A Garganta da Serpente
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Do outro lado da rua

(Lira Vargas)

A porta de vidro do aeroporto se abre, Dorval surge à procura de alguém. Ao seu lado uma moça de olhar curioso, um sorriso tímido também com expressão de achar alguém. Os dois se viram lentamente quase que esbarrando o rosto um no outro. Dorval solta um sorriso, ela também, e pedem desculpas simultaneamente. Apresentam-se e na rápida troca de informações, relatam que são estrangeiros e brasileiros ao mesmo tempo, foi motivo de risos.

Dorval é brasileiro, mas foi para a Itália seguir sua carreira de bailarino. Sarah é brasileira, mas foi adotada por uma família Sueca, que a presenteou com aquela viagem ao Brasil, pelo seu aniversário. Dorval a olha calculando uns vinte anos, mas não pergunta, não tem por quê.

Silvio apressado pelo longo salão do aeroporto, esbarrando e pedindo desculpas às pessoas para chegar até a porta de saída do aeroporto. Ao chegar reconhece o tio e o chama alargando um sorriso de alegria.

Dorval se despede de Sarah. Ela, de costas, recebe um olhar insinuante de Silvio, mas que logo se abraça ao Dorval num cumprimento alegre, mas discreto.

Caminham até a parada de táxi e com uma pouca bagagem, mas a que tinha era meio complicada de entrar na porta mala. O motorista e Silvio, tentam ajeitar, e Dorval indiferente olha para os lados, curioso por estar de volta. Vendo que os dois não conseguiam ajeitar a bagagem, aproxima-se e rapidamente sem esforço, gira o estranho embrulho que logo se acomoda na mala. Silvio dá um sorriso sem graça, o motorista coça a cabeça e balança-a sem entender como Dorval resolveu os problemas tão rápido. Seguem viagem para Copacabana.

Chegando em frente ao prédio de Silvio, este tenta explicar que é um lugar simples, mas que ele podia pagar para continuar a viver mais perto de seu trabalho, pois como dançarino igual ao tio, chegavam altas horas e ali era mais perto. Dorval não responde e sorri compreendendo. Paga o táxi e vai direto na mala pegar as malas e a complicada bagagem. Com tudo no chão, Silvio tenta explicar que um dia compraria um apartamento em um prédio bem bonito. Dorval segura seu braço e aponta para uma padaria em frente. Silvio, desajeitado com as bagagens, mas Dorval sugere que ele fique na calçada e atravessa a rua, entra na padaria e compra um quindim e sai saboreando. Chegando perto, Silvio faz cara de enjoo, mas Dorval diz que há muitos anos não comia quindim e que na Itália não tinha. Silvio sacode os ombros e tenta entrar no prédio. Dorval ajuda a levar a bagagem até o elevador e informa ao sobrinho que o espere, que iria até a esquina. Silvio sorri daquele jeito descontraído do tio, obedecendo. Entra o elevador e lembra que o tio não sabia o número do apartamento e grita pela fresta da porta que se fechava que era oitocentos e dois, mas Dorval entendeu "trás dois" e faz uma cara de quem não entendeu nada e vai para a calçada.

Era tarde de verão, nas ruas, as pessoas se esbarrando, se misturando aos turistas de bermuda branca e blusas estampadas. Dorval caminha até a calçada da praia, o mar se debruçava na areia convidando para um mergulho. Dorval fica parado olhando aquela praia que um dia foi sua maior diversão, ali disputou bola com jogadores que ficaram famosos, e já até pararam de jogar, ali conheceu muitos amigos e que quando o chamavam para beber, preferia suco de frutas. Seus pensamentos vagavam pelo passado, caminha lentamente. Atravessa a rua e pára numa estreita pista, quando um ciclista vem assoviando nervoso, porque Dorval estava parado impedindo a passagem. O ciclista solta uma pilheria e ele olha sério, mas logo faz uma cara de "pai" e olha para o chão percebendo onde estava parado, faz um sinal de desculpas e sobe na calçada da praia.

