A Garganta da Serpente
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A filha da luz

(Kelly Khristini)

Vitória está deitada em sua cama quando sua mãe dona Eliana entra no quarto, se aproxima e senta-se na cama. Começa a acariciar os cabelos de Vitória e lhe dá um beijo na face.

Vitória acorda, se espreguiça e pergunta:

- "O que houve mamãe?"

Dona Eliana não diz uma só palavra, se abaixa e pega um presente que está escondido em baixo da cama e diz:

- "Pegue, é para você".

Vitória abre logo um sorriso e o presente. É uma pequena escultura de um presépio com o menino Jesus deitado na manjedoura. Dona Eliana aproveita a oportunidade e ensina a oração do Anjo da Guarda, afinal Vitória já está com seis anos e já é hora de aprender. E dona Eliana acrescenta que todas as vezes que Vitória se sentir sozinha e com medo, é só fazer uma oração para o anjo da guarda e outra para o Papai do céu que Ele virá correndo ajudá-la e irá protegê-la. Vitória dá um beijo no rosto de sua mãe e levanta-se da cama, vai logo colocando o presente na mesinha de cabeceira e fica admirando por um bom tempo o presépio.

Dona Eliana sai do quarto com uma alegria enorme vai para cozinha fazer o almoço para elas. O pai de Vitória sofreu um enfarto no dia do nascimento dela. É apenas, Vitória e sua mãe.





O CONVÍVIO

Mãe e filha são muito unidas, a cumplicidade das duas é admirada por todos que convivem com elas, desde os parentes até os vizinhos. Elas brincam entre si o tempo todo e uma das brincadeiras que mais gostam é a de quem irá dormir primeiro. Quando uma não consegue dormir, vai perguntar a outra se estava dormindo e geralmente acaba acordando a outra e nunca se sabe ao certo quem dorme primeiro. É pura diversão.

Vitória adora fazer cartões de mensagens para a mãe e sua mãe sempre faz as sobremesas que Vitória gosta. Nunca houve motivos para dona Eliana colocar a Vitória de castigo. Apesar de tanto carinho e amor mútuo, Vitória não é uma criança mimada. Os vizinhos sempre elogiam o jeito de dona Eliana criar a menina, é uma mocinha com tamanho e jeito de criança dizem os vizinhos.





O ACIDENTE

Hoje quinze de dezembro, Vitória está completando seis aninhos de vida e como sempre faz, ajuda sua mãe a enrolar os docinhos para a festa. Afinal, é sempre celebrando que elas conseguem reunir os amigos e os parentes que moram distantes. Está quase tudo pronto para a festa, quando dona Eliana decidiu então fazer um suco.

A jarra de vidro que dona Eliana pega para por o suco, escorrega de sua mão e bate na pia que é de mármore e quebra a jarra. Um pedaço da jarra cai na perna de dona Eliana que a corta profundamente pegando uma veia. O sangue jorra como um jato e Vitória fica apavorada e começa a chorar. Dona Eliana pedi para ela ir chamar alguém para ajudá-la, mas Vitória não quer deixar sua mãe sozinha, mas dona Eliana diz para ela pedir ajuda, pois como ela é muito pequenina não pode ajudá-la e ela poderá morrer se não tiver socorro a tempo.

Dona Eliana diz a Vitória:

- "Aconteça o que acontecer, nunca tenha medo e nunca deixe de ajudar a quem precisa, pois isso faz Papai do céu feliz e com isso eu tenho certeza que Ele sempre estará do deu lado".

- Agora vá e peça ajuda para mamãe. Está tudo bem, não se preocupe. Esse sangue vai parar e mamãe ficará bem, meu amor. Vá pedir ajuda, vá!

Vitória sai correndo e vai chamar a vizinha aos prantos. Chegando na casa de dona Fortuna, só faz chorar e não consegui dizer uma só palavra. Dona fortuna com toda a calma, diz que Vitória tem que se acalmar primeiro e falar depois. Dona Fortuna pega um copo com água para Vitória, passam-se alguns minutos e Vitória finalmente consegui dizer que sua mãe sofreu um acidente e está sangrando muito na cozinha de sua casa. Dona Fortuna liga para um pronto socorro e pedi para mandar uma ambulância. Em seguida, vai até a casa de Vitória com ela e ao chegar, encontra dona Eliana estendida no chão toda ensanguentada e já está morta. Dona Fortuna fica desesperada e abraça Vitória chorando copiosamente.

