- Você sempre faz isso! Mesmo sabendo que me magoa...
- Cláudio, foi você mesmo que propôs que nós abríssemos
o nosso relacionamento. Você não sabe o que quer!
- Eu sei perfeitamente o que eu quero. E definitivamente não é
ir ao meu restaurante preferido e encontrar a minha mulher jantando com outro
cara. Tanto restaurante nessa merda de cidade! Por que o que eu mais gosto?
- Ele que propôs.
- E você não sabe dizer não?
- Por que iria dizer não? Quem estava cansado e sem disposição
pra sair hoje?
- Mudei de ideia, ora!
- E eu tenho bola de cristal? Desenvolvemos o poder de nos comunicarmos por
telepatia?
Ele senta no sofá com a cabeça entre as mãos. Chora.
Ela se aproxima. Abraça-o.
- Eu não quero mais isso. Não assim.
- Então vem aqui que a gente faz de outro jeito.
Ela tira o vestido e se deita no chão. Está só de lingerie.
Preta. Contrastando lindamente com a sua pele muito branca. Olha-o, provocante.
Ele a fita com um olhar sofrido. Apanha seu paletó no espaldar de uma
cadeira próxima à sala. Bate a porta sem olhar para trás.
E desce pelas escadas, desnorteado. Chora copiosamente, prometendo a si mesmo,
pela décima quarta vez ser essa a última vez que ele tolerou as
inconstâncias e perversões dela e que nunca mais a procurará.
Nunca mais.
No dia seguinte, eles jantam juntos e apaixonados no mesmo restaurante de costume,
o preferido dele:
- Que bom que você parou com aquela bobagem.
- Bobagem não... E saiba que foi a última vez. A última.
- Sim, claro. A última...
Ela sorri e dá-lhe um beijo.