O vento forte levantava a areia da praia, o sol convidava as pessoas a um bronzeado. Dorval não resiste e pisa na areia, os sapatos o incomodam: tira-os e vai caminhando cada vez mais para perto das ondas. Fica ali parado, fascinado com a imensidão do mar. No céu, um avião corta as nuvens. Dorval olhava distraído, quando uma imensa onda bate na areia, jogando uma boa quantidade de água, fazendo-o meio patético para se livrar tarde demais de ter a roupa um tanto molhada. Olha para trás esperando ter sido visto naquela situação, mas as pessoas que estavam jogando vôlei, nem perceberam, e Dorval retorna para a calçada, decidido a ir para o apartamento do sobrinho. Caminha pela rua, um cachorrinho na coleira, guiado por uma mulher, pára obedecendo a mesma à espera do sinal abrir. Dorval tenta fazer um afago, mas o cachorrinho dá um grito assustado, a mulher o olha como se ele tivesse beliscado o cãozinho, e Dorval tenta explicar, que apenas o afagara, e a mulher compreensivamente, diz que ele era um cão muito mimado.

Chegando perto no prédio, Dorval, olha para a seta que indicava os andares, e sorri desajeitado, lembrando que não sabia o andar do apartamento do sobrinho. Dirige-se ao porteiro que o olha com uma cara desconfiada, pois Dorval estava com a roupa molhada, e pergunta, mas esse informa que está de pouco tempo ali e não sabia. Dorval coça a cabeça numa situação difícil. Vai até a calçada e tenta olhar para o alto do prédio, na esperança do sobrinho estar na janela. E sem esperança retorna para a portaria. Procura a carteira na esperança de achar o telefone, mas lembra que a frasqueira com documentos e agendas, tinham subido com o sobrinho.

Resolve dar mais uma caminhada pela calçada, passa por uma casa de espetáculos e vê o cartaz da exuberante Rogéria, que informava o show para os próximo fina de semana. Dorval sorri e lembra de Rogéria como uma pessoa que ele admirava muito, pois Rogéria mantinha a fama de travesti, mas as pessoas a respeitava muito, pelo seu talento e personalidade segura.

Dorval tenta anotar o dia do show, mas não tem caneta, vai até a banca de jornal mais próxima e em um pequeno pedaço de papel, anota o dia e faz planos de assistir.

Silvio olha a hora, preocupado com Dorval que não chega, e desce, vai até a praia e fica à procura do tio, passa por um quiosque e toma uma água de coco, caminha a procura do tio e encontra um amigo do teatro e comenta sobre o ocorrido, o amigo o tranquiliza e diz que breve o encontrará. Sentado numas cadeiras em frente ao mar a conversa segue descontraída.

Dorval em frente ao prédio, a roupa já secando da água do mar, olha indiferente paras as pessoas, mas de vez em quando olha para a portaria na esperança do sobrinho descer a sua procura.

Outra vez entra na padaria e compra outro quindim. O tempo vai passando e nada de resolver a situação, segue para a praia pra fazer hora, de longe avista o sobrinho conversando com um amigo e se aproxima.

A chegar perto o sobrinho fica surpreso com sua chegada e pergunta se acontecera algo, Dorval responde que não. O sobrinho vendo os vestígio de água na camisa, faz um olhar de indagação, e Dorval diz apenas que era água do mar. O amigo do Silvio, Pedro, se apresenta, e Dorval o cumprimenta com elegância e simpatia.

Voltam para o apartamento e na sala as malas ainda no chão. Silvio indica o quarto e fazem planos para um chope. Dorval saindo do banho informa que o chuveiro está muito quente, Silvio sorri e diz que vai desligar.

