O gaudério estava acompanhando de perto, via imprensa, o bate-bocas que
se generalizara, entre os administradores atuais e os anteriores do povo grande
de Pelotas e, como de moinhos de pedra entendia um pouco, lascou:
Havia uma pedreira no meio do caminho:
Tenho lido e relido o que se têm dito a respeito da famosa pedreira municipal.
Acompanhado, pela televisão, as sessões da Câmara de Vereadores,
as sindicâncias e as CPIs.
Aí, não sei porque cargas d'água lembrei-me de dois autores:
primeiro, do Carlos Heitor Cony, que, se não me engano, desencarnou há
pouco tempo e que escreveu, lá nos idos de 60, um libelo contra a selvageria
e a truculência dos golpistas que se haviam apossado da terra nostra,
intitulado "O Ato e o Fato", onde, numa das crônicas, relatava
que em plena Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, um transeunte colocara
um ou dois paralelepípedos no meio da via e estancara, por incrível
que possa parecer, a investida dos blindados do I Exército contra o povo
que se manifestava em favor da ordem constituída e do estado democrático
e de direito.
Depois, do José Carlos Drumond de Andrade, criador do não menos
famoso: "No meio do caminho tinha uma pedra..."
Pois aqui também tinha, ou havia, se preferirem, - e tem ainda. Não
uma, mas uma pedreira, no sentido estrito e no sentido figurado, que significa,
mais ou menos, ser duro de roer e difícil de quebrar, ou de descascar.
Sucede que fiz, durante toda a vida, carreteiras de piche pelo estado inteiro
e até fora dele, e, como manda o figurino, reza a cartilha e requer a
necessidade, montei, operei e desmontei miles de moinhos de pedras, usinas de
solos e de asfalto, desde as gravimétricas, até as mais recentes,
que são dosadas por intermédio de balanças dinâmicas
e eletrônicas e alcunhados, os conjuntos completos, de drum-mixers, que
significa tambor giratório misturador, coincidentemente, neste aspecto,
em nada diferenciando das antigas, que também os possuíam. Mas
não vem ao caso.
Vem, isto sim, o déficit operacional do propalado moinho municipal.
Historicamente o custo de produção de um metro cúbico de
brita, em qualquer britagem que se preze ou que assim se possa nomear, incluindo
o desmonte da rocha sã, o transporte até o britador, a moagem,
a recomposição da área e tudo o mais que requer a operação
é de cinco dólares, e o de venda, de onze dólares.
Sempre foi assim, ou pelo menos desde que os romanos pavimentaram a via Ápia,
muito embora, se bem que inventado o revestimento asfáltico, não
houvessem ainda ideado o dólar, que só apareceu um pouco depois,
para gozo e satisfação dos norte, centro e sul-americanos, dos
emergentes e dos políticos de cuecas folgadas e honras escassas.
Isto dito e isto provado por qualquer publicação especializada,
caiu-me o queixo ao saber que a tal instalação dá prejuízo.
Decerto que é a primeira do mundo a ostentar e declarar, sem o menor
pundonor, tal absurdo e, mais certo ainda, amanhã ou depois, vai figurar
no tal de Guines, que é um livreco que criaram para colocar disparates
e coisas que só acontecem no outro mundo, como suprassumo da ineficiência
e da babaquice.
Tudo, é claro, considerando que o produzido e vendido, seja ressarcido,
o que, via de regra não acontece, sobretudo quando entre departamentos
ou secretarias de um mesmo órgão público, que têm
o estranho e pouco salutar hábito de trocar memorandos, balancetes ou
moeda contábil, - que, cá para nosotros, não valem uma
guampa torta, - ao invés de moeda sonante.
Hay ainda de se considerar, nos resultados, o eventual excesso de contingente
e sua real aptidão e capacidade para fazer frente às tarefas que
se lhes exigem os postos; o sucateamento dos equipamentos; os preços
frequentemente escorchantes pagos pelos insumos, uma vez que a fazenda
pública é má pagadora e os fornecedores cobram caro por
este tipo de risco e, por derradeiro, a capacidade nominal das instalações
e o volume realmente produzido, sem ponderar, naturalmente, sobre interesses
eventualmente escusos nem atentar para jogos políticos danosos ao combalido
aerariu publicu e à abalada e impotente massa da população
que, ao fim e ao cabo, é a proprietária de direito e a que sempre
paga a conta sem nunca ter posto a mão, nem na prata, nem na pedra.
E tenho dito.
Tuquinha
Basílio, 27 de outubro de 2005.
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