Todo dia, no chuveiro, era aquela lenta agonia, sufocada pelo chiar da água 
  quente nas suas costas, pela vibração rítmica dos músculos. 
  Suava bastante, até que, por fim, alcançava o planalto da satisfação, 
  o clímax. Já estava inquieto, pois a puberdade já atingia 
  o paroxismo e sua agonia diária no chuveiro não dava sinais de 
  se arrefecer. Os amigos, que já tinham tido experiências reais, 
  o espicaçavam: contavam-lhe detalhes, enriqueciam sua imaginação 
  com a descrição de corpos nus na sofreguidão de lençóis 
  imundos, de gemidos abafados, de líquido leitoso esparramado por entre 
  coxas lisas e macias. 
 Não suportando mais este estado de coisas, armou-se de coragem e de 
  um punhado de dinheiro: não seria mais o chuveiro - com os pingos quentes 
  e irregulares - que lhe garantiria a paz de espírito de que necessitava. 
  Tomou um longo e silencioso banho, procurando afastar de seus pensamentos quaisquer 
  possibilidades de um regresso àquele suplício solitário 
  no banheiro. Sim, doravante sentiria apenas o calor de um corpo feminino, o 
  leve e suave roçar de pernas, a arquitetura aconchegante e macia de um 
  seio; não apaziguaria mais seus nervos naquele frêmito solitário 
  de vários anos.
 Oitos horas da noite. É o primeiro cliente a chegar. O grande salão 
  está quase deserto, iluminado apenas pelo pálido reflexo da luz 
  vermelha que balança solitária no alpendre. No velho aparelho 
  toca um bolero miserável. Seus lentos passos ressoam como se caminhasse 
  num claustro. O olhar perpassa todo ambiente, indo encontrar, ao fundo da sala, 
  recostada numa poltrona, uma jovem, cuja aparência esguia e delicada o 
  fez se aproximar. Sua muda solicitude o inquieta, faz tremer seu coração, 
  deixando-o em estado de grande excitação. Inicia-se um incipiente 
  diálogo, intercalado por leve roçar de mãos: enfim, tudo 
  acertado. 
 O subir das escadas parece interminável, infinito. A velha madeira 
  suporta com lamúrias o lento caminhar. Ela vai à frente. Suas 
  mãos, frias, denunciam amadorismo. O corpo - ainda rígido, cintura 
  delgada, nádegas beligerantes, seios petulantes e rebeldes - parece improvável. 
  Passam pela porta do banheiro. Está aberta. Ele não consegue desviar 
  o olhar: o maldito chuveiro! Adentram ao quarto. A chave é jogada num 
  canto. Seus corpos, trêmulos, nus, se aproximam; carícias são 
  timidamente trocadas. Por um breve instante agonizam na solidão da troca 
  de um olhar; olhar que termina com um longo e ardente beijo, prólogo 
  do gozo daqueles corpos, que se fundem violentamente na pequena cama.
  Ofegante, com a alma leve, treme de amor por aquela jovem que o iniciara, que 
  o afastara momentaneamente daquele suplício diário no chuveiro. 
  Ela não lhe cobrou nada, apenas a quantia da Gerente da casa. Ainda deu-lhe 
  de recordação, como prova de seu afeto, para que voltasse mais 
  vezes, um brinco, com uma longa e fina haste de metal. Não lhe deu o 
  par - a outra peça seria dada quando retornasse.
 Ao chegar em casa, sentiu a necessidade premente de tomar um banho. "Sim, 
  só um banho, pra me vingar daquela maldita vida de antes!" Girou 
  a torneira e sentiu na pele pingos quentes, irregulares, a lhe queimar as costas. 
  O conformismo já dominava seu ânimo, mas logo se lembrou do presente 
  que havia recebido. O brinco! Nu, com a água quente escorrendo pela mão, 
  foi introduzindo nervosamente a haste do brinco nos orifícios entupidos. 
  De repente, após forçar uma passagem, a haste encontrou um metal, 
  fazendo-o sentir uma grande vibração. Um facho de luz percorreu 
  sua visão, iluminando tudo, retesando seu corpo, triturando-lhe todos 
  os músculos. Num segundo, a imagem do sorriso da jovem que acabara de 
  amar percorreu mais de mil vezes sua mente. Depois, tudo foi se apagando, lentamente...
 O corpo, rígido, contraído no pequeno banheiro, só foi 
  encontrado horas depois, com o brinco entre os dedos esturricados - e com a 
  água quente a lhe queimar a pele.