ou que a sociedade considera
conturbada porque não quer enxergar, mas é vivida por tantos milhões
de pessoas, em inúmeros lugares, com outras culturas - está ali
e ninguém quer ver. Mas será que tem que ser visto? Anunciado?
Creio que não! E deste modo vou vivendo. Rubens acha que não devo
ficar questionando tanto o caso, mas sou homem, como não questioná-lo,
ainda mais da forma que fui criado. Não faço o estilo machista,
já que tive apenas a companhia de minha mãe e três irmãs.
Meu pai faleceu quando eu ainda era muito menino. E minha mãe, não
permitiria nunca que o seu único filho fosse o tipo de homem que não
considerasse as mulheres. Meu pai era assim, talvez por isso tenha morrido tão
cedo. E tenho medo de não poder seguir minha vida, ou a que acho que
tenho direito, por me achar diferente.
Pra esclarecer o início dessa prosa. Somos amigos desde a infância,
amigos inseparáveis. Rubens sempre dizia: _ Gabriel, mesmo que você
vá morar no Himalaia nunca vou esquecer de você. Rubens não
é viado, é até do tipo escroto, e talvez por isso eu goste
tanto dele. Ele trabalha num shopping em Realengo, pra ele tá tudo bom,
inclusive o seu parco salário, ele é segurança, tudo a
ver com a sua personalidade, e sempre conclui nossas discussões com um
conhecido clichê: _"Mulheres adoram fardas". Eu trabalho na
Bolsa de Valores do Rio, não tenho nada a ver com o biotipo dos homens
que habitam esse universo, mas estou lá há 10 anos, e sou um dos
melhores, talvez pelo fato de ter sido criado por mulheres, acabei, por pura
osmose, integrando meu ser masculino com o que as mulheres têm de melhor,
perseverança e frieza, isso quando querem.
Saíamos sempre pra beber na 6º feira, sempre no mesmo bar, à
mesma hora e volta pra casa, sempre do mesmo jeito. Tínhamos os mesmos
amigos e até, não muito raramente, as mesmas namoradas, sem que
elas soubessem disso, é claro! Mas um dia tive que visitar minha mãe
em Mendes. Resolvi ir de ônibus, já que estava muito cansado pra
dirigir. Convidei Rubens, mas ele tinha um desses compromissos inadiáveis,
dormir até bem tarde. A viagem transcorreu normalmente. Cheguei à
casa de minha mãe por volta das 11 horas e um bom almoço já
estava sendo preparado. Uma de minhas irmãs, Lygia, a caçula,
também estava lá e com ela, Gabriela, uma amiga de trabalho. Elas
trabalham no Banco de Boston como advogadas. Logo que cheguei fui saudado com
muitos beijos, de ambas as partes, excluindo apenas a amiga de minha irmã,
que ficava me olhando e sorrindo com a cena. Fiquei um pouco desconcertado,
e me vi ruborizado, excusando-me das duas e procurando o mais rápido
possível sair daquela situação. Gabriela continuava a me
olhar e seus olhos brilhavam, o que me deixou mais vermelho ainda.
O final de semana não teve nada de anormal. Quando já estava me
preparando pra ir embora, Gabriela me oferece carona. Lygia não viria
com ela, iria ficar mais um dia fazendo companhia pra minha mãe. Digo
que não, que não precisava se incomodar, que não era o
seu caminho. Eu morava em Jacarepaguá e ela em Ipanema. Totalmente contramão.
Mas não deu pra me esquivar e segui com Gabriela que parece ter ficado
muito contente com a minha aceitação, o que ainda estava me deixando
com a mesma sensação do primeiro dia, quando nos conhecemos.
Fomos escutando Frank Sinatra e fiquei pensando que este gosto musical nada
tinha a ver com ela. Ela fazia o tipo despojado, moderninho mesmo, das que gostam
de hip hop ou coisa do gênero. Eu sim, apresentava um gosto menos eclético.
Poderiam me considerar careta mesmo. Do tipo que não modifica muito seus
gostos. Talvez porque achasse complicado gostar de tantas coisas diferentes,
apesar de ter convivido com coisas diferentes, e isto devido à minha
posição social. Mas não gostava de ostentar, achava ridículo
e não precisava.
