Vitória está deitada em sua cama quando sua mãe dona Eliana
entra no quarto, se aproxima e senta-se na cama. Começa a acariciar os
cabelos de Vitória e lhe dá um beijo na face.
Vitória acorda, se espreguiça e pergunta:
- "O que houve mamãe?"
Dona Eliana não diz uma só palavra, se abaixa e pega um presente
que está escondido em baixo da cama e diz:
- "Pegue, é para você".
Vitória abre logo um sorriso e o presente. É uma pequena escultura
de um presépio com o menino Jesus deitado na manjedoura. Dona Eliana
aproveita a oportunidade e ensina a oração do Anjo da Guarda,
afinal Vitória já está com seis anos e já é
hora de aprender. E dona Eliana acrescenta que todas as vezes que Vitória
se sentir sozinha e com medo, é só fazer uma oração
para o anjo da guarda e outra para o Papai do céu que Ele virá
correndo ajudá-la e irá protegê-la. Vitória dá
um beijo no rosto de sua mãe e levanta-se da cama, vai logo colocando
o presente na mesinha de cabeceira e fica admirando por um bom tempo o presépio.
Dona Eliana sai do quarto com uma alegria enorme vai para cozinha fazer o almoço
para elas. O pai de Vitória sofreu um enfarto no dia do nascimento dela.
É apenas, Vitória e sua mãe.
O CONVÍVIO
Mãe e filha são muito unidas, a cumplicidade das duas é
admirada por todos que convivem com elas, desde os parentes até os vizinhos.
Elas brincam entre si o tempo todo e uma das brincadeiras que mais gostam é
a de quem irá dormir primeiro. Quando uma não consegue dormir,
vai perguntar a outra se estava dormindo e geralmente acaba acordando a outra
e nunca se sabe ao certo quem dorme primeiro. É pura diversão.
Vitória adora fazer cartões de mensagens para a mãe e sua
mãe sempre faz as sobremesas que Vitória gosta. Nunca houve motivos
para dona Eliana colocar a Vitória de castigo. Apesar de tanto carinho
e amor mútuo, Vitória não é uma criança mimada.
Os vizinhos sempre elogiam o jeito de dona Eliana criar a menina, é uma
mocinha com tamanho e jeito de criança dizem os vizinhos.
O ACIDENTE
Hoje quinze de dezembro, Vitória está completando seis aninhos
de vida e como sempre faz, ajuda sua mãe a enrolar os docinhos para a
festa. Afinal, é sempre celebrando que elas conseguem reunir os amigos
e os parentes que moram distantes. Está quase tudo pronto para a festa,
quando dona Eliana decidiu então fazer um suco.
A jarra de vidro que dona Eliana pega para por o suco, escorrega de sua mão
e bate na pia que é de mármore e quebra a jarra. Um pedaço
da jarra cai na perna de dona Eliana que a corta profundamente pegando uma veia.
O sangue jorra como um jato e Vitória fica apavorada e começa
a chorar. Dona Eliana pedi para ela ir chamar alguém para ajudá-la,
mas Vitória não quer deixar sua mãe sozinha, mas dona Eliana
diz para ela pedir ajuda, pois como ela é muito pequenina não
pode ajudá-la e ela poderá morrer se não tiver socorro
a tempo.
Dona Eliana diz a Vitória:
- "Aconteça o que acontecer, nunca tenha medo e nunca deixe de
ajudar a quem precisa, pois isso faz Papai do céu feliz e com isso eu
tenho certeza que Ele sempre estará do deu lado".
- Agora vá e peça ajuda para mamãe. Está
tudo bem, não se preocupe. Esse sangue vai parar e mamãe ficará
bem, meu amor. Vá pedir ajuda, vá!
Vitória sai correndo e vai chamar a vizinha aos prantos. Chegando
na casa de dona Fortuna, só faz chorar e não consegui dizer uma
só palavra. Dona fortuna com toda a calma, diz que Vitória tem
que se acalmar primeiro e falar depois. Dona Fortuna pega um copo com água
para Vitória, passam-se alguns minutos e Vitória finalmente consegui
dizer que sua mãe sofreu um acidente e está sangrando muito na
cozinha de sua casa. Dona Fortuna liga para um pronto socorro e pedi para mandar
uma ambulância. Em seguida, vai até a casa de Vitória com
ela e ao chegar, encontra dona Eliana estendida no chão toda ensanguentada
e já está morta. Dona Fortuna fica desesperada e abraça
Vitória chorando copiosamente.
