A Garganta da Serpente
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Sobre Ali Babá, Caribus e Quelônios

(Julio Silva)

Terminado o pleito e atestado pelos Quelônios, os passos do Papai Noel entristeciam-se; diversas cartas ele recebera para que a floresta ganhasse de presente - ainda que no ano novo - um alcaide que estivesse a altura de suas necessidades da Selva. Tal pedido, chegado que havia pelo sentimento de boa parte da população daquele local, não condizia com o desejo das demais, expressado pelo voto. Assim, Papai Noel não atendeu... Explica-se! Dentre aqueles votantes, visto desejarem favorecimentos que não viriam do Papai Noel e sim, esperado do dinheiro que seria confiado ao novo Alcaide, firmou-se a convicção do voto e o elegeram, a despeito das reclamações pela justiça registradas nos ofícios dos Quelônios; tais seres eram notáveis em conhecimentos e, em razão das suas características genéticas, exemplares em morosidade.

O Coelhinho da Páscoa, apesar da sua rapidez peculiar, não trouxe qualquer novidade dos ofícios dos Quelônios e, ainda mais, os seres todos daquela floresta rogaram em seis de agosto por um milagre, considerando a data do padroeiro local; outros procuravam esclarecer aos amigos e assim seguia-se o descontentamento naquela selva.

Estabeleceu-se, por fim, um período em que a administração da selva foi confiada a Ali Babá - ele não gostava que lhe chamassem por Ali Bigode Babado -, e ficou conhecido naquelas paragens pelos seus mais de 40 seguidores, todos ocupantes de cargos de sua confiança. A maioria deles eram parentes próximos. Aos Quelônios, avolumavam-se queixas sobre um tal de Nepotismo (do latim "nepos", neto ou descendente). Tal termo foi utilizado para designar o favorecimento de parentes em detrimento de pessoas mais qualificadas, no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos.

Havia também - elegido pelos demais seres como seus representantes para discussões sobre os rumos da selva -, o Conselho dos Caribus. Porém, corre solto pela Selva comentários sobre as suas ações políticas e decisões tomadas em troca de favorecimentos e outros benefícios a interesses individuais. Avalia-se que tal fenômeno acontece com frequência na Casa dos Caribus e, claro, também ocorre na casa do Alcaide Ali Babá.

Aos seres da floresta restam duas maneiras de agir, para modificar a história da selva. Depositar esperanças nos pedidos de investigação efetuado aos Quelônios. A segunda alternativa é lembrar que a Casa dos Nobres Caribus recebe os demais seres em sua plateia uma vez por semana. Porém, é preciso certo cuidado higiênico com os ouvidos; alguns Caribus tem um vocabulário precário e desacatam os demais seres com facilidade. Comenta-se também que eles possuem alguns neurônios a menos e que isso provoca "disenteria verbal", fenômeno pelo qual aqueles animais expelem suas fezes através das suas palavras.

De toda forma, tal período histórico daquela selva será conhecido como o mais improdutivo e corrupto que a Selva das Águas ao Redor conheceu.

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