Ainda em Paracambi, que fica bem longe do meio do caminho, Gabriela resolveu
dar uma paradinha numa lanchonete da cidade, pois estava com sede. Como eu não
tinha nada de mais urgente pra fazer, topei o convite e paramos. Ao invés
de uma água mineral, ela resolveu pedir uma garrafa de cerveja e dois
copos. No início eu quis recusar, estava muito cedo ainda pra beber;
claro que não, já era meio-dia, mais do que tarde pra começar
a beber numa bela manhã, início da tarde de um domingo, que parecia
e prometia. Fomos aos copos de cerveja e aos goles, que se transformaram em
muitos depois dos primeiros, e já estávamos na 5º garrafa,
quando resolvemos pedir alguma coisa pra comer, porque lembramos que ainda tínhamos
muita estrada pra rodar, e deste jeito não iríamos chegar em casa,
nem que quiséssemos; ambos estávamos quase bêbados.
Comemos um razoável almoço, ainda regado a muita cerveja e não
dizíamos nada. Apenas nossos risos falavam. Nossos olhares que misturavam
um brilho de álcool e sedução, as línguas que dormentes
olhavam os lábios, e fomos ficando, até que começou a escurecer
e não queríamos prestar atenção neste doloroso e
final fato, tínhamos que ir embora.
Ficamos um pouco mais ali naquela lanchonete esperando o porre passar com muito
café sem açúcar e alguns papos descontraídos pra
ajudar.
Ela me deixou em casa e seguiu seu caminho, ainda um pouco bêbada, apesar
de eu implorar pra ela não me deixar em casa e seguir o seu destino o
mais rápido possível, mas ela era irredutível em sua vontade,
coisas de advogado, eu concluí.
A primeira coisa que fiz quando cheguei, obviamente foi ligar pro Rubens pra
contar de Gabriela, e a primeira coisa que ele me perguntou é se eu havia
comido a garota. Bem típico dele esse tipo de pensamento. Quando eu disse
que nós ficamos horas bebendo e não fizemos nada, ele me chamou
de babaca e disse que tava cansado de tentar arranjar mulher pra mim, que eu
não comia ninguém e que se fosse ele, ah! Gabriel, seria diferente,
é claro!
Achei graça como sempre dos seus comentários e continuei a minha
semana costumeira como sempre.
Já tínhamos combinado o chopp da 6º feira quando recebo um
telefonema, isto na 5º feira. _Oi, lembra de mim? É claro que eu
não queria lembrar, fiquei um pouco confuso no início, pois nunca
havia falado com ela ao telefone, mas era Ela - Gabriela. Sei que no exato momento
em que o meu cérebro decodificou sua voz fiquei vermelho como um pimentão.
Não tinha motivo pra isso, pensei. Mas será que não? Afinal
estava desta maneira porque?
_Oi Gabriela, tudo bem? Como conseguiu meu telefone? Ela falou, quase que sussurrando,
com uma voz que parecia que ia gozar. _ Eu, bem, é claro que foi com
sua irmã, a Lygia, e olha que ela gostou muito da ideia. _Eu imagino.
Comentei. _Ela gosta muito de se meter na minha vida, mas o que você quer?
Concluí. _Eu, eu acho que você não gostou do meu telefonema,
ou estou enganada? _Não, apenas impressão. Falei meio que duvidoso
da minha resposta. _Então ótimo, estou te ligando pra te convidar
pra uma festa, que tal? -Ah, não sei não. Posso levar um amigo?
O Rubens seria o meu álibi por toda a noite, pensei. Mas ela parece não
ter gostado. _Um amigo, eu hein, mas tudo bem, se esta é a forma que
você encontrou pra ir a festa, por mim tudo bem, pode levar seu AMIGO.
Combinamos o horário, o local e na 6º feira estávamos nós
dois indo pra festa da Gabriela, eu em pânico e Rubens super curioso,
pronto pra cantar a garota, e quem sabe, com muita sorte, levá-la pra
cama. Ele gostava desse tipo de competição masculina, obviamente,
se não tivesse sentimento envolvido. Mas acho que ele nunca foi apaixonado
por ninguém, e se foi, escondeu muito bem, mas impossível, não
desgrudávamos, éramos os amigos, tipo amigas pra sempre.