Vitória não quer acreditar no que está vendo. Sua mãe
amada, está indo embora de vez e sem se despedir...
- O fazer agora, dona Fortuna?
- Para onde devo ir e com quem? Me ajude por favor.
Dona Fortuna não sabe o que responder para Vitória.
O ENTERRO E A PROMESSA
Foi então que Vitória lembrou das últimas palavras de sua
mãe:
"Aconteça o que acontecer, nunca tenha medo e nunca deixe de
ajudar a quem precisa, pois isso faz Papai do céu feliz e com isso eu
tenho certeza que Ele sempre estará do deu lado".
Vitória corre para o quarto se ajoelha diante do presépio
e faz a oração do Anjo da Guarda e em seguida ora para Papai do
céu assim:
"Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade
divina, hoje e sempre, me rege, me guarde, me governe, me ilumine, amém".
Papai do céu, por favor, receba minha mãezinha em sua casa
e me prometa que vai olhá-la todas as noites quando ela for dormir, pois
ela costuma só dormir depois de mim. E também, diga a ela que
eu a amo muito e que não se preocupe que eu vou ficar bem. Vou sempre
sentir falta dela e que ela nunca sairá do meu coração.
Me prometa também Papai do céu que nunca me faltará comida
e eu te prometo que sempre que eu encontrar alguém que precise de ajuda,
eu vou ajudar. Eu te amo muito Papai do céu e amo muito minha mãezinha
também. Um beijo".
Vitória volta para a sala onde está o caixão que o
pessoal da funerária já estava fechando quando, Vitória
pede para dar um último beijo na sua mãe. Todos se comovem e começam
a chorar. Vitória diz:
"Mamãezinha eu te amo e sempre te amarei, pode ir em paz que
Papai do céu já está te esperando".
A VIDA CONTINUA
Após 20 anos da morte de dona Eliana, Vitória já está
formada em enfermagem. Trabalha na Santa Casa de Misericórdia de sua
cidade, cuidando dos mendigos de rua, dando-lhes banho, cortando unhas e cabelos,
cuidando de seus ferimentos e alimentando-os. É um trabalho árduo,
mas muito prazeroso para Vitória que o faz com muito amor no coração.
Vitória foi adotada carinhosamente pela sua vizinha dona Fortuna. Seus
avós quiseram ficar com ela, mas Vitória preferiu ficar na casa
de dona Fortuna pois é a única referência que tem do tempo
em que viveu com sua mãe.
Em um dia ensolarado, Vitória estava na capela da Santa Casa fazendo
suas orações, olhou para os vitrais sobre o altar e viu que os
raios do sol estavam formando lindas figuras por sobre os desenhos. Então
ela perguntou em oração:
"Senhor, o que significam estes raios? Para mim, é como se estivesses
aqui. É isto? Estais aqui Senhor?".
Vitória pôs-se de joelhos e começou a contemplar os
raios do sol que formavam figuras para ela estranhas. Sentiu em seu coração
uma sensação de alegria nunca tida antes.
Foi então, que adentrou na capela um senhor, aparentando uma tranquilidade
que os outros mendigos nunca teve. Ao contrário, só se via em
seus rostos a dor causada pela fome, pela doença e pela solidão.
Ele então ele se aproxima de Vitória e a cumprimenta.
- Bom dia minha filha!
- Bom dia senhor. Posso ajudá-lo em alguma coisa?
- Não, ou melhor, pode. Você pode me conseguir um copo de
suco?
- Suco?
No mesmo instante, Vitória lembra-se do ocorrido com sua mãe.
E começa a chorar. O senhor então a abraça.
- Vai ficar tudo bem, não se preocupe. Não tenhas medo, eu
estou contigo.
Acaricia os cabelos dela e dá um beijo em sua face.
- Mas, quem é o senhor? Por que está me dizendo estas palavras?
Por que me pediu um copo de suco?
E Vitória continua a chorar compulsivamente. Foi então que
o senhor a olhou nos olhos e lhe disse:
- Sua mãe está bem, e muito orgulhosa de você. Ela disse
que nunca deixou de estar do seu lado e que todas as noites vela por seu sono.