Vitória não quer acreditar no que está vendo. Sua mãe amada, está indo embora de vez e sem se despedir...

- O fazer agora, dona Fortuna?

- Para onde devo ir e com quem? Me ajude por favor.

Dona Fortuna não sabe o que responder para Vitória.





O ENTERRO E A PROMESSA

Foi então que Vitória lembrou das últimas palavras de sua mãe:

"Aconteça o que acontecer, nunca tenha medo e nunca deixe de ajudar a quem precisa, pois isso faz Papai do céu feliz e com isso eu tenho certeza que Ele sempre estará do deu lado".

Vitória corre para o quarto se ajoelha diante do presépio e faz a oração do Anjo da Guarda e em seguida ora para Papai do céu assim:

"Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, hoje e sempre, me rege, me guarde, me governe, me ilumine, amém".

Papai do céu, por favor, receba minha mãezinha em sua casa e me prometa que vai olhá-la todas as noites quando ela for dormir, pois ela costuma só dormir depois de mim. E também, diga a ela que eu a amo muito e que não se preocupe que eu vou ficar bem. Vou sempre sentir falta dela e que ela nunca sairá do meu coração. Me prometa também Papai do céu que nunca me faltará comida e eu te prometo que sempre que eu encontrar alguém que precise de ajuda, eu vou ajudar. Eu te amo muito Papai do céu e amo muito minha mãezinha também. Um beijo".

Vitória volta para a sala onde está o caixão que o pessoal da funerária já estava fechando quando, Vitória pede para dar um último beijo na sua mãe. Todos se comovem e começam a chorar. Vitória diz:

"Mamãezinha eu te amo e sempre te amarei, pode ir em paz que Papai do céu já está te esperando".





A VIDA CONTINUA

Após 20 anos da morte de dona Eliana, Vitória já está formada em enfermagem. Trabalha na Santa Casa de Misericórdia de sua cidade, cuidando dos mendigos de rua, dando-lhes banho, cortando unhas e cabelos, cuidando de seus ferimentos e alimentando-os. É um trabalho árduo, mas muito prazeroso para Vitória que o faz com muito amor no coração.

Vitória foi adotada carinhosamente pela sua vizinha dona Fortuna. Seus avós quiseram ficar com ela, mas Vitória preferiu ficar na casa de dona Fortuna pois é a única referência que tem do tempo em que viveu com sua mãe.

Em um dia ensolarado, Vitória estava na capela da Santa Casa fazendo suas orações, olhou para os vitrais sobre o altar e viu que os raios do sol estavam formando lindas figuras por sobre os desenhos. Então ela perguntou em oração:

"Senhor, o que significam estes raios? Para mim, é como se estivesses aqui. É isto? Estais aqui Senhor?".

Vitória pôs-se de joelhos e começou a contemplar os raios do sol que formavam figuras para ela estranhas. Sentiu em seu coração uma sensação de alegria nunca tida antes.

Foi então, que adentrou na capela um senhor, aparentando uma tranquilidade que os outros mendigos nunca teve. Ao contrário, só se via em seus rostos a dor causada pela fome, pela doença e pela solidão. Ele então ele se aproxima de Vitória e a cumprimenta.

- Bom dia minha filha!

- Bom dia senhor. Posso ajudá-lo em alguma coisa?

- Não, ou melhor, pode. Você pode me conseguir um copo de suco?

- Suco?

No mesmo instante, Vitória lembra-se do ocorrido com sua mãe. E começa a chorar. O senhor então a abraça.

- Vai ficar tudo bem, não se preocupe. Não tenhas medo, eu estou contigo.

Acaricia os cabelos dela e dá um beijo em sua face.

- Mas, quem é o senhor? Por que está me dizendo estas palavras? Por que me pediu um copo de suco?

E Vitória continua a chorar compulsivamente. Foi então que o senhor a olhou nos olhos e lhe disse:

- Sua mãe está bem, e muito orgulhosa de você. Ela disse que nunca deixou de estar do seu lado e que todas as noites vela por seu sono.