A noite quente é final de semana, os dois conversam num bar na calçada de Copacabana. Um grupo de artista de rua batuca um velho samba, e Dorval tenta cantarolar, demonstrando que lembra dessa música. O sobrinho alegre, acompanha. Uma prostituta chega perto, Silvio tenta afastá-la de jeito meio brusco, mas Dorval a trata com respeito e oferece um chope, a prostituta aceita e conversam banalidades até tarde da noite.

No dia seguinte, Silvio acorda, vai até o quarto e olha as bagagens ainda no chão, o embrulho complicado encostado na parede, e procura por Dorval, este já havia saído. Silvio coça a cabeça, já se conformando com o jeito silencioso e a disposição do tio.

Logo ele retorna com lanches, os embrulhos mal acomodados. Dorval chega a tempo de despejá-los sobre a pia. Silvio arruma a mesa, Silvio é organizado com a casa. Logo depois, Dorval o convida até o quarto e o presenteia com o complicado embrulho que deu tanto trabalho para entrar no táxi. Com dificuldades Silvio vai abrindo, como uma criança, sorri a cada folha vencida, ao abrir, dá um sorriso de surpresa, o tio trouxera um Home Theater e uma câmera de vídeo. Silvio ri da extravagância de Dorval, e faz planos em distribuir as caixas de som no quarto.

Seguem para o ponto de ônibus, iam se encontrar com Valter um velho amigo. O vento desalinhava os cabelos das pessoas. Uma folha de uma revista feminina exibia uma bela negra seminua, Dorval desce ao meio fio para apanhar, mas uma rajada de vento a leva para longe. Silvio sorri de sua tentativa inútil. Dorval desiste e sugere ao Silvio um táxi, sobre protesto, pois iriam para Ipanema. Silvio está distraído olhando um casal que discutia, Dorval chama um táxi. Quando já está dentro, chama Silvio, que se espanta e entra rindo.

Em Ipanema, marcaram o encontro com Valter num restaurante. Num reencontro alegre, Valter inicia a conversa protestando que o governo está sufocando a economia do país, que faziam reformas a cada mês. Dorval não dá continuidade ao assunto e comenta que vira uma negra na folha de uma revista que o fascinou, tenta explicar como ela estava, Valter desapontado pela indiferença que Dorval deu ao assunto, aponta para uma banca de revista e sugere que ele vá até lá, e diz que Dorival não mudara nada, desde que se conheceram.

Dorval levanta da mesa e atravessa a rua. Uma senhora, com dificuldades, tentava descer a rampa que dá acesso à rua. Dorval a pega pelo braço e a ajuda. Da mesa, Valter e Silvio o olham com um sorriso meio debochado, e continuam a conversa, que foi interrompida por Dorval.

Dorval volta com a revista e na capa estava a mesma negra que o vento levara a folha quando tentou pegar.

Durante a conversa, Valter pergunta o motivo que Dorval viera ao Brasil, apostando que era saudade. Dorval confirma, mas diz que o maior motivo era levar informações para um amigo que estava muito mal com aids na Itália. Valter lamenta e diz que no Brasil o tratamento está muito desenvolvido e sem perder a mania de críticas políticas, Valter diz que o Brasil tem políticos safados, mas que o tratamento de aidéticos tem o apoio do governo federal que é totalmente gratuito, Dorval admirado pergunta detalhes, e Valter explica que há postos de apoio em todas as cidades inclusive com atendimentos com psicólogos e nutricionista, e reuniões com grupos de apoio, formando uma sociedade de aidéticos para acompanhar as taxas virais e orientações para os cuidados, e as empresas não podem demitir um funcionário com essa doença sob pena de multas altíssimas. E que os colégios também são obrigados a receber alunos com essa doença e não discriminá-los perante os colegas. Dorval ouve interessado na informação, e lamenta que na Europa esse tratamento ainda não é tão adiantado como no Brasil, e demonstra com orgulho que o Brasil, está dando passos importantes. Imediato ao comentário, pergunta sobre a negra da capa da revista. Os três sorriem desse jeito elegante de Dorval de mudar de assunto. Numa rápida despedida, marcam novos encontros. Valter insiste que Dorival precisa saber como está a situação política do país, e que tem muita informação sobre o movimento negro do Brasil.

