A Garganta da Serpente
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Desventuras

(Leonardo de Magalhaens)

Às 16 horas e 13 minutos, de 24 de março, o Sr. Carlos D. Ventura está saindo de uma revendedora de veículos, onde acaba de vender seu carro.

Às 16 horas e 46 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura está em seu quarto, a preparar-se para um relaxante banho, após fechar seu cofre, oculto atrás de uma cópia de Van Gogh.

Às 18 horas e 20 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura recebe o sorriso de sua amada na plataforma da estação de metrô da Lagoinha.

Às 18 horas e 36 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura acompanha a sua amada à uma famosa loja de departamentos, onde presenteou sua amada com um vestido rosa com pálidas flores azuis.

Às 19horas e 15 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura e sua amada jantam em conhecido restaurante do Edifício Arcângelo Maletta, comentando os planos para a reforma do apartamento.

Às 20 horas e 32 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura está no banco de trás de um táxi, ao lado de sua amada, subindo a avenida Cristiano Machado.

Às 20 horas e 53 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura deixa sua amada diante do modesto prédio, no Cidade Nova, onde ela ocupa um apartamento com uma amiga.

Às 21 horas e 11 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura está na esquina da avenida Cristiano Machado com a avenida Silviano Brandão, esperando o seu ônibus.

Às 21 horas e 37 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura retorna a seu apartamento, no bairro Esplanada, e encontra seu quarto revirado, gavetas no chão e cofre arrombado, de onde retiraram a quantia de cinco mil reais, além de cheque de vinte mil reais, mas constata não haver qualquer sinal de estragos na fechadura da porta.

Às 21 horas e 43 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura aciona o 190, explicando a atendente, muito gentil, o que se passa.

Às 22 horas e 18 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura ouve uma sirene e logo depois uma voz na porta, "Abre em nome da lei!" e ele precisa esclarecer que é a vítima, no que conduz os policiais ao cenário do crime.

Às 22 horas e 27 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura, enquanto os policiais se ocupam com levantamento de indícios, telefona para a sua amada mas não é atendido, então telefona para a portaria e nada sabem informar. No entanto, o Sr. Carlos D. Ventura tem plena certeza de ter deixado sua amada diante do prédio às 21 horas.

Às 23 horas e 02 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura telefona para o seu melhor amigo, Tony Ribas, no intuito de desabafar suas mágoas, mas apenas ouve a voz na secretária eletrônica. Após a saída dos policiais, às 23 horas e 22 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura arruma o caos em seu quarto e tenta dormir.

Às 07 horas e 37 minutos, de 25 de março, o Sr. Carlos D. Ventura acorda, se é que conseguiu dormir!, e telefona para a sua amada e ninguém atende. Suspeitas povoam sua insônia.

Às 07 horas e 42 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura, após beber um copo de leite frio, telefona para a portaria do prédio onde reside sua amada e obtém a informação que a referida deixou o prédio às 21 horas e 30 minutos, informação que não obtivera na noite anterior.

Às 08 horas e 01 minuto, o Sr. Carlos D. Ventura, em telefonema ao delegado, revela suas suspeitas, afinal, quem mais teria acesso as chaves de seu apartamento, de onde levaram, além do conteúdo do
cofre, um relógio de marca, uma medalha de ouro, um scanner último modelo?

Às 08 horas e 10 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura telefona ao melhor amigo e apenas ouve a voz na secretária eletrônica.

Às 09 horas e 20 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura recebe um telefonema da polícia confirmando a informação de que a sua amada chegara ao prédio às 21 horas e saíra trinta minutos depois, e constataram, interrogando a amiga, que havia uma passagem comprada para Niterói, e de fato a amada partira com as malas já prontas.

Às 10 horas e 46 minutos, o Sr. Carlos D. Ventura recebe um telefonema da polícia confirmando o embarque de sua amada, às 22 horas e 35 minutos, ao lado de um homem, que corresponde as descrições de seu amigo Ribas e, segundo os interrogatórios, ela trajava um vestido rosa com flores azuis.

Ago/06

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