Chegamos na festa um pouco além do horário marcado, umas 2 horas
de atraso apenas. Nada absurdo vindo de dois homens brasileiros e sem compromisso
com alguém. Fomos logo avistados por Gabriela, que estava com um vestido
tomara-que-caia vermelho, que lhe caía muito bem no corpo. Ela é
dessas mulheres pequeninas, toda jeitosinha, com cinturinha fina, seios proporcionais,
nenhuma barriga, e um pezinho também proporcional ao seu tamanho. Toda
certinha, do tipo vontade de pegar no colo. Ah, e não podemos esquecer
da bunda, que creio eu, tem tudo a ver com o restante, e que restante. É
claro que o Rubens foi ficando animadíssimo. Eu, continuava a ficar ruborizado
e Gabriela a puxar conversa, a sorrir, a oferecer-nos bebidas, salgados, ela,
a festa, a dança, sua boca, seu corpo, suas mãos, e outras mãos
naquela confusão de corpos que dançavam freneticamente também
bolinavam nossos corpos que precisavam passar pro outro lado toda vez que quiséssemos
ir ao banheiro.
Lá pelas tantas, Gabriela some e quando dou por mim, Rubens também.
Fiquei imaginando o pior, mas que pior é esse, se ela ficou dando em
cima de mim a noite toda e eu fingi que não tava nem aí? O Rubens
não se fez de bobo e foi logo passando a mão e deveria estar passando
a mão mesmo, e fiquei pensando onde ele estaria com a mão, quando
começo a ficar de pau duro e percebo que Gabriela vem em minha direção
e que não está com o Rubens, e meu pau, ali duro, num canto da
casa onde estava rolando a festa, e pergunto-me, e se ela resolve aproximar-se
com mais intimidade, não vai ter como não sentir o volume que
está querendo sair de dentro da calça e se expandir, expandir,
até se desmanchar em pura porra de prazer. É mais do que óbvio,
real, sincero, tudo que seja afirmativo, que ela veio em minha direção,
e quando chegou, ficou o mais perto de mim que podia e pôde sentir o volume
ali, em riste, querendo ela, apenas ela, e ela estava ali, quase grudada em
mim, sentindo o meu pau a querer perfurar-lhe as entranhas e com a sua presença,
é claro, ele foi crescendo, crescendo, e com ele o maldito desejo por
Gabriela. Ela se grudou e começou a balançar o seu corpinho delicadamente
contra o meu pau. Cravou suas unhas nos meus braços e pediu pra que eu
colocasse a minha mão no meio das suas pernas e começasse a tocá-la.
Desta hora em diante não vi mais nada, segui os impulsos de Gabriela
como se fosse uma marionete comandada por seu dono. Nós dois ali parados,
grudados num canto da parede qualquer, num vaivém de mãos, eu
escarafunchando sua bocetinha, pois era pequenina como ela, ela a ficar mais
do que molhada, como se quisesse inundar minhas mãos a mexer seu corpinho
e a grudar no meu pau, que não conseguia mais segurar o tesão
e explodiu, fazendo com que eu emitisse um gritinho, abafado pelas mãos
de Gabriela que gozava, e gozava, e gozava; cheguei a pensar que era muito líquido
pra uma mulher tão pequena.
Depois de refeitos não tinha como evitar os olhares, não nos demos
conta que estávamos ali a mercê das expectativas de muitos e um
desses muitos era o Rubens, que olhava embasbacado pra gente, sem saber se fazia
cara de tesão ou de assustado com a cena.
É claro que ele não ousou um só comentário, mas
confesso que achei estranha a sua atitude, ele mais parecia encucado que qualquer
outra coisa. Deixei pra lá e também não comentei, marquei
de ligar pra Gabi e ela se despediu de nós dois como se não tivesse
acontecido nada.
O final de semana foi igual aos outros. Eu e Rubens no nosso habitual programa,
mas tinha ficado algo no ar que eu não conseguia identificar. Eu, às
vezes, percebia uma olhada estranha de sua parte, e continuava sem entender
o porque. Resolvi, lá pelas tantas do Domingo perguntar o que estava
acontecendo, e pra que? "Quem fala o que quer escuta o que não quer".