Dorval diz que enquanto os próprios negros acreditarem que são diferente, eles terão muitos movimentos. Silvio acredita na sabedoria do tio e concorda, Dorval mostra a revista e diz que se aquela modelo, estivesse mais simples na capa, não despertaria a atenção para sua cor, mas sim para sua beleza.

A noite estava chegando, as luzes da cidade acesa, e retornam para Copacabana.

À noite, estão na sala do apartamento. Silvio, distraído na copa, prepara um lanche, e chama o tio várias vezes. Vai a seu encontro, depara com ele no quarto de frente a câmara, relatando o que conversou naquele dia, e prometendo que a partir do dia seguinte, filmaria a cidade para que o amigo relembrasse e visse como muitas coisas mudaram.

Com a chegada de Silvio, Dorval pára e o olha. Silvio nota uma ponta de tristeza em seus olhos, mas não falam nada.

Silvio não pergunta para quem ele estava enviando a mensagem. Dorval comenta que o chope do Brasil era tão bom quanto ao da Itália, e cantarola uma canção italiana.

Silvio faz gestos de um velho italiano saudoso. Põe as mãos no coração e finge chorar. Sorriem daquele momento de descontração.

Amanhece e Silvio comenta com Dorval que ele precisava conhecer a Barra, que quando ele foi embora do Brasil, lá ainda era um matagal, mas que mudara muito, e que tem shopping maravilhoso. Dorval sugere alugarem um carro, Silvio diz que é muito caro, mas Dorval não se importa e diz que iria alugar um.

Silvio fica em casa.

Na agência, o atendente se aproxima de Dorval. Sem muito entusiasmo, ele passeia por entre os carros sem olhar para o atendente, que oferece um modelo, mas Dorval, sem reclamar, avista um Peugeot e aponta. O vendedor suspende os ombros e diz o preço, Dorval não se importa e paga antecipada oito dias com um cartão de crédito internacional.

Sai da agência e bate num gelo baiano. O pessoal da agência, apavorado, vem ao alcance dele, que imediatamente paga o prejuízo e escolhe outro carro. Ficam olhando aquele jeito simples e elegante daquele negro brasileiro com sotaque estrangeiro.

Chega em Copacabana. Silvio está na calçada do prédio preocupado, e quando avista o carro do tio, dá uma risada com espanto diante do carro. Dorval retribui e diz que estava bem perfumado o carro. Passa o volante para o Silvio e da janela, filma todos os detalhes da viagem até a Barra, conversava como se estivesse de frente para alguém.

Num shopping da Barra Dorval filma o estacionamento rodando a câmera para registrar todo o local. Quando entram, faz pequenas compras. Do outro lado de uma passarela do shopping, Silvio avista uma jovem tomando sorvete e com algumas bolsas de compras, fica admirado com aquela negra esguia e meiga, seus olhos procuram os dela, mas ela vai se afastando sem ter notado, quando de costas, Silvio dá um tapa na testa, e diz que já havia visto aquele traseiro, mas não lembrava de onde. Dorval dá uma risada, sem olhar para a negra, e diz que Silvio é doido.

Outro dia, solicita ao Silvio que desejava ir até o centro do Rio de Janeiro, com a câmera não esquecia de detalhes. Na Av. Rio branco, ele registra de longe o movimento dos pracinhas do aterro. Percorre as ruas e admira as novas construções, sem deixar de comentar a arquitetura do século passado sem preservação. Dorval faz uma crítica às autoridades brasileiras, pois na Europa essas arquiteturas são visitadas por turistas brasileiros, e que nem sabem que aqui também tem o mesmo valor artístico. Filmando prédios e sobrados do século passado, ele faz esses comentários sob a admiração de Silvio, que também não tinha dado importância, mas naquele momento passa a ficar fascinado.

