Passou a sexta bebendo vinho no casamento do primo. Acordou com a língua 
  grossa e amarga. Lentamente recobrou a consciência da esbórnia 
  na noite anterior e sentiu que iria vomitar.
  - Detesto ressaca. - Comentou para si mesmo.
  Correu ao banheiro, abraçou a privada e colocou os bofes para fora. Saiu 
  uma gosma grená, o vinho, e uns restos de comida mastigada.
  - Que foi que comi?
  Enquanto tentava decifrar a origem dos alimentos que expelia, vomitou novamente 
  pois ficou enojado. Puxou a descarga e saiu do banheiro. 
  Preparou um chá de boldo na cozinha e o bebeu ainda quente. Suou um pouco. 
  Sentou-se no sofá da sala para descansar.
  - A ressaca vai passar! - Lembrou em voz alta a máxima dos bêbados.
  Um tempinho depois já se sentia melhor. Levantou-se para beber água. 
  A sala rodou. Viu que ainda estava tonto de tanta bebida.
  - Detesto ressaca. - Repetiu.
  Bebeu água e decidiu atochar um baseado, pois, já que não 
  estava fazendo nada, ao menos iria fazer a cabeça. Dichavou, apertou, 
  acendeu e tragou o cigarro de maconha. Logo ficou relaxado e entorpecido.
  Lembrou-se de algo que logo esqueceria e ficou de pé num pulo. A tontura 
  voltou mais potente. Pensou que vomitaria novamente.
  - Essa ressaca que não melhora nunca.
  Ajoelhou em frente à privada e tentou cuspir o fel de sua boca, mas ela 
  estava seca como um deserto. Ainda muito tonto, viu um chuveirinho ao lado da 
  descarga, que era usado para lavar os rabos dos cagões.
  - Oba, um bebedor.
  Acionou o gatilho e sorveu deliciosamente a água do chuveirinho. Contente 
  por satisfazer aquela sede avassaladora, olhou para baixo e viu a própria 
  figura refletida na água da privada. Reconheceu o rosto mas não 
  sabia de onde.
  - Olá, companheiro. - Acenou e foi imediatamente respondido. Simpatizou 
  com o reflexo. - Tudo bem? - Perguntou com um sorriso e foi atendido com outro 
  sorriso. - Gente fina! - Concluiu ao se levantar.
  Em pé, a vista escureceu. A maldita ressaca, pensou, e segurou a testa. 
  Lembrou-se, então, do baseado que havia acabado de fumar. Segurou a nuca.
  - Putz, eu tô de ressaca ou doidão?
  Apoiou-se nas paredes do banheiro e tirou todas as roupas. Despencou sentado 
  na privada. Sentiu enjoo e quis vomitar, mas apenas arrotou e peidou entre 
  espasmos de cólica e falta de ar. Descansou recostado nos joelhos durante 
  muitos minutos.
  Quando o mal-estar diminuiu, percebeu que estava nu e sentado na privada. Imaginou 
  se deveria limpar a bunda.
  - Que nada. É apenas uma ressaca.
  Pôs-se em pé e outra vez o enjoo o atingiu. Sentiu o estômago 
  invadindo a garganta. Ajoelhou e abraçou a privada para vomitar, mas 
  nada saiu, mesmo com as violentas contrações do esôfago.
  Segurou o queiro com as mãos e olhou novamente para a privada. Viu seu 
  reflexo.
  - Oi, companheiro, você voltou. - Cumprimentou, efusivo. - Agora tá 
  usando um belo bigode castanho. - Sorriu e inalou o ar. - Mas você tá 
  precisando escovar os dentes. - Balançou a mão na frente do nariz. 
  - Seu bafo tem cheiro de bosta.