- Mas, como o senhor sabe dessas coisas?
- É o que ela me pediu para lhe dizer.
- Desculpe-me senhor, sou católica e não acredito em comunicação
dos vivos com os mortos.
- Lhe conforta em saber isto o que lhe falei?
- Sim claro, mas como saberei se é verdade?
- O nosso Pai do céu diz que a recebeu em sua casa e que a coloca
para dormir todas as noites, mesmo antes de você ir dormir, pois ficas
estudando até tarde, não é mesmo? Ah! Também, Ele
está feliz por você cuidar bem dos filhos Dele como você
O prometeu.
- Como o senhor sabe destas coisas?
- Vitória, pergunte menos e contemple mais. Louve a Deus e nada
te faltará, como nunca faltou filha. Estamos todos juntos de você
sempre que oras em frente ao presépio e especialmente aqui na capela.
- Eu estou confusa. Desculpe-me. Todos, quem?
- E o meu suco? Sem lágrimas, por favor!
- Ah! Claro, vou buscar.
Vitória levanta-se para pegar o suco. De repente pára na porta
da capela e quando olha para trás, não vê mais o senhor.
Estranha, porque só há uma única porta na capela que é
a que está saindo e sabe que ele não passou por ela.
- Meu Deus, será que recebi a visita de um anjo? Bem, já que
ele se foi, não preciso mais pegar o suco. Vou ficar um pouco mais aqui
e orar.
Nossa, me deu uma saudade de minha mãe...
Que dia é hoje? Oh meu Deus, hoje é dia de Natal, como pude esquecer.
Tenho tantas coisas para arrumar para meus pacientes terem um lindo Natal.
Tenho que ir Senhor Jesus, um beijo e eu te amo muito.
Ao sair da capela Vitória dá de cara com o senhor que lhe pediu
um suco e ela fica surpresa. Ele vai em direção a sala dela sorrindo
e Vitória o segue intrigada. Não dão uma única palavra.
Chegando na sala, o senhor fica ao lado do presépio que Vitória
ganhou de sua mãe e por um instante Vitória vê sua mãe
abraçada com ele, que então Vitória o reconhece como Jesus.
Vitória se emociona e se aproxima do presépio com os braços
estendidos para abraçar sua mãe e não consegue, a imagem
deles se foi. Vitória chorando diz:
- Feliz natal minha mãezinha querida. Obrigada Senhor por todo o teu
amor e zelo por mim. Amo muito vocês.
A JOVEM GUERREIRA
Maria Lúcia está em casa de férias, acordou cedo e deitou-se
no sofá para ler um livro, quando toca o telefone. Era Joel, seu ex-cunhado
que mora no Rio de Janeiro há 14 anos e lhe faz um convite tentador.
Joel inicia a conversa explicando que ficou sabendo que ela estava insatisfeita
com o trabalho e ela lhe diz que não é que esteja insatisfeita,
mas ficou monótono e sabe que pode crescer profissionalmente na vida,
porém a empresa em que está não tem mais condições
de lhe promover mais do que já fez em 5 anos que está lá.
Chegaram a oferecer o cargo de gerente de uma das lojas, mas ela não
quis, pois não gosta da área de vendas, só da contábil
e acabou não aceitando.
Então Joel lhe perguntou: Por que você não vem morar aqui
no Rio de Janeiro? Seu currículo é bom e você poderá
crescer profissionalmente já que aqui tem muito mais possibilidades profissionais
do que aí no Recife. Maria Lúcia logo indagou - Joel me desculpe,
mas eu não perdi nada aí no Rio de Janeiro. Estou de férias,
volto daqui a uma semana e nunca tive vontade de conhecer essa cidade. E também,
se eu pedir demissão vou perder os meus direitos trabalhistas e já
estou na empresa há 05 anos.
Seu amigo insiste e diz - Você não perdeu nada aqui no RJ porque
você nunca veio. Quem sabe se você não acha alguma coisa?
Nem sempre a gente tem que perder algo, para depois encontrar, não é
mesmo? Eu te ajudo financeiramente até você arranjar um emprego,
estou bem financeiramente e posso te ajudar. Pago sua passagem de avião,
só não posso trazer você para morar na minha casa, pois
minha esposa não irá gostar de ter a minha ex-cunhada no mesmo
teto que ela. Se você tiver onde morar, eu te mantenho aqui até
você arranjar um emprego. E também, não pense muito, se
não você não vem!
