O capataz, em vista dos acontecimentos que tapavam de lama o governo, e cansado
de ouvir a bazófia dos sectários da agremiação no
poder, que, como o pavão da fábula, faziam vista grossa aos próprios
e ridículos pés, lascou:
Sobre a pseudoconspiração:
Tenho ouvido, de miles de bocas, mais, por sinal, do que poderia supor, que
o apuro em que está metido o governo se deve, não à sua
própria mediocridade em governar ou a sua ligeireza em se apropriar do
aerariu publicu e dele dispor para fins não muito saudáveis à
nação, mas sim a uma urdida trama preparada cavilosamente pelas
oposições.
De tal premissa, comunga um vasto universo compreendido entre pessoas de bem
e devidamente esclarecidas, passando por aqueles que, por força das convicções
perigosamente obstinadas, se encerram numa clausura sofista e estanque e chegando,
finalmente, à grande massa alienada em decorrência das circunstâncias
em que vive ou sobrevive, e cuja preocupação única é
a de ter o que comer, vestir e onde morar.
Radical e inflexível na minha mocidade, simplista no cogitar de soluções
para coisas ordinárias, defendi, confesso, naquele tempo inspirado por
Che e Fidel, o paredão, ao qual, nos meus utópicos devaneios,
se deveriam encostar os políticos corruptos, os empresários corruptores
e, eventualmente, funcionários públicos corruptíveis.
Mas era, aquele, um tempo de sonhos vãos e de imaturo e inútil
patriotismo e senso de justiça que cedeu lugar, com o correr dos anos,
à consciência de que, ao Judiciário e à Polícia
cabiam essas responsabilidades, devidamente amparadas, tais instituições,
na legislação.
Sucede que, - e sempre hay um suceder, - dia desses dei com os olhos em um artigo
de André Petry, intitulado "É a Cara do Brasil", que
fazia, no comentário, uma comparação entre os que podem
e os que não podem, que reproduzo a seguir e que voltou a me lançar
dúvidas nas ideias. Atentem:
Fato: Maria não sei das quantas, vinte e poucos anos, dois ou três
filhos, foi presa em uma farmácia de São Paulo, por furtar um
xampu e um condicionador de cabelos, cuja soma, se paga, seria de 24 reais.
Entrementes, Neudo Campos, ex-governador de Roraima, era preso com 300
milhões de reais, desviados da folha salarial do seu estado.
Fato: Maria é analfabeta. Presa, foi atendida pela Assistência
Judiciária Gratuita e por uma advogada de nome Sônia Regina, que
se insurgiu contra aquela situação.
Fato: Neudo Campos ficou dez dias preso. Maria, um pouco mais, tendo sido
negado seu recurso para que aguardasse julgamento em liberdade.
Fato: Jader Barbalho, capo da máfia da Sudan, que afanou 1,7 bilhões
de reais foi preso e permaneceu 11 horas atrás das grades. É hoje
deputado federal pelo estado do Pará, onde, pelo visto, em se roubando,
muito dá.
Fato: Inconformada com a decisão judicial de manter Maria no xilindró,
sua defesa apelou à mais alta instância da Justiça de São
Paulo e deu novamente com os burros n'água. Nesse intermezzo, Maria foi
julgada e sentenciada a um ano de detenção no manicômio
penitenciário local.
Entrementes, a polícia estourava a máfia da saúde
e botava nos grilhões dezessete larápios que haviam desviado 2,5
milhões de reais. Seu líder maior, Lourenço Peixoto, foi
quem tirou férias por conta do estado por mais tempo. Ficou 104 dias
na cadeia e logo foi ajuntar-se aos cupinchas, no olho da rua, para gozar da
fortuna mal-havida.
Fato: Finalmente, após recurso ao Supremo Tribunal em Brasília,
o Ministro Paulo Gallotti, sensibilizado com a injusta pena aplicada à
Maria, mandou soltá-la.
Entrementes, no mesmo dia da soltura da infeliz ré, Maurício
Marinho, o vilão dos Correios, prestava depoimento na chefatura, por
haver recebido, como suborno, 3 mil reais, o equivalente a 125 vidros de xampus
e condicionadores de cabelos e na saída, abancou-se para comer um McDonald's
Feliz, feliz da vida.
O episódio dos Correios foi o deflagrador de um rastilho de corrupção,
devassidão e peita como jamais vistos no país e a Força
Pública ainda não enquadrou ninguém e, duvido muito, vá
enquadrar um dia.
A prisão de Maria rendeu-lhe 1 ano e 7 dias de cana, onde foi, entre
outras coisas, torturada, o que culminou com a perda de visão em seu
olho direito.
Os corruptos estão todos soltos e a impunidade funciona, para eles,
como um catalisador, fazendo-os florescer em progressão geométrica.
Não há quem me convença de que, com a idade, advenham
o bom senso, a prudência ou o tino, ou que, em resultando, sejam bons.
Nem que el paredón, com o qual sonhei noutrora, não seria, para
as nossas boas causas, uma excelente solução.
Não há quem me convença mesmo.
Era isto.
Tuquinha
Basílio, 14 de julho de 2005.
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