O sol afugentava as pessoas que escolhiam as calçadas com sombra. Dorval pára em frente à Central do Brasil. Olha o relógio e confere com o seu. O prédio exuberante, demonstrando os detalhes arquitetônicos. Dorval o compara como o corpo de um grande relógio. Parado sob o sol, Silvio demonstrando incômodo, mas acompanha o tio, parado de frente e filmando cada detalhe, e faz questão de passear pela velha estação que guarda história dos cariocas de vários bairros e foi até motivo de quase um "Oscar" num filme. Aproveita e rodopia lentamente a procura do Cristo Redentor para registrá-lo àquele cenário.

No final da tarde resolvem ir até o Cristo Redentor. A paisagem estava límpida. Lá embaixo a cidade exibia sua beleza competindo com o mar e as montanhas. Dorval filma o Cristo de baixo para cima, uns pássaros voam completando a beleza.

Outro dia estão no Pão de Açúcar, lancham e visitam o zoo. Quando desciam, o bondinho encontra outro que subia e na vidraça a mesma jovem com o rosto colado e meio assustado, sorria. Silvio a olha, mas tarde demais, os bondinhos em direções opostas. Ele tenta comentar com Dorval, que filmava naquele momento, mas não o interrompeu. Sentiu vontade de retornar para encontrá-la lá em cima, mas tinham marcado um encontro com Valter. E Dorval por ser meticuloso com horários, Silvio nem comentara. Quando chegaram no estacionamento, Silvio ficou olhando meio patético pra cima da estação do bondinho.

Encontram com Valter, num bar no centro. Ao chegar, o cumprimento foi alegre, Valter faz comentário sobre a câmera, e Dorval diz que é para filmar as mulheres bonitas do Brasil. Durante a conversa, um menino chega, oferecendo para engraxar os sapatos. Dorval oferece o tênis e o menino o olha sem entender. Dorval paga como se tivesse feito o serviço, o menino sai rindo e feliz. Valter inicia a conversa sobre os negros, que o menino engraxa sapatos por que é pobre, e negro. Dorval diz que ele engraxa por que sabe fazê-lo, pois nem todo mundo sabe. E quando Valter insiste, Dorval diz que tem um programa para o final de semana, iria assistir ao show da Rogéria. E convida o Valter.

O teatro lotado, Rogéria faz o show com grande estilo. De repente, o silêncio: ela pára, olha para a plateia e agradece a presença de todos, mas tinha um agradecimento especial, pois estava ali um grande amigo que a fez muito feliz por sua presença. Solicita ao Dorval que se levante. Sob aplausos da plateia, Dorval agradece surpreso, pois não sabia que fora notado por Rogéria.

Ao chegarem em casa, Silvio se despede do tio e vai para o quarto, mas ao passar para cozinha, ouve o tio falando. Pára na porta e pela fresta, percebe que ele estava de frente à câmera, falando do ocorrido do dia. Silvio balança a cabeça sem entender, mas ao chegar na cama, sente uma certa pena daquele tio elegante, simples e sentimental.

A noite era animada na Lapa. As pessoas nos diversos barzinhos conversavam banalidades. Dorval falava com Silvio sobre a dança, que quando o bailarino está no palco, sua alma sai do corpo para dar lugar à energia da vida, da beleza e da felicidade momentânea. Naqueles momentos, é como se o corpo tomasse a forma da essência da plenitude, por isso a leveza da dança. Em uma mesa acompanhada por um grupo, Silvio percebe alguém olhar para ele. Dorval levanta e escolhe um ponto para filmar aquele lugar. Silvio dá um sorriso e estuda uma maneira de chegar até aquela negra que chamara sua atenção. Quando Dorival senta, Silvio fala sobre o fato e confessa que não sabe como chegar até aquela jovem. Dorval o olha sério e abrindo um sorriso faz gesto de levantar e ir até a jovem, mas é impedido por Silvio que ri da situação. Mas Dorval a reconhece do aeroporto, e se levanta, mas quando vai chegar perto, percebe que ela já havia saído.