Aos 28 anos, essa não era a programação que Maria Lúcia
havia pensado em fazer, queria terminar de curtir suas férias em casa
mesmo e voltar para a sua vidinha monótona. Mas esse convite é
bastante tentador, porém uma loucura, pois como poderá ir para
uma cidade que nunca tinha ido na vida, como irá se virar por lá,
os noticiários falam que a cidade é muito violenta. O que será
dela? Mas se for da vontade de Deus, Ele facilitará as coisas e então
eu vou, disse Maria Lúcia para Joel.
Daí então ela se lembrou: "Minha mãe sempre quis morar
no Rio de Janeiro, ela está agora sofrendo com a separação
com o meu pai, um casamento de quase 30 anos e em 6 meses de separação
meu pai já estava casado com outra. Essa é uma oportunidade de
ir e depois que vencer, levar a minha mãe para morar no Rio de Janeiro
e assim ela não tem que conviver com essa situação aqui
tão de perto. Será melhor assim".
No dia seguinte, Maria Lúcia foi à casa de uma tia que sempre
passava os fins de semana na casa dela e ficou sabendo que Andreia sua
amiga minha de infância; que está morando no Rio de Janeiro há
10 anos, está sofrendo muito com a separação do marido
que lhe roubou todo o dinheiro, carro, computador e etc. e estava até
tentando suicídio por causa disto. A mãe de Andreia está
com ela no Rio de Janeiro, mas precisa voltar para a Recife, só que não
quer deixar a filha sozinha no apartamento. Logo, Maria Lúcia percebeu
que era um recado de Deus e ligou para a Andréa e perguntou se poderia
ficar na casa dela até ela conseguir um outro lugar para morar, e Andreia
disse que iria adorar sua companhia.
Maria Lúcia foi ao escritório e conversou com sua chefa da possibilidade
de ir morar no Rio de Janeiro e ela para sua surpresa, aceitou numa boa. Disse
que torcia e sabia que ela venceria na vida. Em seguida preparou junto ao escritório
de contabilidade todos os papéis para que constasse que ela estava tirando
férias trabalhando, para poder ser demitida, pagou uma multa trabalhista,
mas Maria Lúcia devolveu depois. Em apenas 5 dias, tudo estava resolvido.
Maria Lúcia ligou para Joel e contou que já tinha onde morar logo,
ele depositou o dinheiro para a passagem de avião. Maria Lúcia
fez exatamente como o seu ex-cunhado havia lhe dito, não pensou muito
e foi ao Rio de Janeiro.
Ao chegar na casa de Andreia, Joel voltou para o trabalho e só
retornou a noite. Foram passear de carro pela orla do RJ para que Maria Lúcia
pudesse conhecer. Ao voltar, Maria Lúcia caiu no choro, pensou se realmente
estaria fazendo a coisa certa, pensou no que poderia acontecer, na saudade da
família e amigos, se conseguiria um emprego rápido, se o dinheiro
da sua indenização acabar até quando Joel irá sustentá-la,
pois Joel é apenas seu amigo e não tem obrigação
de sustentá-la. Maria Lúcia sabe que não pode contar com
a ajuda do seu pai, aliás, estava sem falar com seu pai há um
ano. Não tinha amigos e nem tinha noção de quanto tempo
ficaria sem vê-los. Ela sempre foi apegada aos amigos, desde que seu melhor
amigo se suicidou, ela não perde o contato e sempre lhes dá atenção
temendo não poder estar por perto quando eles precisarem, como aconteceu
com seu melhor amigo quando ele tirou a própria vida, ela só soube
quatro dias depois.
Na Segunda-feira, Maria Lúcia já estava saindo para levar seu
currículo nas empresas com seu amigo Joel lhe monitorando por telefone,
dizendo qual ônibus que estava pegando indo e vindo, para qualquer lugar
que iria teria que ligar. A mãe de Andreia voltou para Recife.
Passaram-se os dias e Andreia começou a aprontar, as empresas
ligavam e ela começou a dizer que Maria Lúcia não morava
lá. Uma vez ela ligou para saber se havia passado na entrevista e a pessoa
falou que sim, que tinha ligado e a Andreia falou que ela tinha voltado
para Recife com saudades da família. Com isto ela começou a imaginar
que a amizade de infância não era tão sincera quanto imaginava.