Sempre escutei esse provérbio e senti na pele o seu real significado.
Rubens é claro, devido ao seu tipo de ser, o tipo meio escroto que eu
relatei no início, veio com uma conversa meio barro, meio tijolo, que
me deixou mais embasbacado do que ele quando olhou pra mim e pra Gabriela na
festa, depois do ato sexual-paredal de nós dois. Ele veio com uma conversa
mole que a garota não era legal pra mim, que ela não inspirava
confiança e eu fui logo perguntando e me encrespando, já que ainda
guardava a sensação dela em meus sentidos masculinos e queria
vê-la outra vez, pra terminar, ou começar, sei lá... Mudei
de assunto, e fiquei chateado com Rubens achando que era puro ciúmes,
cheguei até a pensar, será que nunca percebi que ele é
viado? Logo tirei este despautério de minha mente e resolvi deixar pra
lá, talvez ele me explicasse direito qualquer dia.
Liguei na 2º pra Gabi, como combinado, e marcamos de sair depois do trabalho.
Obviamente, Rubens não iria e tive que avisá-lo que não
iríamos juntos pra casa. Ele não gostou muito e perguntou se eu
ia sair com a vagaba, perdão, Gabi. Fiquei puto e disse que ele não
conhecia a garota o suficiente, aliás não sabia nada dela pra
chamar ela de vagaba. Ele pediu desculpas e eu continuei puto. Encontrei Gabi
já eram 8 da noite e ela estava linda, ou sempre foi, e depois do nosso
choque térmico ela havia ficado mais linda, mais gostosa, mais tudo,
e foi instantâneo, meu pau começou a ficar duro e eu a ficar vermelho
que nem um pimentão. Ela se aproximou, ficou na pontinha dos seus pequeninos
pés e me deu um beijo na testa, bem esforçado, devido ao seu tamanho
mignon. Fiquei com um bico solto no ar, pois estava esperando um beijo
na boca, nem que fosse um estalinho. Nós homens modernos ainda temos
que aprender muito com essas mulheres modernas. Fiquei sem graça!
Resolvemos ir para um bar na Lapa, resquício da boêmia carioca.
Pedimos uma cerveja e alguns petiscos pra morder. Gabi agia como se nada de
diferente entre nós tivesse acontecido, e seu comportamento estava me
deixando irritado e, ao mesmo tempo, intrigado. Resolvi quebrar a monotonia
de nosso encontro e perguntei: _Tá tudo bem com você? Alguma coisa
diferente? _Claro que não, tá tudo ótimo e o Rubens como
vai? Vocês chegaram bem aquele dia? Como foi seu fim de semana? Ah, estive
com Lygia no Sábado, fomos pra uma boate na Barra. Tava legal, conhecemos
uns caras. Deu pra dançar bastante, mas nada de interessante. Ficamos
de nos ver outra vez, no próximo fim de semana, e vamos à mesma
boate, quer ir? Ela falou tudo isso. Fiquei mais atordoado ainda. Por que mulher
responde o que nós perguntamos com outras perguntas? Se fosse uma ao
menos, mas são várias, e na maior parte, uma não tem nada
a ver com a outra. Respondi monossílabos pra ela, e ela, obviamente não
respondeu o que eu perguntei de início. Fiquei monossilábico,
aliás me senti assim a noite toda. Mas fomos embora tarde da noite, mesmo
sem que a noite estivesse animada, eu não estava animado, pois Gabriela
estava animadíssima.
Ficamos de nos encontrar no meio da semana, e desta vez juro que ela vai ter
que dizer alguma coisa. Mas que coisa quero ouvir: Que ela quer ficar comigo,
que ela gosta de mim, esteve com saudades, ou do tipo: "Estive esperando
você esse tempo todo!", sei lá, qualquer coisa do gênero.
Me achei um bobo machista, e eu que não me achava machista e sim o Rubens,
e ele ainda diz pra eu não encucar com o assunto. Mas tenho que tirar
isso a limpo. Ele vive me dizendo pra eu não esquentar, que ela não
vale a pena. E aí, resolvi tirar a limpo com o meu melhor amigo.
