A Garganta da Serpente
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Monólogo

(Lourdes Limeira)

Da plateia, a atriz sai
Alguém pode me dizer o que é a loucura?
Ei, o senhor sabe me dizer por que há tanto louco hoje em dia?
A senhora aí, tenho cara de louca?
Ah, você se acha louco? Pode falar, não se sinta envergonhado não!
Alguém, na plateia, conhece algum louco?
Existe alguém aqui que, por acaso, conhece a Juliano Moreira?
O papo é sério!

CENA 1

Num canto qualquer da plateia, já incorporando pouco a pouco o seu personagem
Eu tenho certeza que sou louca! Louca...louca...louca!
Pudera! Desde a infância as pessoas sempre me chamaram de louca! Meu irmão, então, era quem mais gostava de me chamar assim.
A atriz já no palco; vozes narradas como se fossem de sua lembrança (no alto-falante); dissonantes.
"Essa menina é L-O-U-C-A!"
"Que garota mais louca!"
"Só pode ser louca"
"Garotinha, tá louca?"
"É, só pode ser louca!
"Louca...sua louca!
"Fora daí, sua louca!"

Cena 2

A atriz totalmente incorporada numa louca. A luz se fecha nela.
Minha irmã, você não enxerga um palmo além do nariz! Meu irmão me odiava, só queria me ver triste. Não sabia quanto suas palavras me feriam! Às vezes, não havia motivos, mas lá estava ele me chamando de alienada, pior
"A b e s t a l h a d a!"

Cena 3

A atriz se olha num espelho, como se tivesse encontrado um sentido novo
Será que o meu irmão tinha razão? É, vai ver que sou mesmo maluca. Ele sempre mostrou que eu nunca tive nada na cachola. Ele tinha razão! Nunca tive juízo mesmo! O bicho, com certeza, comeu minha massa cinzenta.

Cena 4

Vozes na boca da personagem; repete a cena com seu irmão
Sua m a l u c a!
Louca de pia!
Você é maluca e não adianta negar!
Maluca, tá me ouvindo?
Louquinha de marré de si!

Cena 5

A atriz aperta os ouvidos, andando de um lado pra outro. De uma hora pra outra, como se estivesse cara-a-cara com o irmão.
Meu irmão, quer saber? Sou louca mesmo e daí? Todo mundo é louco. Não é diferente com você não. Sabe de uma coisa? Sou louca e você não tem nada a ver com isso, seu retardado! Quero ser louca. Gosto de ser louca. Sou louca sim senhor, mas sou feliz, mais louco é quem me diz.

Cena 6

A atriz, nesse instante, dirige-se ao balanço; está muito feliz. Se balança pra lá e pra cá. Dá gargalhada. Gargalha sem parar. De repente, mira séria numa só direção, como se alguém lhe chamasse a atenção.
Cadê você pai? Preciso do seu amor, do seu abraço. Por que o senhor abandonou minha mãe? A gente era tão feliz. Mas, o senhor tinha que nos deixar. O senhor foi mau conosco! Poxa vida, por que o senhor fez isso? Como eu gostava de passear no parquinho em sua companhia! O senhor lembra, como brincávamos de gangorra? Mamãe agora trabalha de sol a sol, é doméstica, pra nos sustentar. Não tem tempo pra nada, menos pra brincar comigo. Você onde está, papai? Volta...sinto muito sua falta!
Sem quê nem pra quê, tira a saia; fica de cócoras, parece até que vai fazer xixi.

Cena 7

Finalmente, a atriz se encolhe, encolhe-se enrolada na própria saia; escondendo-se do espectador; é como se quisesse sumir dali. Após um ou dois segundos, a atriz se recompõe. Dirige-se tranquilamente à plateia como se fosse dizer alguma coisa.
Ao invés disso, senta-se numa poltrona, como qualquer outro espectador; e por fim, surge um telão no palco e aparece um psicólogo ou alguém da área falando sobre a loucura.

Cena 8

Debate entre os espectadores
Nesse ínterim, vem um câmera-man e filma cada uma pessoa falando o que pensa sobre a loucura. Por fim, fecha-se a cortina e dar-se por encerrado.

Objetivo geral do texto:

Conseguir abrir diálogo sobre a loucura. Reflexão sobre a temática de forma bem objetiva e pragmática.

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