Maria Lúcia antes de sair tinha que limpar o cocô e o xixi dos
4 gatos que Andreia tinha em casa, depois passava o dia inteiro procurando
emprego e chegava em casa já de noite. Onze dias depois de sua estadia
na casa de Andreia, Maria Lúcia chegando em casa se deparou com
dois homens, Andreia disse que era um para cada uma. E que Maria Lúcia
iria pagar a hospedagem na casa dela saindo com ele. Neste instante, Maria Lúcia
percebeu que Andreia era uma cafetina e queria que Maria Lúcia
entrasse nessa com ela nesta vida. Entendeu também o motivo pela qual
não era chamada para as entrevistas e nem para começar a trabalhar
nas empresas, pois o que Andreia queria para Maria Lúcia era outra
coisa.
Maria Lúcia percebendo que não podia lutar contra dois homens,
fingiu que ligaria para sua família em Recife e desceu correndo, ficou
na rua das 19:00h ás 01:30h da madrugada, sentada numa calçada
que dava para ver a entrada do prédio; quando viu os caras saíram,
subiu e começou a discutir com Andreia pelo o que ela fez. A discussão
não demorou muito, mas Maria Lúcia decidiu ir embora no dia seguinte
já que não consegui falar com Joel naquela noite para lhe tirar
dali. Andreia foi para o quarto e por volta das 3:00h da manhã
foi ao quarto de Maria Lúcia e pediu desculpas, e para Maria Lúcia
provar que havia desculpado, Andreia pediu para ela deitar na cama e
verem um filme juntas. Maria Lúcia concordou e acabou caindo no sono
na cama da Andreia, quando de repente Andreia cuspiu seu rosto
sem mais nem menos. Maria Lúcia quando sentiu o cuspe escorrendo por
seu rosto perguntou a Andreia que fingia estar dormindo, a razão
pelo cuspe e a Andreia deu um empurrão nela e se virou e voltou
a dormir. Maria Lúcia pensou em bater nela, mas se assim fizesse a Andreia
poderia colocar ela para fora do apartamento de madrugada e Maria Lúcia
correria perigo na rua, pois não tinha conseguido falar com Joel e se
ligasse para a casa dele a mulher dele não iria gostar. Então
ela preferiu esperar o dia amanhecer e esperar Joel ir buscá-la. Assim
que o Joel chegou, Andreia não quis abrir a porta e Joel teve
a abrir com um chute. Ele pegou meu braço, pegou minhas malas e fomos
embora. Depois de um tempo soube que a Andreia voltou para Recife e nunca
mais quis saber notícias dela.
Maria Lúcia ficou uma semana num hotel no Flamengo, Joel disse que ela
tinha uma semana para decidir se ficava no Rio de Janeiro ou se voltava para
Recife. Mas que para ficar no Rio teria que conseguir um lugar para morar, pois
na casa dele não podia ficar. Uma coisa que Maria Lúcia não
sabia é que no Rio de Janeiro existe vagas para moças e aluguel
de quarto na casa de algumas pessoas. Foi então que ela começou
a procurar vaga que seria mais barato. Joel teve que ir a São Paulo a
trabalho e Maria Lúcia estava sozinha para encontrar um lugar para morar
e/ou voltar para Recife. Decidiu alugar uma vaga, quando acabou o prazo que
Joel havia lhe dado, ela pagou o hotel e foi para uma vaga em Copacabana. Achava
que não podia ficar mais dias no hotel, pois o prazo que Joel deu foi
de uma semana e então pagou com o dinheiro de sua indenização
tanto o hotel como a vaga que tem que ser adiantado.
Maria Lúcia estava de volta á estaca zero. Começou a procurar
emprego de novo e a se perguntar se valeria à pena tudo o que estava
passando, pois não precisava disto. Em Recife morava com a família,
tinha amigos e um bom emprego, aqui no Rio de Janeiro não tinha nada,
apenas a esperança de que poderia vencer na vida e que se não
fosse da vontade de Deus ela não teria vindo para cá.