Amanhece. Da janela do hotel, Sarah está absorta no pensamento, olhando o mar, a espera do telefonema dos amigos. Pensa que o destino fora cruel, pois não viveu no Brasil e quando conhece a maravilha do Rio de Janeiro já esta perto de acabar a estadia.

O telefone chama e Sarah sai para o encontro dos amigos no planetário.

Dorval e Silvio tomam café, apressados para um ensaio do Silvio no teatro. Ao chegarem o diretor informa que precisaria de umas fotos do planetário. Quando estão chegando, Silvio encontra com a jovem e não perde a oportunidade, diz que seu tio a conheceu no aeroporto e gostaria de cumprimentá-la. Olha para trás e chama o tio, mas Dorval tinha se afastado do local. Silvio fica sem jeito, a jovem dá uma risada, e foi chamada pelos amigos para outro lugar. Silvio fica sem jeito e olha fascinado a figura da jovem se afastando. Ela olha discretamente para ele. Silvio dá um suspiro. Dorval se aproxima e pergunta se ele está no espaço. Dão umas risadas descontraídas.

À noite Dorval encostado à porta, se posiciona perante a câmera e começa a falar fazendo menção aos lugares que passou. "Franco, venha para o Brasil, aqui o tratamento da aids é grátis e está bem evoluído, venha desfrutar da beleza do Brasil e do Rio de Janeiro que continua lindo".

Silvio bate na porta e confessa ao tio que já havia observado que ele enviava mensagens para alguém pela câmera. Dorval, em poucas palavras, informa que tem um amigo na Itália que está sofrendo de aids, e seu desejo era conhecer o Rio de Janeiro, mas nunca tivera oportunidade de vir, e que ele fez aquela viagem para levar as imagens para ter uma ideia.

Dorval retorna o inicio da filmagem e quando passa a do Pão de Açúcar, Silvio pede que ele pare a cena, e percebe a jovem que chamara sua atenção.

O clima de melancolia se transforma em comentários banais.

Silvio retorna para o quarto pensativo, a admiração pelo tio aumentara com aquela atitude.

O domingo era de sol, Dorval chama Silvio para um mergulho na praia, de noite iriam embora.

Quando estavam indo para o aeroporto, na Linha Vermelha, o trânsito congestionado, o táxi deles pára ao lado de outro, e no banco de trás, estava a jovem. Silvio a olha, e tenta um sinal, ela o vê e dá um sorriso. Tentam uma comunicação, mas é inútil. No aeroporto, Dorval vai fazer o check-in. Após uma despedida emocionante, caminha para o portão de embarque, dá uma olhada para trás e Silvio vê uma lágrima denunciando a emoção. Dorval passa a mão rapidamente no rosto, dá um sorriso e acena sem olhar para trás.

Silvio também emocionado sai andando lentamente pelo salão do aeroporto, quando avista a jovem. Sarah vai se dirigindo ao balcão e Silvio a interpela e diz que gostaria de uma oportunidade de conversarem. Ainda faltando mais de uma hora para o embarque, Silvio a convida para ir até o restaurante do terceiro andar.

Sarah o acompanha. Na mesa, Sarah fala da experiência dos dias que passara no Rio. Silvio comenta dos lugares que a viu. E da filmagem que ela aparece na descida do bondinho.

De repente Sarah olha para o relógio, perdera o avião. Sorriem do fato. E saem do aeroporto rumo a Copacabana.

No dia seguinte os dois passeiam pela praia de Copacabana. O sol se pondo, os dois de mãos dadas, ela prometendo que vai para a Suíça, mas que um dia voltaria.
Do outro lado da rua, um grupo manifestava o movimento negro.

(01/10/2001)

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