Marcamos de nos encontrar depois do trabalho. Fiquei no mesmo bar esperando
por Rubens e ele nada de chegar, liguei pro seu celular, e estava desligado.
Ele nunca fez isso comigo, devia ter acontecido alguma coisa séria, ele
não me deixaria esperando. Então cansado de esperar em vão,
deixei recado com o Hebinho, o garçom do nosso bar e fui pra casa. Fui
dirigindo como se estivesse anestesiado, minha mente, essa estava. Eu ficava
martelando pensamentos sobre a Gabriela, sobre o Rubens me fazer esperar, sobre
o tesão por ela, a bronca por ele, que nem percebi que estava indo pro
caminho errado. Perdi o retorno pra linha-amarela e me estrepei, fui parar numa
favela, e tive uns maus momentos pra sair de lá, mas meu anjo-de-guarda
estava de plantão e retornei ao meu retorno, seguindo ainda meio turbilhonado
o meu pensamento e o trânsito que não ajudava muito. Virei a esquina
e reconheço o carro do Rubens parado, ele aos beijos com uma morena,
que me parecia muito peculiar e de repente tive uma reviravolta no estômago,
ao mesmo tempo que percebi que os beijos eram pra Gabriela, que esteve ontem
comigo, e estava hoje com ele, e ele me deixou plantado que nem um babaca pra
estar ali, parado perto de onde nós morávamos, com a garota que
eu pensava ser, ou poderia ser, minha namorada.
Fiquei em pânico, e homens educados quando enraivecidos se tornam mais
trogloditas que os mais broncos, e me vi, esmurrando a porta do carro do Rubens,
e duas caras, meio que estupefatas, a me olhar, entre risos e caras de não
sei lá o que, pois nessa hora, não vi mais nada, e dei um soco
na cara do meu melhor amigo e da minha ex-futura-namorada.
Fui acusado de tudo pelos dois. Rubens queria explicar, Gabriela também,
mas eu, irredutivelmente, andei pra minha casa, pros meus travesseiros, pois
eram 6 e resolvi ligar pra minha mãe. Não consegui falar nada
e só ficava chorando, ela, minha mãe, cada vez mais apavorada
e eu sem emitir um fonema sequer, só ficava chorando e chorando, estive
por muito tempo, depois sem mais a minha mãe, que cansou de esperar e
desligou o telefone. Fiquei mais arrasado ainda, e resolvi bater à casa
de Rubens para termos uma conversa de homem pra homem.
Obviamente, adoro esta palavra, porque não fui óbvio, pergunto,
e não sei a resposta - ele, Rubens, não estava e fiquei mais enlouquecido
ainda, achando que os dois depois do susto poderiam estar trepando, meu eterno-ex-amigo
com a minha-ex-futura-namorada. Fui pra mesma esquina, e é claro, o carro
não estava mais lá, nem vestígio dos dois, nada, apenas
eu, parado aos prantos, com os olhos vermelhos de tanto chorar, erguendo os
braços pro céu a perguntar: Por que comigo?
No dia seguinte recebi um telefonema de Gabriela querendo me encontrar. No início
pensei em xingá-la bastante, mas não me vinham os palavrões
e marquei com ela naquele horário mesmo, dane-se a bolsa de valores e
os malditos investimentos, que todos percam bastante dinheiro, blasfemei e saí
pela porta, como se nada tivesse acontecido. Encontrei Gabi mais bonita do que
nunca, queria me odiar por tal sentimento, mas aquele jeitinho mignon
de ser, aquele corpinho que me causava tanto tesão, o meu pau duro, que
ficava duro só de pensar nela. Ela foi falando com sua vozinha meiguinha,
e ela era tão tudo "inha" que fiquei ali, amolecendo, sem nada
mais pensar e ela e a me enrolar. Ela estava explicando do Rubens, de nós
três, eu sem dar muita atenção, meio que petrificado, meio
ruborizado, e ainda com um puta tesão, agarrei-a pelos braços,
ergui-a pros meus lábios e quase a devorei, cheguei a ficar sem fôlego,
ela com os pezinhos balançando no ar, às 10 horas da manhã,
na Cinelândia, me sentindo um artista de cinema de uma fita ruim e ela
a me retribuir os beijos, pois foram muitos e ao mesmo tempo tentando me explicar
alguma coisa, que eu lá no fundo sabia não queria escutar, ou
não deveria, porque, senão, tudo estaria acabado e eu não
poderia, nunca mais ficar sem Gabriela. Maldita mamãe, quem mandou me
criar deste jeito, tão sensível, tão "mulher".