Na vaga em que estava roubaram seu relógio, seu dinheiro e comeram sua
comida, tendo que dormir com fome. Tentou ir embora querendo pagar apenas os
dias que esteve lá, mas as regras de vaga não são bem assim,
então decidiu ficar até o último dia para fazer jus ao
dinheiro pago. Saiu da vaga e foi para um Albergue da Juventude, pois não
sabia mais para onde ir. Joel queria que ela voltasse para Recife dizendo que
foi um erro ter trazido ela para cá, mas ela não quis. Ficou de
vaga em vaga, às vezes alugava quarto na casa das pessoas, mas sempre
saia, pois não se adaptava.
Quando Maria Lúcia já havia conseguido um emprego em uma livraria,
estava em certo um dia ligando para alugar outro lugar para morar, quando comentou
com uma colega que o preço de um quarto para duas pessoas é o
preço de um aluguel de apartamento. Então, uma cliente da loja
ouvindo a conversa disse que um amigo dela tem um apartamento fechado há
10 anos e ela iria pedir para ele abrir e alugar para ela.
Não deu outra, Maria Lúcia alugou o apartamento e foi morar com
uma colega de vaga, mas não durou muito, essa colega levou o namorado
para o apartamento e transavam lá todos os dias. Maria Lúcia não
gostou e pediu para ela não fazer isto e ela disse que fazia da parte
do apartamento o que bem quisesse. A única solução foi
devolver a parte do dinheiro do depósito que a colega havia pagado e
então acelerar a vinda da família para o Rio de Janeiro, já
que agora Maria Lúcia tem um apartamento alugado em seu nome. Em 20 dias
a mãe, a irmã e o irmão caçula de Maria Lúcia
vieram morar no apartamento, faltando apenas mais um irmão que resolveu
ficar em Recife por enquanto.
O tempo passou e a vida de Maria Lúcia ao invés de melhorar piorou
com a chegada da família. Ela pensou que viveriam todos unidos, pois
estavam juntos numa cidade onde não há nenhum parente, era eles
por eles mesmo. Mas Maria Lúcia começou a se desentender com sua
irmã que é protestante por causa de religião. Sendo Maria
Lúcia católica a sua irmã sempre falava mal da religião
católica e isso era o suficiente para o início de uma discussão,
mas sabendo que religião não se discute, mas a irmã de
Maria Lúcia nunca ficou satisfeita do fato de seu ex Joel ter ajudado
a sua irmã sem nenhuma intenção. Ela acha que os tem ou
tinham alguma coisa e isto é um martírio para ela, pois ainda
ama o Joel. Só que o que existe entre os dois é uma grande amizade,
mas a cabeça maldosa dela não aceita isto e fica fazendo acusações
maldosas.
Maria Lúcia foi à luta e mudou de emprego, desta vez está
trabalhando numa multinacional e está bem, mas parece que seu crescimento
profissional e sua aparente vitória desde que chegou no Rio de Janeiro
incomodam sua irmã, que nunca teve coragem de lutar por nada na vida.
As brigas eram constantes e Maria Lúcia decidiu não aguentar
mais, foi morar com seu namorado que é ator e depois de 2 anos e 9 meses
ele foi para Nova York estudar teatro deixando Maria Lúcia grávida
de 4 meses. Foi uma gravidez de risco, mas o bebê nasceu saudável
graças a Deus e o pai da criança não voltou de Nova York
para vê-la, só liga e manda notícias, inclusive de que está
noivo e vai se casar por lá para poder ganhar o Green Card. Maria Lúcia
decidiu criar sua filha sem a ajuda da família dela, pois nunca pode
dizer que era um lar de verdade, só está contando apenas com seu
salário e com a ajuda do pai da criança que manda dinheiro de
vez em quando.
Não era essa a vida que Maria Lúcia imaginava que teria, mas quem
é que sabe a vida que vai se ter, não é mesmo? O certo
é que ela encontrou muitas dificuldades e soube vencê-las, encontrou
um amor verdadeiro e mesmo que não tenham ficado juntos, ela se entregou
intensamente a esse amor. Encontrou nela uma força e uma capacidade de
lutar e vencer que jamais pensou que existisse nela. Cresceu como pessoa e como
profissional, conforme sua vontade e possibilidade. Cria sua filha com todo
o amor que uma mãe pode dar a um filho e procura ser melhor como pessoa
a cada dia.
Quer dar um mundo melhor para sua filha e acredita que começa com nossas
próprias ações e exemplos.