O gaudério, para que se serenassem os ânimos, que andavam ligeiramente
altercados, resolvera tirar uma temporada, depois de muito, na fazenda e de
lá lascou para a prenda formosa, que estava na capital:
Minha Querida:
Embora minhas palavras pareçam bater continuamente em uma parede dobrada,
hay coisas que te quero voltar dizer e hay outras que pretendo, consigas, um
dia entender e um dia acreditar.
Destas, as que mais urgem, como já outras vezes exprimi, é que
tens sido, para mim, pátria e arrego. Pátria, para o coração
que, debalde, se fizera voluntariamente andarengo. Arrego, para o espírito
que depois de muito penar, finalmente, tendo encontrado a doçura e a
persistência do teu querer, se rendeu às coisas buenas e ao deleite
de uma convivência que há de ser perene e imperecível, muito
embora, vez por outra, alguma nuvem, geralmente por minha injunção,
negligência ou capricho, nos obscureça, temporariamente, o existir.
Mas o amor é assim mesmo e graças a ele podemos, depois da procela,
fruir da tranquilidade e recuperar, como dois vorazes famulentos, o tempo
que perdemos em rusgas inúteis e em rixas despropositadas.
Por falar em fruir, devo professar que tenho, em teu corpo, desfrutado de incontáveis
emoções e gozos, que só não são maiores e
de mais intensidade porque, relutante muitas vezes, te retrais e reprimes de
forma que presumo, se bem que instintiva, pouco natural, mas que creio e reputo
que, com o passar do tempo e com a consolidação dos teus sentires
e dos teus experimentares, voltarás a apreciar como fazias nos primórdios
da nossa relação ou, quem sabe, nas auroras da tua juventude como
mulher adulta e como amante constante e invariável.
É este, no entanto, assunto que não se conserta e não se
retifica com palavras, mas com gestos, toques e confiares, ao longo do tempo,
porque sabes tão bem quanto eu que, como algumas bebidas, as relações
amadurecem e harmonizam com o correr dos anos e com o correr dos mesmos anos
se transfiguram, via de regra, para melhor.
Era o que eu gostaria de dizer-te nesta hora de saudade intensa que nos impõe
a distância. De dor insuportável por estar lejano. De sofrimento
por me encontrar apartado do teu abraço carinhoso; afastado da tua fragrância
embriagadora; longínquo das tuas palavras cálidas e cheias de
carinho e, principalmente, a vasto e amargo espaço da tua boca abrasadora
e simultaneamente orvalhada que tem sido o meu norte e tem sido o meu desgoverno.
Com todo o meu amor,
Tuquinha
Basílio, 29 de junho de 2005..
Que tal comprar um livro de Luiz Morvan Grafulha Corrêa? Barbaridade, tchê! Tuquinha e os Mitos Rio-Grandenses |