- Mas, como o senhor sabe dessas coisas?

- É o que ela me pediu para lhe dizer.

- Desculpe-me senhor, sou católica e não acredito em comunicação dos vivos com os mortos.

- Lhe conforta em saber isto o que lhe falei?

- Sim claro, mas como saberei se é verdade?

- O nosso Pai do céu diz que a recebeu em sua casa e que a coloca para dormir todas as noites, mesmo antes de você ir dormir, pois ficas estudando até tarde, não é mesmo? Ah! Também, Ele está feliz por você cuidar bem dos filhos Dele como você O prometeu.

- Como o senhor sabe destas coisas?

- Vitória, pergunte menos e contemple mais. Louve a Deus e nada te faltará, como nunca faltou filha. Estamos todos juntos de você sempre que oras em frente ao presépio e especialmente aqui na capela.

- Eu estou confusa. Desculpe-me. Todos, quem?

- E o meu suco? Sem lágrimas, por favor!

- Ah! Claro, vou buscar.

Vitória levanta-se para pegar o suco. De repente pára na porta da capela e quando olha para trás, não vê mais o senhor. Estranha, porque só há uma única porta na capela que é a que está saindo e sabe que ele não passou por ela.

- Meu Deus, será que recebi a visita de um anjo? Bem, já que ele se foi, não preciso mais pegar o suco. Vou ficar um pouco mais aqui e orar.

Nossa, me deu uma saudade de minha mãe...

Que dia é hoje? Oh meu Deus, hoje é dia de Natal, como pude esquecer. Tenho tantas coisas para arrumar para meus pacientes terem um lindo Natal.

Tenho que ir Senhor Jesus, um beijo e eu te amo muito.

Ao sair da capela Vitória dá de cara com o senhor que lhe pediu um suco e ela fica surpresa. Ele vai em direção a sala dela sorrindo e Vitória o segue intrigada. Não dão uma única palavra. Chegando na sala, o senhor fica ao lado do presépio que Vitória ganhou de sua mãe e por um instante Vitória vê sua mãe abraçada com ele, que então Vitória o reconhece como Jesus. Vitória se emociona e se aproxima do presépio com os braços estendidos para abraçar sua mãe e não consegue, a imagem deles se foi. Vitória chorando diz:

- Feliz natal minha mãezinha querida. Obrigada Senhor por todo o teu amor e zelo por mim. Amo muito vocês.





A JOVEM GUERREIRA

Maria Lúcia está em casa de férias, acordou cedo e deitou-se no sofá para ler um livro, quando toca o telefone. Era Joel, seu ex-cunhado que mora no Rio de Janeiro há 14 anos e lhe faz um convite tentador. Joel inicia a conversa explicando que ficou sabendo que ela estava insatisfeita com o trabalho e ela lhe diz que não é que esteja insatisfeita, mas ficou monótono e sabe que pode crescer profissionalmente na vida, porém a empresa em que está não tem mais condições de lhe promover mais do que já fez em 5 anos que está lá. Chegaram a oferecer o cargo de gerente de uma das lojas, mas ela não quis, pois não gosta da área de vendas, só da contábil e acabou não aceitando.

Então Joel lhe perguntou: Por que você não vem morar aqui no Rio de Janeiro? Seu currículo é bom e você poderá crescer profissionalmente já que aqui tem muito mais possibilidades profissionais do que aí no Recife. Maria Lúcia logo indagou - Joel me desculpe, mas eu não perdi nada aí no Rio de Janeiro. Estou de férias, volto daqui a uma semana e nunca tive vontade de conhecer essa cidade. E também, se eu pedir demissão vou perder os meus direitos trabalhistas e já estou na empresa há 05 anos.

Seu amigo insiste e diz - Você não perdeu nada aqui no RJ porque você nunca veio. Quem sabe se você não acha alguma coisa? Nem sempre a gente tem que perder algo, para depois encontrar, não é mesmo? Eu te ajudo financeiramente até você arranjar um emprego, estou bem financeiramente e posso te ajudar. Pago sua passagem de avião, só não posso trazer você para morar na minha casa, pois minha esposa não irá gostar de ter a minha ex-cunhada no mesmo teto que ela. Se você tiver onde morar, eu te mantenho aqui até você arranjar um emprego. E também, não pense muito, se não você não vem!

