O gaúcho ficara muy satisfeito ao ler, nos papiros noticiosos, que o Serviço Nacional de Aprendizagem, o velho Senac, estava oficializando, no povo grande de Pelotas, o lançamento dos dois primeiros cursos da Faculdade de Tecnologia e escreveu:
Indiada Buena, pero desguaritada:
Há muito que tengo hecho confusão entre Senac, Senai e Sesi.
Minto. Senac é aquele curso, voltado para a formação dos
empregados do comércio, que no povo de Pelotas, situa-se na Dom Pedro II,
rua, por sinal, onde residia o meu amigo, o deputado.
Já o Senai ou Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, foi criado
nos primórdios dos anos 40, por ideia e obra do grande Dr. Getúlio
Vargas, que achou por bem, por lei de 1942, destinar um por cento do total da
folha de pagamento do setor industrial para financiar uma série de cursos
de mecânica, torno, solda, eletricidade e motores, entre outros tantos,
que gratuitos, beneficiariam, ao longo dos tempos, milhares de alunos. Mais: além
da gratuidade, ofereciam também, aos mais carentes, uma bolsa para subsistência
durante o decorrer do aprendizado.
Na esteira do Senai é que surgiu, em 46, o Sesi, uma entidade destinada
à organização e administração das escolas de
aprendizagem industrial, mais tarde estendidas às de transporte e comunicações,
financiada com um e meio por cento sobre o total pago pelo setor industrial aos
empregados e avulsos do setor fabril durante um mês.
Estima-se que 500.000 almas tenham passado e se alumiado, ao longo dos anos, pelas
salas de aulas dos habilidosos e úteis programas oferecidos.
Mas, como diz o velho ditado, não há bem que sempre dure, nem maldade
que nunca se acabe e mal o bom patriarca idealizador bateu com a alcatra na terra
ingrata, a prioridade ao ensino profissional deu lugar a outros objetivos e o
sistema, como ideal, ou entrou em concordada, ou, pior, em autofalência.
São Paulo conta hoje com a marca assombrosa de 2 milhões de trabalhadores
desempregados. Outros 2,5 milhões são encontrados nas seis principais
regiões metropolitanas do país. Entre este caudal avassalador, apenas
uma ínfima parcela tem um mínimo de especialidade compatível
com o estágio tecnológico da nossa economia.
Onde estão os Serviços Nacionais de Aprendizagem que tão
fecundos serviços prestaram à nossa terra?
É simples a resposta: enquanto faltam recursos para a formação
profissional dos nossos jovens, sobra dinheiro para as polpudas sinecuras distribuídas
à mão cheia a políticos mal intencionados; à construção
de sedes pomposas como, por exemplo, a que se ergue na exclusiva e requintada
Avenida Paulista e outras, decerto, que nem conheço.
Não é à toa, portanto, que se justificam os preços
absurdos cobrados pelos mais diversos cursos do Senac nos dias atuais.
No Rio de Janeiro, um curso de cabeleireiro pode custar R$ 1.300, acrescentando-se
ainda a isso, outros R$ 400, para a compra de materiais.
Ainda na mesma Cidade Maravilhosa, um curso de estética é pago em
16 parcelas de R$ 220, o que, evidentemente, não está ao alcance
de um candidato pobre e, certamente, muito aquém daquilo que, nos saudosos
anos 40, foi idealizado e que, nos seus bons tempos, relevantes serviços
prestaram ao Brasil.
Em seu conjunto, o chamado Sistema S, que abarca outras organizações
como o Sebrae, o Sest e o Senar, chega a mobilizar 0,3% do Produto Interno Bruto
do País, montante, diga-se de passagem, muito atrativo para a prebenda.
Como dizia um velho amigo, oremos para que, um dia, tudo volte a ser como antes
no quartel de Abrantes.
Era isto e em nada me surpreendo, pois afinal, sempre foi assim.
Tuquinha
Basílio, 08 de dezembro de 2004..
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