Ficamos ali, pra mim um longo espaço de tempo, na realidade, não
mais que uns 15 minutos nesta cena patética, como se fôssemos dois
namorados apaixonados, eu poderia estar apaixonado, mas ela não, ela
estava aos beijos com o meu melhor-ex-amigo. Coloquei-a no chão e arrisquei
uma conversa, meio truncada, meio inaudível. _Você gosta do Rubens?
_É claro que sim, ele é uma gracinha, prefiro seus beijos Gabriel,
mas gosto dos dele também. Tudo bem, Gabriel, sabe que nunca tinha reparado
que temos o mesmo nome? Só que eu sou ela e você é ele.
Legal não? Falava Gabriela, meio que aos trancos e barrancos, parecendo
estar nervosa, e sua voz saía meio que gritante como se estivesse muito
longe de mim, ou se o barulho perto de nós fosse insuportável
que precisasse berrar pra ser entendida, mas acho que era agonia mesmo, as mulheres
ficam com a voz mais fina quando estão nervosas. Estranho né?
E este assunto eu sei de cor e salteado, convivi com mulheres o tempo todo...
Depois e nada resolvido fui pra casa, não retornei ao trabalho e fiquei
de procurar o Rubens pra conversar, afinal, não queria terminar uma amizade
de tantos anos, o irmão que nunca tive, mas que sabia, era meu, não
veio por minha mãe, mas pela mãe dele, que papo careta. Parei
e toquei a campainha. Isso ainda era cedo, tinha esquecido que não tinha
voltado pro trabalho, o negócio era esperar até mais tarde.
Acabei dormindo e o dia chegou novamente e quando fui falar com ele, já
tinha saído, então me dirigi pro seu trabalho.
Lá chegando, tarefa mais embrulhante de estômago, procurei seu
departamento e anunciaram pelo microfone, ele logo atendeu ao chamado e quando
me viu, ficou sem saber se voltava ou se vinha em minha direção.
Já que estava difícil pra ambos tomei eu a dianteira e apertei,
o mais apressado que pude, a sua mão. Ele me puxou e me deu um longo
e apertado abraço. A cena era cômica, o segurança machista
e bronco do Shopping abraçado a um homem, nada convencional. Ficamos
assim uns poucos segundos, sentindo a presença dos dois, a amizade de
anos e falamos ao mesmo tempo; _Vamos deixar disso, cara! Não vale a
pena. Podemos ou deixá-la ou namorá-la, mas se estiver apaixonado
tiro o meu time de campo. Demos uma boa gargalhada e saímos pra beber
um café, mesmo que a vontade fosse um chopp, mas ainda era muito cedo
e ele não podia quebrar as regras do seu trabalho: beber em serviço.
Trocamos algumas informações importantes a respeito da nossa mignon
e homens babacas que somos deixamos ao sabor da maré de Gabriela resolver
como iria fazer, se ia namorar nós dois ao mesmo tempo, o que nos atiçou
muito, ou se ela ia tirar um dia pra cada um, e ali ficamos a especular sobre
o nosso amor furtivo, os dois quase de pau duro, conversando sobre nossas intimidades
e desejos.
Gabriela fez como queríamos, às vezes trepávamos juntos
e transávamos até o amanhecer, nunca tive experiência tão
emocionante ao mesmo tempo - quanto tesão um homem pode ter por uma
mulher? Outras vezes saíamos em separado, mas todos sabendo quem
estava com quem, e tantas outras vezes só nós dois, pra cochichar
nossos segredos de alcova.
Nossa regra de 3, como sempre falávamos, e nosso resultado, deu sempre
positivo, com algumas baixas, só às vezes. Na matemática
a regra diz: "x está para y assim como y está para
x".