Aos 28 anos, essa não era a programação que Maria Lúcia havia pensado em fazer, queria terminar de curtir suas férias em casa mesmo e voltar para a sua vidinha monótona. Mas esse convite é bastante tentador, porém uma loucura, pois como poderá ir para uma cidade que nunca tinha ido na vida, como irá se virar por lá, os noticiários falam que a cidade é muito violenta. O que será dela? Mas se for da vontade de Deus, Ele facilitará as coisas e então eu vou, disse Maria Lúcia para Joel.

Daí então ela se lembrou: "Minha mãe sempre quis morar no Rio de Janeiro, ela está agora sofrendo com a separação com o meu pai, um casamento de quase 30 anos e em 6 meses de separação meu pai já estava casado com outra. Essa é uma oportunidade de ir e depois que vencer, levar a minha mãe para morar no Rio de Janeiro e assim ela não tem que conviver com essa situação aqui tão de perto. Será melhor assim".

No dia seguinte, Maria Lúcia foi à casa de uma tia que sempre passava os fins de semana na casa dela e ficou sabendo que Andreia sua amiga minha de infância; que está morando no Rio de Janeiro há 10 anos, está sofrendo muito com a separação do marido que lhe roubou todo o dinheiro, carro, computador e etc. e estava até tentando suicídio por causa disto. A mãe de Andreia está com ela no Rio de Janeiro, mas precisa voltar para a Recife, só que não quer deixar a filha sozinha no apartamento. Logo, Maria Lúcia percebeu que era um recado de Deus e ligou para a Andréa e perguntou se poderia ficar na casa dela até ela conseguir um outro lugar para morar, e Andreia disse que iria adorar sua companhia.

Maria Lúcia foi ao escritório e conversou com sua chefa da possibilidade de ir morar no Rio de Janeiro e ela para sua surpresa, aceitou numa boa. Disse que torcia e sabia que ela venceria na vida. Em seguida preparou junto ao escritório de contabilidade todos os papéis para que constasse que ela estava tirando férias trabalhando, para poder ser demitida, pagou uma multa trabalhista, mas Maria Lúcia devolveu depois. Em apenas 5 dias, tudo estava resolvido.

Maria Lúcia ligou para Joel e contou que já tinha onde morar logo, ele depositou o dinheiro para a passagem de avião. Maria Lúcia fez exatamente como o seu ex-cunhado havia lhe dito, não pensou muito e foi ao Rio de Janeiro.

Ao chegar na casa de Andreia, Joel voltou para o trabalho e só retornou a noite. Foram passear de carro pela orla do RJ para que Maria Lúcia pudesse conhecer. Ao voltar, Maria Lúcia caiu no choro, pensou se realmente estaria fazendo a coisa certa, pensou no que poderia acontecer, na saudade da família e amigos, se conseguiria um emprego rápido, se o dinheiro da sua indenização acabar até quando Joel irá sustentá-la, pois Joel é apenas seu amigo e não tem obrigação de sustentá-la. Maria Lúcia sabe que não pode contar com a ajuda do seu pai, aliás, estava sem falar com seu pai há um ano. Não tinha amigos e nem tinha noção de quanto tempo ficaria sem vê-los. Ela sempre foi apegada aos amigos, desde que seu melhor amigo se suicidou, ela não perde o contato e sempre lhes dá atenção temendo não poder estar por perto quando eles precisarem, como aconteceu com seu melhor amigo quando ele tirou a própria vida, ela só soube quatro dias depois.

Na Segunda-feira, Maria Lúcia já estava saindo para levar seu currículo nas empresas com seu amigo Joel lhe monitorando por telefone, dizendo qual ônibus que estava pegando indo e vindo, para qualquer lugar que iria teria que ligar. A mãe de Andreia voltou para Recife.

Passaram-se os dias e Andreia começou a aprontar, as empresas ligavam e ela começou a dizer que Maria Lúcia não morava lá. Uma vez ela ligou para saber se havia passado na entrevista e a pessoa falou que sim, que tinha ligado e a Andreia falou que ela tinha voltado para Recife com saudades da família. Com isto ela começou a imaginar que a amizade de infância não era tão sincera quanto imaginava.

