A Garganta da Serpente
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Na enfermaria

(Luiz Guerra)

Lá fora é aqui, ali, em toda parte. Calça-arriada. Mas é por onde também se chega aos ídolos da caverna gástrica, onde mora um olho-de-sótão farto de aparência, alguém que vigia pela falsa rosácea na cara dos outros. Queria tanto que a senhora pegasse no meu pau. Bola de gude mais glande, bola de gude mais glande. Lá fora é dentro do livro. Me dá esse olho maluco que eu vou mostrar. Levei um tiro, porra. Ela me achou, eu é que estava perdido. Estava dentro do livro trilíngue, estava comendo a boneca de pau. Amadeus Hoffmann. Claro. Minha empregada é sindicalizada. E minha janela dá para o bauhaus. Deve ter sido o meu aluno poeta que não gosta de filosofia, e mandou bala no prédio fingindo alvejar a polícia. Ele sabe que eu moro ali fora dentro do livro. Fico até de pau duro, olha só. Morro do Lençol, aqui a boca cospe vida, em termos. Que sorriso mais lindo, minha filha, minha filhinha. A namorada dele. Me disseram que ela pegou raiva silvestre batendo punheta num sagui. Sei que você é do bauhaus. Se me der um pouquinho eu conto que não foi bala perdida. Cuidado com a encaixada. Meu aluno sou eu mesmo, minha olímpia de carne. Queria encher minha caverna gástrica com um ídolo de prata, vampiricida. Me dá esse rabo, gostosa. Quem sabe lidar com a loucura da cidade? Não meus alunos, não seus professores, a filosofia é muito boa para dar um brilho com água suja e pano de chão. Não tinha água suja e pano de chão na minha caverna gástrica? Não tinha uma raposa-morcego com raiva do sagui punheteiro? Tudo bem. Quando tiver alta, meto uma bala no meu aluno e como a namorada dele. Depois me mato, de costas para a luz.

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