Moro em um lugar não muito desenvolvido, no sentido moderno da palavra
e das coisas. As precariedades de serviços noturnos que são inúteis,
e por castigo, os que mais me interessam. Dependendo que horas fecha o bar,
danou-se seu projeto de comer algo ou alguém. Outro dia, eu estava com
uma galera, bateu aquela fome, vontade de comer aquela pizza; procuramos os
telefones respectivos, todas as lanchonetes fechadas, e as que estavam abertas,
não entregavam nada, nem bebida, nem comida. Cheio de coragem, munido
de atitude, sai voando em minha bicicleta. Feito, montado em um cavalo para
salvar a democracia na America latina. Parti galera!
Chegando a algum lugar.
- Oi, vocês não estão entregando pizzas?
- Pois é; o telefone esta com defeito, então resolveram mandar
os entregadores para casa!
- Ótimo, quer dizer, que eu tenho que desempenhar o papel de entregador
hoje. Estou adorando isso, disse; já meio puto.
- Traz-me uma pizza portuguesa?
- Senhor; sentimos muito, mas não temos bacalhau!
- Então me trás uma de rúculas com tomate seco?
- Perdão senhor, nunca ouvimos falar dessa especialidade de pizza!
- Ta legal, trás o que vocês tiverem aí?
- Vai demorar uns quinze minutos!
- Ok, trás uma cerveja em lata?
- Desculpe-me, não temos cerveja em lata, só garrafa!
Lembrei-me da educação que tive, e também da falta de paciência
com casos semelhantes que me acompanham por aí a fora. Resolvi beber
uma cerveja de garrafa. O fato era, estava com pressa e de bicicleta, e pensei,
uma garrafa de cerveja pesaria muito na minha barriga. Papo vem, papo vai, com
os garçons do local. Pois é, esse país ta horrível,
o trabalhador não tem direito a nada, ainda estão querendo acabar
com a CLT. Cadê as garantias do trabalhador!
- Senhor sua pizza?
- Obrigado filho!
Mas ainda faltavam cigarros, que só vendiam em outro bar; esse da pizza,
não vendia cigarros! Lá vou, por mais um dez quilômetros
- me de um Derby prata, um Carlton, um Free Light, um Rolyhoowd Light. Não
era tudo ainda, esqueci da cerveja. Esse bar a cerveja é muito cara,
por isso, tive que ir a um depósito de bebidas, onde a cerveja é
mais em conta - já triste, pedi uma dúzia de cerveja, o que era
muito pouco para esquecer o que eu passei. Volto eu, com a pizza, os cigarros,
as cervejas, amontoados em uma sacola, pareciam-me mais com um catador de lixo.
Expliquei a situação aos presentes, que não aguentavam
mais a demora das iguarias - onde você se meteu porra? Foi buscar nossos
suprimentos! Tive que ficar horas, justificando-me e falando mal do atendimento
local.
Eu já estava cansado pra caralho, ainda tive que me retratar. Exausto,
tive que dar um tempo até me refazer, não sabia se tinha participado
de uma maratona, ou sei lá o que? Lembrei-me das novelas do escritor
Manoel Carlos, ambientadas no Leblon, onde tem tudo que você possa imaginar,
em relação à entrega de comidas, entregam até a
Luana Piovani, dependendo da fome que estejas. Meio tonto pelo trajeto percorrido,
tive uma espécie de engaste. Que me remeteu a uma esquizofrenia, talvez
causada por muita energia sexual despendida. Algo mudará; uma brisa maresia
soprava acompanhada do balbucio vinil do mar. Uma iluminação ofuscante.
Eu ali no calçadão? Só me dei conta que estava em outro
lugar, quando cruzei com Juliana Paes e em plena luz do dia. Mais era noite
no meu bairro? Onde logo após, João Ubaldo me convidou para um
chope com a rapaziada. Mas no bar que eu bebo não vende chope? Peguei-me
Beijando Mariana Ximenes. Mas eu não pego ninguém? E acabei indo
de carona com Tio Oscar Nyemaier. Mas a arquitetura do meu bairro não
tem curvas? Voltei à tona. Ofegante como um louco, sedento. Que bebi
numa talagada, ainda com ar preso, meu copo de dúvidas. Refletia, com
meus pensamentos desencontrados; o que havia acontecido na minha pobre vida
citadina. Essa situação foi muito grave. Aparecer em outro lugar
der repente? Acendi um cigarro, e cheguei a uma conclusão. Preciso parar
de masturbar-me, tanto assim!