Maria Lúcia antes de sair tinha que limpar o cocô e o xixi dos 4 gatos que Andreia tinha em casa, depois passava o dia inteiro procurando emprego e chegava em casa já de noite. Onze dias depois de sua estadia na casa de Andreia, Maria Lúcia chegando em casa se deparou com dois homens, Andreia disse que era um para cada uma. E que Maria Lúcia iria pagar a hospedagem na casa dela saindo com ele. Neste instante, Maria Lúcia percebeu que Andreia era uma cafetina e queria que Maria Lúcia entrasse nessa com ela nesta vida. Entendeu também o motivo pela qual não era chamada para as entrevistas e nem para começar a trabalhar nas empresas, pois o que Andreia queria para Maria Lúcia era outra coisa.

Maria Lúcia percebendo que não podia lutar contra dois homens, fingiu que ligaria para sua família em Recife e desceu correndo, ficou na rua das 19:00h ás 01:30h da madrugada, sentada numa calçada que dava para ver a entrada do prédio; quando viu os caras saíram, subiu e começou a discutir com Andreia pelo o que ela fez. A discussão não demorou muito, mas Maria Lúcia decidiu ir embora no dia seguinte já que não consegui falar com Joel naquela noite para lhe tirar dali. Andreia foi para o quarto e por volta das 3:00h da manhã foi ao quarto de Maria Lúcia e pediu desculpas, e para Maria Lúcia provar que havia desculpado, Andreia pediu para ela deitar na cama e verem um filme juntas. Maria Lúcia concordou e acabou caindo no sono na cama da Andreia, quando de repente Andreia cuspiu seu rosto sem mais nem menos. Maria Lúcia quando sentiu o cuspe escorrendo por seu rosto perguntou a Andreia que fingia estar dormindo, a razão pelo cuspe e a Andreia deu um empurrão nela e se virou e voltou a dormir. Maria Lúcia pensou em bater nela, mas se assim fizesse a Andreia poderia colocar ela para fora do apartamento de madrugada e Maria Lúcia correria perigo na rua, pois não tinha conseguido falar com Joel e se ligasse para a casa dele a mulher dele não iria gostar. Então ela preferiu esperar o dia amanhecer e esperar Joel ir buscá-la. Assim que o Joel chegou, Andreia não quis abrir a porta e Joel teve a abrir com um chute. Ele pegou meu braço, pegou minhas malas e fomos embora. Depois de um tempo soube que a Andreia voltou para Recife e nunca mais quis saber notícias dela.

Maria Lúcia ficou uma semana num hotel no Flamengo, Joel disse que ela tinha uma semana para decidir se ficava no Rio de Janeiro ou se voltava para Recife. Mas que para ficar no Rio teria que conseguir um lugar para morar, pois na casa dele não podia ficar. Uma coisa que Maria Lúcia não sabia é que no Rio de Janeiro existe vagas para moças e aluguel de quarto na casa de algumas pessoas. Foi então que ela começou a procurar vaga que seria mais barato. Joel teve que ir a São Paulo a trabalho e Maria Lúcia estava sozinha para encontrar um lugar para morar e/ou voltar para Recife. Decidiu alugar uma vaga, quando acabou o prazo que Joel havia lhe dado, ela pagou o hotel e foi para uma vaga em Copacabana. Achava que não podia ficar mais dias no hotel, pois o prazo que Joel deu foi de uma semana e então pagou com o dinheiro de sua indenização tanto o hotel como a vaga que tem que ser adiantado.

Maria Lúcia estava de volta á estaca zero. Começou a procurar emprego de novo e a se perguntar se valeria à pena tudo o que estava passando, pois não precisava disto. Em Recife morava com a família, tinha amigos e um bom emprego, aqui no Rio de Janeiro não tinha nada, apenas a esperança de que poderia vencer na vida e que se não fosse da vontade de Deus ela não teria vindo para cá.

Na vaga em que estava roubaram seu relógio, seu dinheiro e comeram sua comida, tendo que dormir com fome. Tentou ir embora querendo pagar apenas os dias que esteve lá, mas as regras de vaga não são bem assim, então decidiu ficar até o último dia para fazer jus ao dinheiro pago. Saiu da vaga e foi para um Albergue da Juventude, pois não sabia mais para onde ir. Joel queria que ela voltasse para Recife dizendo que foi um erro ter trazido ela para cá, mas ela não quis. Ficou de vaga em vaga, às vezes alugava quarto na casa das pessoas, mas sempre saia, pois não se adaptava.

Quando Maria Lúcia já havia conseguido um emprego em uma livraria, estava em certo um dia ligando para alugar outro lugar para morar, quando comentou com uma colega que o preço de um quarto para duas pessoas é o preço de um aluguel de apartamento. Então, uma cliente da loja ouvindo a conversa disse que um amigo dela tem um apartamento fechado há 10 anos e ela iria pedir para ele abrir e alugar para ela.

Não deu outra, Maria Lúcia alugou o apartamento e foi morar com uma colega de vaga, mas não durou muito, essa colega levou o namorado para o apartamento e transavam lá todos os dias. Maria Lúcia não gostou e pediu para ela não fazer isto e ela disse que fazia da parte do apartamento o que bem quisesse. A única solução foi devolver a parte do dinheiro do depósito que a colega havia pagado e então acelerar a vinda da família para o Rio de Janeiro, já que agora Maria Lúcia tem um apartamento alugado em seu nome. Em 20 dias a mãe, a irmã e o irmão caçula de Maria Lúcia vieram morar no apartamento, faltando apenas mais um irmão que resolveu ficar em Recife por enquanto.

O tempo passou e a vida de Maria Lúcia ao invés de melhorar piorou com a chegada da família. Ela pensou que viveriam todos unidos, pois estavam juntos numa cidade onde não há nenhum parente, era eles por eles mesmo. Mas Maria Lúcia começou a se desentender com sua irmã que é protestante por causa de religião. Sendo Maria Lúcia católica a sua irmã sempre falava mal da religião católica e isso era o suficiente para o início de uma discussão, mas sabendo que religião não se discute, mas a irmã de Maria Lúcia nunca ficou satisfeita do fato de seu ex Joel ter ajudado a sua irmã sem nenhuma intenção. Ela acha que os tem ou tinham alguma coisa e isto é um martírio para ela, pois ainda ama o Joel. Só que o que existe entre os dois é uma grande amizade, mas a cabeça maldosa dela não aceita isto e fica fazendo acusações maldosas.

Maria Lúcia foi à luta e mudou de emprego, desta vez está trabalhando numa multinacional e está bem, mas parece que seu crescimento profissional e sua aparente vitória desde que chegou no Rio de Janeiro incomodam sua irmã, que nunca teve coragem de lutar por nada na vida. As brigas eram constantes e Maria Lúcia decidiu não aguentar mais, foi morar com seu namorado que é ator e depois de 2 anos e 9 meses ele foi para Nova York estudar teatro deixando Maria Lúcia grávida de 4 meses. Foi uma gravidez de risco, mas o bebê nasceu saudável graças a Deus e o pai da criança não voltou de Nova York para vê-la, só liga e manda notícias, inclusive de que está noivo e vai se casar por lá para poder ganhar o Green Card. Maria Lúcia decidiu criar sua filha sem a ajuda da família dela, pois nunca pode dizer que era um lar de verdade, só está contando apenas com seu salário e com a ajuda do pai da criança que manda dinheiro de vez em quando.

Não era essa a vida que Maria Lúcia imaginava que teria, mas quem é que sabe a vida que vai se ter, não é mesmo? O certo é que ela encontrou muitas dificuldades e soube vencê-las, encontrou um amor verdadeiro e mesmo que não tenham ficado juntos, ela se entregou intensamente a esse amor. Encontrou nela uma força e uma capacidade de lutar e vencer que jamais pensou que existisse nela. Cresceu como pessoa e como profissional, conforme sua vontade e possibilidade. Cria sua filha com todo o amor que uma mãe pode dar a um filho e procura ser melhor como pessoa a cada dia.

Quer dar um mundo melhor para sua filha e acredita que começa com nossas próprias ações e exemplos.

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